"O acordão fracassou!!!". Em 20 dias tudo se desmanchou...

Publicado em 24/08/2015 05:36
Na FOLHA DE S. PAULO e em VEJA.COM (edição desta segunda-feira)

análise de VINICIUS MOTA, da folha de s. paulo:

Catarse republicana

SÃO PAULO - O acordão fracassou. A tentativa de conchavo feita nos gabinetes escurecidos entre integrantes do meio empresarial e do político, para dar sobrevida tutelada à Presidência Rousseff, arruinou-se com menos de 20 dias de existência.

A manutenção da pressão nas ruas contra Dilma, o distanciamento de Michel Temer e do PMDB em relação ao Planalto e a certeza de que a economia e o petrolão produzirão novas avarias na nave presidencial e petista inviabilizaram o acerto.

O acordão, velho cacoete elitista de arrancar privilégios de governos fracos, não pode ser financiado por um Tesouro em farrapos. Não pode, sobretudo, ser justificado à luz do que ocorre hoje no Brasil.

Esta sublime catarse republicana não permite que prospere a prática das conversas ao pé do ouvido, das mensagens assopradas, dos recados de gente influente e dos gestos de associações empresariais financiadas à moda varguista. Os atalhos à aplicação impessoal da lei e à ação mecânica das instituições de controle, se não foram de todo bloqueados, estão muito mais custosos de ser trilhados.

Há uma crise institucional, mas não no sentido que políticos desesperados para salvar o próprio pescoço balbuciam por aí. A crise é de afirmação, quiçá de consolidação, das instituições da República.

Eduardo Cunha poderá livrar-se das fundadas acusações contra ele apenas pela via regular do contraditório e do devido processo legal. As contas da campanha de Dilma Rousseff à reeleição não escaparão de escrutínio, assim como as manobras que permitiram ao Executivo federal uma soberba gastança no ano eleitoral de 2014.

Se alguém pensa que se controla o desfecho político dessa eclosão multicolorida de atuações institucionais, está iludido e engana seus interlocutores. O futuro, mesmo o mais próximo, está aberto. A única certeza que pode ser dita sobre ele é que se desenvolverá em praça pública.

Acordão, arranjão e outros aumentativos proibidos para decentes dão com os jumentos n’água. O país está em transe, mas também em trânsito! (por REINALDO AZEVEDO)

Deu tudo errado. O acordão costurado na semana retrasada deu com os jumentos n’água. A petezada e seus colunistas amestrados ainda não perceberam que o país está em transe, mas também está em trânsito. Os que vão para as ruas cobrar o cumprimento das leis já não aceitam mais os golpes de gabinete. Querem um diagnóstico realista? A situação de Dilma nesta segunda é pior do que na segunda passada. Os petistas já apelam à fala serena dos banqueiros contra o impeachment — certamente não é contra essa “burguesia” que Vagner Freitas, o futuro guerrilheiro pançudo, pregou no Palácio do Planalto. Então vamos ver.

TCU
Não! Até agora, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado e, por enquanto, poupado por Rodrigo Janot, procurador-geral da República, não conseguiu virar o placar no Tribunal de Contas da União. Por enquanto, a votação a haver está contra o governo, e a má notícia é que um ministro que iria aprovar as contas decidiu que vai rejeitá-las. Enfrenta pressão até da família e acha que um voto favorável à lambança fiscal não seria uma boa herança para os netos.

Prevalece, por ora,  a liminar concedida por Roberto Barroso, do STF, que, estranhamente, considerou constitucionais as aprovações, votadas pela Câmara, das contas dos outros presidentes, mas exige que as de Dilma sejam apreciadas em sessão conjunta, do Congresso, de sorte que seria o por-enquanto-governista Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, a comandar a votação, não o oposicionista Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Cunha recorreu com um agravo regimental. O plenário do Supremo vai decidir.

TSE
Gilmar Mendes, ministro do STF e do TSE, mandou Rodrigo Janot — e a Polícia Federal — fazer o que até agora o procurador-geral não fez: investigar o eventual uso, na campanha de Dilma Rousseff, de dinheiro sujo da roubalheira perpetrada na Petrobras. Ricardo Pessoa, dono da UTC, disse ter sido constrangido por Edinho Silva, então tesoureiro da petista e hoje seu ministro, e doar R$ 7,5 milhões para a campanha. Essa apuração nada tem a ver com a petição encaminhada pelo PSDB ao tribunal, acusando a campanha do PT de abuso de poder político e econômico e de receber dinheiro do propinoduto da estatal.

