No EL PAÍS: Preço do petróleo cai ao nível mais baixo desde outubro de 2009

Publicado em 01/12/2014 17:32
Barril do tipo Brent mantém tendência de baixa e despenca para 67,92 dólares. A queda dos preços do petróleo deixa os combustíveis mais baratos, mas eleva o risco de deflação (Editorial do El País desta segunda-feira)

O preço do petróleo tipo Brent, que serve de referência no mercado europeu, caiu na segunda-feira a 67,92 dólares, menor valor em cinco anos. A tendência reflete a reação do mercado à decisão da OPEP, tomada na quinta-feira, de manter os atuais níveis de produção, em torno de 30 milhões de barris por dia – uma decisão que, segundo analistas, visa a manter uma oferta abundante no mercado global, de modo a derrubar a cotação e forçar os EUA a interromperem seus investimentos em formas não convencionais de produção petrolífera. Até agora, no entanto, os países mais afetados pela queda nos preços são os próprios integrantes da OPEP e a Rússia, cuja moeda, o rublo, continua se depreciando.

Além da queda do Brent, que nesta segunda-feira atingiu seu valor mínimo desde outubro de 2009, houve também uma desvalorização do petróleo tipo Texas, produto de referência nos Estados Unidos, cuja cotação caiu para 64,10 dólares. Ambos os produtos registraram queda de 18% em novembro.

As demais commodities sofreram reflexos dessa desvalorização. O ouro está cotado nesta segunda-feira a 1.163 dólares por onça (28,34 gramas), 4 dólares a menos do que na sexta-feira passada, depois de chegar a um mínimo de 1.142 dólares. A prata caiu de 15,30 dólares por onça para 14,86 dólares; e o cobre está cotado em 282 dólares, menor valor desde 2010.

“É muito provável que essa pressão nos preços permaneça enquanto não houver nenhum fechamento [de projetos petrolíferos nos EUA]”, disse à agência Bloomberg o analista Michael McCarthy, da consultoria CMC, de Sydney. Mas o ministro iraniano do Petróleo, Bijan Namdar Zanganeh, salientou na sexta-feira que os preços atuais não garantem uma redução significativa na produção norte-americana. Segundo as estimativas da Agência Internacional de Energia, a produção na jazida de Bakken, em Dakota do Norte, permanecerá rentável enquanto o preço do petróleo permanecer acima dos 42 dólares por barril.A queda do petróleo repercutiu nas divisas dos países exportadores. O rublo perdeu 2,5% de seu valor com relação ao dólar, que chegou a ser cotado a 51,66 rublos, um novo mínimo histórico para a moeda russa. Também a divisa nigeriana, a naira, e os títulos públicos venezuelanos continuam ampliando as quedas acumuladas na semana passada. O Iraque, segundo maior produtor da OPEP, corrigiu para baixo suas previsões relativas ao déficit público de 2015.

A China, enquanto isso, está aproveitando os preços baixos para ampliar suas reservas petrolíferas. Segundo a consultoria inglesa Energy Aspect, as importações do gigante asiático poderão aumentar em 700.000 barris diários em 2015.

EDITORIAL

A ameaça do óleo

O preço do petróleo caiu com uma violência inusitada na complexa conjuntura econômica internacional e nas tensas linhas geoestratégicas no Oriente Médio e na Ucrânia. O barril de brent desvalorizou-se quase 30% desde junho por causa do efeito combinado de uma queda na demanda dos países industrializados (clima ameno, estagnação econômica, desaceleração do crescimento da China) e um excesso de oferta, propiciado pela escalada da produção nos Estados Unidos graças ao fraturamento hidráulico e outras extrações em águas profundas. Mas o movimento que sacudiu os mercados é a decisão da Opep, com Arábia Saudita e Kuwait à frente, de aceitar uma tática de petróleo mais barato mantendo a produção.

A explicação é política. Se o barril se mantiver abaixo dos 80 dólares, o investimento em fraturamento hidráulico e em outras produções competitivas de petróleo convencional é menos rentável. Haverá em médio prazo um reajuste de mercado para corrigir o excesso de oferta. Além disso, é provável que sauditas e kuwaitianos calculem que a demanda se recuperará em 2015 e não haja muito sentido em cortar a produção. O caso é que esta decisão estratégia deve ser administrada com muito tato e em períodos estritamente controlados. Primeiro, porque uma expectativa de excesso de oferta leva a vendas precipitadas de petróleo e inicia um espiral de depressão que pode ser difícil de ser corrigido em um ambiente de excesso potencial de produção.

Mas também o petróleo barato inflige uma ferida profunda nas receitas petroleiras de países como Irã, Venezuela ou Rússia, complicando as suas sustentabilidades financeiras. Arábia Saudita e Kuwait podem sufocar os produtores que não sejam amigos, mas também existe o risco de quebrar o cartel por causa dessas tensões.

Os efeitos sobre a economia global são complexos e não podem ser enviados apenas com felicitações por causa do baixo preço da gasolina e da transferência de renda dos países produtores aos consumidores. Porque, além do fato de que os preços dos combustíveis nem sempre caem com a mesma velocidade do óleo, o barateamento persistente da gasolina e de outros combustíveis intensifica o risco de deflação: para a zona do euro, essa ameaça é mais grave que as vantagens que podem ser obtidas com o óleo barato. O cartel (Arábia Saudita e Kuwait) deve modular com precisão até onde está disposto a manter a estratégia de preços baixos. 

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Fonte:
EL PAÍS

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