Mercados europeus se preparam para abalo depois de "Não" grego

Publicado em 05/07/2015 19:14
Grécia: vitória do 'não' gera festa e dúvidas...

LONDRES (Reuters) - Os mercados acionários e de dívida da Europa devem sofrer um forte abalo na segunda-feira depois que a população da Grécia rejeitou duros termos de austeridade previstos em um pacote de ajuda econômica ao país. Executivos do setor financeiro afirmam que a resposta do Banco Central Europeu é chave para se determinar o tamanho do contágio.

Muitos economistas, incluindo os do banco norte-americano JP Morgan, reconhecem que o resultado do referendo neste domingo vai provavelmente acelerar a saída da Grécia da zona do euro.

"Apesar da situação ser fluída, neste momento a saída da Grécia da zona do euro parece mais provável", disse Malcolm Barr, do JP Morgan, em relatório a clientes enviado neste domingo. Ele acrescentou que a exclusão grega do euro, que passou a ser conhecida como "Grexit", é o cenário base do banco.

"O 'Não' provavelmente significa saída do euro", disse o britânico Barclays.

Em negócios na região Ásia-Pacífico, o euro caía mais de 1 por cento contra o dólar e mais de 2 por cento contra o iene.

Apesar da desvalorização da moeda em si não ser prejudicial à economia da zona do euro, a reação de outros mercados de dívida no sul da zona do euro e o comportamento dos mercados acionários na segunda-feira serão uma melhor medida sobre o tipo de choque produzido pelo referendo grego.

Até sexta-feira, muitos investidores tinham assumido que o 'Sim' venceria o plebiscito.

A posição do Banco Central Europeu sobre se continuará a fornecer recursos emergenciais aos bancos gregos, fechados na semana passada e que estão reforçando controles sobre saques, será decisiva.

Fontes próximas do assunto afirmaram neste domingo à Reuters que o BCE continuará a financiar os bancos sob os níveis restritivos da semana passada.

Mas muitos bancos afirmam que o banco central precisa emitir um comunicado sobre medidas anticontágio da crise grega, talvez manifestando a possibilidade de acelerar ou expandir a política de aquisição de títulos conhecida como "quantitative easing" para acalmar os mercados.

"O BCE tem sido claro: se precisarmos fazer mais, faremos mais. Encontraremos os instrumentos necessários", disse Benoit Coeure, membro executivo do BCE, neste domingo.

Grécia: vitória do 'não' gera festa e dúvidas

 

Impasse entre Grécia e credores afeta população60 fotos

60 / 60
5.jul.2015 - Apoiadores do "Não" celebram resultado de referendo, neste domingo, em Atenas. A população do país, em uma decisão histórica, rejeitou o acordo com credores europeus por meio do voto democrático Leia mais Yannis Behrakis/Reuters

 

Com dois terços dos votos apurados, o "não" parece ser o vencedor do plebiscito deste domingo na Grécia, com a população rejeitando a adoção de mais medidas de austeridade como forma de obter mais ajuda econômica de credores como a União Européia e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

As urnas fecharam às 13h (de Brasília) e, segundo o Ministério do Interior grego, 61% dos votos foi para o "não" contra 39% votando pelo "sim". Antes mesmo do fim da apuração, dezenas de milhares de pessoas foram para a praça Syntagma, no centro de Atenas, para celebrar o resultado.

Em um pronunciamento na noite deste domingo, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, afirmou que não foi um voto contra a Europa, mas uma permissão para ele negociar uma solução viável para a crise do país e acrescentou que povo grego fez uma "escolha muito corajosa".

Tsipras afirmou ainda que o governo está pronto para voltar imediatamente para as negociações com os credores.

O partido do governo, o Syriza, fez campanha pelo "não, afirmando que as exigências dos órgãos internacionais para liberar mais ajuda econômica para o país eram humilhantes. E o resultado deste domingo mostrou que a maioria dos gregos optou por desafiar a pressão da comunidade internacional.

A campanha pelo "sim" afirmava que a rejeição dos gregos poderia significar que o país fosse expulso da zona do euro.

Algumas autoridades da União Europeia também disseram que a vitória do "não" poderia ser vista como uma rejeição completa da possibilidade de negociação com os credores.

Mas, autoridades do governo grego insistem que o resultado vai fortalecer sua posição e eles poderão chegar rapidamente a um acordo para a liberação de mais dinheiro.

