Na FOLHA: "A recessão desce às ruas como lava, devagar, mas queima, esvazia lojas, desemprega..."

Publicado em 26/04/2015 04:09
O drama da votação do arrocho do ajuste fiscal começa só nesta semana..., POR VINICIUS TORRES FREIRE, ARTICULISTA DA FOLHA, na edição deste domingo

VINICIUS TORRES FREIRE

Governo zumbi, oposição lesada

Oposição não tem muita ideia do que fazer da crise do governo Dilma Rousseff e do país

AS OPOSIÇÕES andam dispersas. Diante de um governo zumbi, não sabem o que fazer, por falta de imaginação, mediocridade política e intelectual e devido ainda à costumeira desconexão popular, evidente mesmo quando dois terços do eleitorado querem ver a presidente pelas costas.

O governo anima-se. Gente do Planalto diz que haveria um "começo de refluxo" do desprestígio de Dilma Rousseff, baseada em "pesquisas" meio precárias.

Do Congresso às "ruas" e mesmo na oposição governista (PMDB), adversários de Dilma titubeiam, dividem-se e esperam que um urubu fatal pouse na sorte da presidente. Talvez não seja aposta lá tão arriscada, pois o governo dá tiros semanais no pé, tentando acertar a própria testa.

O PSDB da Câmara, agitado por uma direita asnática, quer apresentar pedido de impeachment nesta semana. Os "cabeças brancas", FHC e senadores, dizem que é "precipitação". Na verdade, alguns deles, "presidenciáveis", consideram que impeachment, agora, recheia apenas a empada de Aécio Neves, que por sua vez não sabe se vai ou fica. Ficando, como vai manter o fogo no governo e a "rua" próxima de si?

Por falar nisso, o braço tucanoide nas "ruas", o politicamente abobalhado Vem Pra Rua, parece sem direção. Ora bate-se contra a nomeação de Luiz Fachin para o Supremo e contra medalhas para João Pedro Stedile, do MST.

A ambição sôfrega levou Eduardo Cunha, presidente da Câmara, PMDB, a tropeçar e a bater cabeça com Renan Calheiros, presidente do Senado, PMDB, com o que por um breve momento deixaram de azucrinar Dilma. Michel Temer, vice-presidente, PMDB, amacia com cargos e boa conversa parte da oposição doméstica. Mas Cunha é ainda o nome da crise política, que, no entanto, não desabrochou.

Motivos para azucrinar a presidente não faltam. Note-se que o governo teve o lazer de anunciar como vitória o fato de que políticas incompetentes e roubança redundaram em perdas de R$ 51 bilhões para a Petrobras. "Página virada", diz Dilma, "vida nova", como se um espírito do mal tivesse baixado na empresa, como se não houvesse nem fosse preciso procurar responsáveis pela lambança horrenda.

Quem nomeou e manteve uma diretoria majoritariamente corrupta? Quem patrocinou investimentos doidivanas, perdulários e prejudiciais em refinarias e petroquímicas? Quem arruinou as finanças da empresa tabelando preços e aumentando custos por meio de políticas com cheiro de cadáver dos anos Geisel?

A recessão desce às ruas como lava, devagar, mas queima, esvazia lojas, desemprega: a primeira vez desde o século passado que se perdem empregos formais em massa. O povo vai se resignar? De qualquer modo, não há liderança para chamar a gente miúda para "as ruas", socialmente rachadas.

Estados e municípios, na pindaíba, ameaçam calotes e processos contra o governo. Apesar de tratativas de acordão e da disputa PF vs. MPF, há pústulas para estourar na Lava Jato e noutras infecções corruptas. O drama da votação do arrocho do ajuste fiscal começa só nesta semana. A baderna dos gastos de Dilma 1, a história das "pedaladas", vai render até junho, ao menos.

Sim, há uma trégua por inépcia da oposição. Mas há minas espalhadas por todo o terreno.

Fonte: Folha de S. Paulo

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