A propósito: Luiz Fux, que pediu vista, suspendendo a votação da admissibilidade do processo, disse que entrega seu voto nesta semana. O placar estava 2 a 1, com um terceiro já certo, em favor da abertura da investigação. Bastam quatro votos.

PGR
A resistência de Rodrigo Janot em enviar ao Supremo ao menos um pedido de inquérito para investigar as atuações de Dilma e de Edinho Silva já causam estranheza que se estende bem além do círculo de aliados de Eduardo Cunha. Ninguém entendeu o que explicação não tem: ainda que Cunha e o senador Fernando Collor (PTB-AL) venham a ser condenados, não faz sentido que tenham sido os primeiros denunciados num escândalos que tem o PT como epicentro. Também não escapou a ninguém que a dupla se opôs, e pouco importa se por maus motivos, publicamente ao procurador-geral.

Informação adicional: entre procuradores, cresce o desconforto com a demora em oferecer a denúncia, que consideram forçosa, contra Renan, que começou a ser investigado, note-se, antes de Cunha. Não causa menos espécie a resistência em deixar claro que, definitivamente, nada há contra o senador tucano Antônio Anatasia (PSDB-MG). Que se diga: a inclusão de seu nome da lista de investigados já foi uma notável aberração. Não porque ele seja tucano, mas porque, contra ele, não havia nem mesmo indício consistente.

Quando alguém lembra que o senador tucano foi investigado, mas não o petista Edinho Silva, fica muito difícil justificar uma coisa e outra e uma coisa em face da outra.

Sem exército
Embora os petistas tenham cantado vitória, a manifestação de quinta-feira evidenciou a pindaíba do campo governista. Não havia povo na rua, e os companheiros sabem disso. Não fosse a forte mobilização dos aparelhos, vestindo a máscara de “movimentos sociais”, os protestos a favor do governo teriam sido um insucesso retumbante. Para piorar, parte considerável dos que foram às ruas atacaram de modo determinado aquela que é a pauta do próprio governo.

Ou, na fala de um governista que ainda conserva alguma lucidez: “No dia 16, Joaquim Levy quase nem foi lembrado pelos que pediam o impeachment de Dilma. Quanto o criticaram, foi por causa da elevação de impostos, Na nossa marcha, ele acabou sendo um dos alvos principais. Aí fica difícil…” É claro que fica!

E tanto pior se torna porque os indicadores econômicos apontam para uma piora da recessão. Recente “Carta à Nação” de entidades influentes como OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), CNI (Confederação Nacional da Indústria), CNT (Confederação Nacional do Transporte) e CNS (Confederação Nacional da Saúde) caiu no vazio. O texto prega uma certa união da nação em torno de, bem, em torno de nada… Era só uma chamamento contra o egoísmo, como se o país estivesse no divã, encalacrado entre “ser” e “não ser”. Nada disso! Pede-se o fim da roubalheira e um governo livre da força política que a transformou numa categoria política e de pensamento.

Acordão uma ova! A negociação terá de se dar com os milhões que foram e vão às ruas e com os dois terços que hoje querem o impeachment.

Os regabofes de Brasília não vão silenciar o país.

Por Reinaldo Azevedo (em veja.com)

 

Desemprego em alta

Indicadores do mercado de trabalho refletem de forma preocupante a crise econômica; famílias de baixa renda sofrem mais

O mercado de trabalho sucumbiu ao caos da economia. A velocidade de fechamento de postos e de alta do desemprego é cada vez maior –e não há evidência de que vá diminuir em prazo curto.

No mês de julho, a taxa de desocupação passou de 6,9% para 7,5%. Verdade que o salto decorre mais do aumento de pessoas em busca de emprego do que de demissões, mas preocupa mesmo assim. Em um perspectiva mais ampla, a ocupação também se reduz.

Quanto a isso, os dados do Caged (que apura a geração líquida de empregos formais) não deixam dúvida. Em julho, a perda foi de 158 mil vagas, o pior resultado da série histórica; nos últimos 12 meses, chega a quase 780 mil.

Até 2014, o emprego se mantinha elevado, em notável dessintonia com o quadro depressivo que se anunciava. Talvez as empresas tivessem esperanças de que a incerteza seria passageira, vinculada ao clima eleitoral. É normal que procurem evitar variações bruscas em sua folha de pagamento –e custa caro contratar, treinar e demitir.

A incerteza permaneceu, a esperança se dissipou. O setor privado agora se movimenta no sentido inverso; uma vez iniciada a tendência de demissões, será difícil estancá-la, quanto mais revertê-la.