E, o governo do país já afirmou que os bancos gregos devem reabrir nesta terça-feira.

O ministro da Economia grego, Yanis Varoufakis, afirmou que o resultado foi um "grande sim à uma Europa democrática".

Varoufakis disse que a Grécia será "positiva" nas negociações com os credores

'Governo popular'

Euclid Tsakalotos, o ministro do Exterior da Grécia, disse em entrevista ao canal de televisão local Star TV que duas coisas vão permitir que o país tente uma "solução que seja mais viável financeiramente" a partir do resultado da votação deste domingo.

"Primeiramente, o governo agora tem um novo mandato popular e a segunda é o último relatório (do FMI) que afirma que a dívida grega é insustentável", afirmou.

Há meses a Grécia estava em meio a uma negociação muito difícil com os credores internacionais até que, inesperadamente, o governo convocou um plebiscito no qual o povo do país teria que decidir se aceitava ou não as condições oferecidas.



Os bancos gregos foram fechados e os saques em caixas eletrônicos foram limitados a 60 euros por dia. O Banco Central Europeu se recusou a dar ao país mais empréstimos de emergência.

Segundo o correspondente da BBC em Atenas, Mark Lowen, a festa que tomou as ruas de Atenas com a vitória do "não" no plebiscito não deve durar muito tempo.

"Há uma fatia considerável da nação grega profundamente insatisfeita com o que aconteceu. E o governo terá que unir um país dividido. Mais do que isso, é preciso chegar a um acordo com a zona do euro, e rápido", afirmou.

"Os bancos gregos estão ficando (com os fundos) criticamente baixos e vão precisar de outra injeção de fundos de emergência do Banco Central Europeu."

Mas, segundo Lowen, a volta à mesa de negociações não deve ser fácil, já que o ministro da Economia grego, Yanis Varoufakis, até chamou a estratégia da zona do euro de "terrorismo".

"E com a crise nos bancos e a receita tributária caindo em meio à instabilidade, a economia grega se enfraqueceu de novo, tornando um acordo ainda mais difícil."

Para o correspondente da BBC a retórica dura da zona do euro vai continuar. Mas agora o governo da Grécia terá uma resposta pronta: "colocamos suas exigências frente a um teste democrático - e elas foram rejeitadas".

Bancos

O ministro da Economia grego deve se reunir com banqueiros do país ainda neste domingo. O ministro de Estado, Nikos Pappas, um aliado próximo do primeiro-ministro, Alexis Tsipras, afirmou que é "absolutamente necessário" restaurar a liquidez aos bancos agora que o plebiscito já passou.

O ministro do Exterior italiano, Paolo Gentiloni, postou no Twitter que "Agora o certo é começar a tentar novamente um acordo. Mas não há como escapar do labirinto grego com uma Europa que está fraca e não está crescendo".

O ministério da Economia da Bélgica afirmou que a porta continua aberta para retomar a negociação com a Grécia, "literalmente, dentro de horas".

O presidente da França, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, devem se encontrar em Paris nesta segunda-feira para discutir a situação, segundo informações do gabinete de Hollande.

A Grécia deve mais de R$ 1 trilhão e, na semana passada, não fez o pagamento de uma parcela de 1,6 bilhão de euros ao FMI, o que oficialmente bloqueou o acesso do país a mais fundos.

A Comissão Europeia, um dos membros da "troika" de credores junto com o FMI e o Banco Central Europeu, queria que o governo grego aumentasse os impostos e cortasse os gastos com benefícios à população para conseguir pagar suas dívidas.

Mas, o governo liderado pelo Syriza, que foi eleito em janeiro graças à sua plataforma contra as medidas de austeridade, não concordou com estes termos.

Os opositores do governo grego e alguns eleitores do país reclamaram que a questão na cédula do plebiscito não estava clara. Autoridades da União Europeia disseram que a o que estava na cédula se aplicava a termos de uma oferta que nem estava mais sendo negociada.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Confederação de municípios estima prejuízos acima de R$ 4,6 bi no RS
Enchentes afetam abastecimento de combustíveis no RS; refinaria da Petrobras "sem acesso"
BC suspende medidas executivas contra devedores do Rio Grande do Sul por 90 dias
Brasil diz que fechou acordo com Paraguai sobre tarifa de Itaipu
Ações europeias fecham em picos recordes com impulso do setor financeiro