Dilma explora crise de abastecimento de água em São Paulo em programa de TV

Publicado em 20/10/2014 08:11
por Jeferson Ribeiro; Edição de Cesar Bianconi, da Reuters

BRASÍLIA (Reuters) - A propaganda eleitoral de TV da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) explorou neste domingo a crise de abastecimento de água em São Paulo, numa tentativa de desgastar a gestão do PSDB no governo estadual e ligando o problema atual ao racionamento de energia de 2001, quando os tucanos governavam o país.

"É preocupante e também muito triste saber que os brasileiros que vivem em São Paulo, Estado mais rico do país, estão passando por uma crise de falta de água sem precedentes na sua história", diz a presidente na abertura do programa.

"É preocupante porque o que afeta São Paulo, claro, afeta todo país, triste e muito triste porque estamos falando de um problema alertado há dez anos", prosseguiu Dilma.

Ela argumenta que está abordando a crise de abastecimento de água pelo "sofrimento do povo paulista" e para "fazer chegar até você mais um exemplo do modelo de gestão tucana."

O Estado de São Paulo enfrenta em 2014 a pior crise hídrica dos últimos 80 anos. Temperaturas mais altas que a média do início do ano aliadas com chuvas fracas do período não recuperaram as represas para o atual período do inverno, quando a pluviosidade normalmente é significativamente menor.

O governador tucano Geraldo Alckmin, que foi reeleito no primeiro turno, não optou até agora pelo rodízio de água na região metropolitana de São Paulo, porém várias cidades do interior paulista, como Bauru e Mauá, estão decretando racionamento de água.

Após o narrador dizer que o problema poderia ter sido evitado pelos governos tucanos, Dilma volta a falar e diz que tem tentando ajudar o governo estadual para fazer obras para melhorar o sistema hídrico, mas o governador teria rejeitado.

"O presidente só pode agir se o governador pedir e autorizar essa parceria", diz Dilma. "O governo de São Paulo precisa mudar de atitude", prossegue. A presidente diz que está disponível para o governo tucano 1,8 bilhão de reais na Caixa Econômica Federal.

Após apresentar documentos que mostram alertas de órgãos estaduais para o problema de abastecimento de água, o narrador diz que mesmo assim a Sabesp, estatal do Estado responsável pelo sistema de abastecimento de água, distribuiu lucro a acionistas. 

"Nos últimos dez anos a Sabesp, empresa controlada pelo governo estadual, distribuiu mais de 4 bilhões em lucros para seus acionistas, inclusive no exterior", diz o narrador.

"Veja se isso não é a cara dos governos tucanos, boa parte do dinheiro das contas de água foi parar no bolso dos grandes investidores, ao invés de beneficiar a população paulista", prossegue.

O programa também faz ligação com o problema atual em São Paulo com o racionamento de energia que assolou o país em 2001, durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso.

"Hoje vivemos uma seca muito pior que 2001, mas graças às obras de energia realizadas por Dilma o país não sofreu nenhum risco de racionamento", diz o narrador.

AÉCIO

Já o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, apresentou um programa com tom mais emotivo, mostrando depoimentos de familiares sobre suas qualidades de bom pai, irmão, filho e marido.

"Estamos iniciando hoje a última semana da campanha eleitoral. Quero agradecer a você e à sua família pelas manifestações de afeto que tenho recebido", diz Aécio, ao lado da sua esposa, Letícia.

"Juntos cada um de nós com nossas famílias vamos no próximo domingo dar juntos um novo e importantíssimo passo para um Brasil que seja mais digno e mais justo como todos nós brasileiros merecemos", continua o tucano. "Eu estou pronto e a decisão está na sua mão", concluiu.

EM VEJA, OPINIÃO DE REINALDO AZEVEDO:

A candidata Dilma conta mentiras sobre SP no horário eleitoral; pior: ela o faz falando em nome da “presidente“. É o fim da picada!

O PT obteve em São Paulo um dos piores resultados eleitorais de sua história. Alguns números: o governador Gerado Alckmin (PSDB) venceu em 644 dos 645 municípios do Estado e em 54 das 58 zonas eleitorais da capital. Aécio ganhou em mais de 80% das cidades. José Serra bateu Eduardo Suplicy com 80% a mais de votos. O Estado tem o maior eleitorado do país. No desespero, os petistas decidiram investir de forma boçal em São Paulo. O pânico se explica: em Minas, Aécio já inverteu o placar e está na frente. Então vamos lá. É normal o PT se esforçar para conquistar votos entre os paulistas e paulistanos? Claro que sim! O que não é aceitável é mentir.

O horário eleitoral do PT decidiu explorar a crise hídrica. E se assistiu a um espetáculo grotesco de mentiras e de degradação de uma instituição: a Presidência da República. Vamos ver. Dilma deu a entender que a falta de água é generalizada, o que é falso. Por incrível que pareça, a propaganda petista não tocou na seca histórica que colhe o Estado. A candidata do PT contou uma mentira ao afirmar que o governo do Estado recusou ajuda oferecida pelo governo federal — isso simplesmente não aconteceu, e desafio aqui o PT ou o governo federal a provar o contrário. A mentira é grave porque foi contada em nome da presidente. Já chego ao ponto.

Dilma foi adiante e disse que seu governo autorizou o uso dos dois volumes estratégicos. Errado! Uma das autorizações tem de ser dada pela ANA — Agência Nacional de Águas. A ANA é, ou deveria ser, um órgão de Estado.

A impostura não parou por aí. O horário eleitoral do PT acusou a Sabesp — que é uma empresa com ações na Bolsa, felizmente — de distribuir dividendos em vez de investir na água. O que uma coisa tem a ver com outra? Nada! A Petrobras vive um dos piores momentos de sua história. Por que Dilma não dá um murro na mesa e proíbe a distribuição de dividendos? Respondo: porque aí levaria a Petrobras à bancarrota.

Mais: a candidata, falando como presidente, se jactou de ter investido R$ 1,8 bilhão no sistema de água de São Paulo. Vamos ver se o número é esse. Ainda que seja, cumpriu uma obrigação. O Brasil arrecada 33% dos seus impostos no Estado. Não é favor nenhum.

Mentira antiga
A propaganda eleitoral mente também quando afirma que, em 2001, o Rio Grande do Sul não sofreu com a crise energética em razão da competência de sua então secretária de Energia, Dilma Rousseff. O Estado ficou livre da crise porque não sofreu com a estiagem e porque o seu sistema não estava interligado com o resto do país. Isso é apenas matéria de fato. Ou por outra: por incrível que pareça, o Rio Grande do Sul se isolou da crise de energia em razão da incompetência de Dilma.

Degradação
Mas o pior mesmo foi a “candidata” Dilma falar como a “presidente” Dilma, e a presidente, como a candidata. Quando Dilma diz, na primeira pessoa, que fez isso e aquilo pelo Estado, hostilizando o atual governador de São Paulo, reeleito por esmagadora maioria, desrespeita a instituição da Presidência e a vontade dos eleitores.

Eu não sei se Dilma ganha ou perde. Tomara que perca! É preciso que o titular da Presidência da Presidência volte a conferir dignidade ao cargo.

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
Reuters + VEJA

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