Na última década, a queda da informalidade e a melhora da qualidade de emprego foram essenciais para consolidar os ganhos de renda e consumo. São parte do enredo da criação da nova classe média, que começa a ser modificado.

A informalidade volta a crescer, os empregos se tornam precários, e as famílias, sobretudo de baixa renda, mudam de comportamento.

Um exemplo está na população jovem. Uma das razões para o desemprego ter-se mantido baixo nos últimos anos mesmo quando a economia já patinava foi a redução do contingente de pessoas em busca de trabalho na faixa de 15 a 24 anos. De 2005 a 2013, foram cerca de 4 milhões a menos.

Isso pode ter ocorrido pela melhoria de renda do resto da família, o que permitiu aos jovens buscar outras atividades –inclusive se manter por mais tempo nos estudos. Quando o orçamento aperta, talvez por alguém ter perdido o emprego, tudo muda.

Não por acaso, o maior aumento da desocupação se dá justamente entre os jovens. Se em julho de 2014 apenas 12,9% estavam desempregados, agora são 18,5%.

Esse contingente, mas não só ele, retorna ao mercado de trabalho no pior momento. Por isso, a desocupação cresce de forma acelerada: 9,4% no mês passado e nada menos que 56% no ano.

A tragédia dos erros e da arrogância do governo Dilma Rousseff (PT) na gestão da economia recai sobre os mais vulneráveis e põe a nu a ficção a que o país foi submetido.

VALDO CRUZ

Vítima da sinceridade

BRASÍLIA - "Eu acho que o meu problema foi ter sido honesto demais. Ensaiei aquela fala, porque sabia da sua importância e não queria errar. Meu objetivo era fazer um chamamento pela unidade do país."

Foi assim que o vice-presidente Michel Temer comentou, exatamente uma semana depois, sua polêmica frase na qual disse que o Brasil precisava de "alguém que tenha a capacidade de reunificar a todos".

Desde aquele episódio, o peemedebista sente que o clima não foi o mesmo para ele dentro do Palácio do Planalto. Piorou e muito.

Naquele dia, recostando-se na cadeira, Temer disse a interlocutores que falou pensando em ajudar o governo e o país numa hora de elevada temperatura da atual crise.

Com um certo alívio, recorda-se que avisou à presidente, momentos antes, que daria uma declaração em nome da unidade do Brasil.

Reconheceu, ali, que errou por ter sido sincero demais. Foi traído pela honestidade ao dizer em público o que todos estavam comentando nos bastidores, inclusive Lula –que mais tarde o elogiou pela fala.

A partir dali, o cristal trincou. Petistas viram em sua frase uma conspiração contra a presidente Dilma, de alguém que se apresentava como o "cara" para unificar o país.

Tal avaliação deixa amigos do peemedebista bem irritados. Um deles diz que ele sempre foi leal à presidente Dilma Rousseff, apesar de ela nem sempre dar motivos para tal.

Sobre a tese da conspiração, o fiel escudeiro afirma: "Ou você não pensa em algo assim, que é o caso do Michel, ou, se pensa, nunca diz".

Enfim, o vice-presidente está com um pé fora da função de articulador político. Seu grupo avalia que o Planalto, depois do ajuste fiscal aprovado, voltará a ser tratado como antigamente, como intruso no ninho.

Um grande equívoco. A crise está longe de ser superada. Sem o apoio do PMDB, ela só vai piorar. O desfecho sobre a decisão de Temer está nas mãos da presidente. A conferir.

PMDB e Planalto atribuem desgastes do governo a Levy

Ministro coleciona atritos por tentar barrar gastos que acabam sendo feitos

Ele barrou R$ 500 mi de emendas, mas depois cedeu; o mesmo ocorreu com a meta do superávit e o 13º dos aposentados

NATUZA NERY ANDRÉIA SADIDE BRASÍLIA

Na iminência de perder o vice-presidente Michel Temer como titular da articulação política, o governo e o PMDB passaram a atribuir parte dos recentes desgastes com o Congresso ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Na avaliação do partido e do Palácio do Planalto, Levy está "esticando a corda" e prejudicando o esforço do Executivo de recuperar alguma estabilidade no Congresso. Muitos afirmam que o ministro gera o desgaste, mas, depois, é obrigado pelas circunstâncias a recuar, arranhando sua credibilidade.

Segundo relatos à Folha, três episódios ajudaram a tumultuar a convivência de ministros políticos com o chefe da equipe econômica. No mais recente, o titular da Secretaria de Aviação, Eliseu Padilha –no comando da distribuição de cargos e verbas parlamentares ao lado de Temer– bateu boca com Levy.

O motivo era a liberação de R$ 500 milhões em emendas, medida considerada crucial à estratégia de amenizar a rebelião de partidos aliados.

A Fazenda barrou o repasse. Padilha reagiu: "Não vou recuar na minha palavra", disse para Levy, em uma discussão tensa que logo repercutiu na Esplanada.

A confusão reforçou a pressão do PMDB para que Temer abandonasse o posto de negociador do governo. Motivo: falta de autoridade para exigir que Levy cumprisse um acordo ratificado pela própria presidente da República.

A decisão final é que o dinheiro sairá. Mas o estrago já foi feito. "Levy não pode interferir na competência da SRI (Secretaria de Relações Institucionais)", disse um ministro petista, referindo-se ao ministério acumulado por Padilha, responsável por atender às demandas do Congresso e, assim, viabilizar votações importantes para o governo.

Para o núcleo político da Esplanada, Levy joga errado. Coloca-se contra propostas do próprio governo, num primeiro momento, mas depois é obrigado a recuar.

Considerado politicamente inábil no PT e, agora, no PMDB, ministros de ambos os lados já começam a ironizar o título dado à Levy de avalista da política econômica, contestando a tese de que o país afundará caso ele deixe a Fazenda. "Ao menos iremos para o abismo com um fiador", brinca um ministro.

Em uma reunião recente com o Senado para discutir a Agenda Brasil, pacote anticrise do PMDB, o ministro ouviu críticas duras. "Levy, o teu tempo não é o da política. No dia que você conseguir arrumar a casa, a presidente terá de entregá-la a alguém de fora do governo porque já terá sido tarde", afirmou o senador Romero Jucá (PMDB-RR), segundo a Folha apurou.

Levy tem sido obrigado a recuar em seus embates. Ele até consegue travar medidas de aumento de gastos em um primeiro momento, mas é sempre vencido adiante. Foi assim com a redução da meta do superavit primário (economia para pagar juros da dívida). Ele queria algo próximo a 1,1% do PIB. O governo rebaixou para 0,15%.

O mesmo ocorreu com a antecipação de metade do 13º dos aposentados. Ele suspendeu o adiantamento, o que afetaria 32 milhões de pessoas, mas acabou sendo obrigado a rever sua posição.

Na semana retrasada, ele suspendeu negociações para aumentar o limite de endividamento dos Estados mesmo depois da presidente ter se comprometido com governadores. Agora, já fala em ceder. Em todos os casos, o Planalto amargou desgastes.

Procurado para comentar, Levy disse, por meio de sua assessoria, que também sofre com a falta de dinheiro.

"Apoio o ministro Padilha. Também estou frustrado. Frustrado porque falta dinheiro e não temos como produzir mais dinheiro, então é preciso realocar o que existe dentro dos ministérios. Estamos tentando fazer o máximo com o que temos", disse.

CLÓVIS ROSSI

Conheça o rei dos coxinhas

Ou a teoria conspiratória dos bolivarianos e sua rica coleção de uma tolice atrás da outra

Você aí, coxinha, já ouviu falar de Gene Sharp? Não? Não é possível: afinal, ele é o inspirador dos protestos que você anda fazendo.

Pelo menos essa é a teoria que os "bolivarianos" estão espalhando para explicar as mobilizações contra governos que se dizem "progressistas", como os da Venezuela, do Brasil e, mais recentemente, do Equador.

Sharp, como lembrou no sábado (21) o competente Fábio Zanini, é cientista político e autor de "Da Ditadura à Democracia", muito citado durante as revoltas da "primavera árabe".

Rafael Correa, presidente do Equador, desengavetou Sharp, acusando-o de inspirador dos recentes protestos, que ele chama de "golpe brando".

Começa com a mobilização nas redes sociais, passa para as ruas, e o governo acaba caindo.

O suposto "golpe brando" inclui, ainda, a difusão de boatos nas redes sociais. No caso do Equador, o rumor falava do fim da dolarização, que foi essencial para a estabilidade econômica do país e, por isso, goza de tanto prestígio que Correa a manteve, apesar de sua permanente retórica anti-norte-americana.

Segundo o relato da revista "América 21", porta-voz do "bolivarianismo", Correa pôs como exemplo "o que está ocorrendo na Bolívia, Brasil, Venezuela e Argentina, onde setores da oposição tratam de desconhecer governos que contam com respaldo popular provocando mal-estar com o apoio de meios de comunicação de massa".

Para quem gosta de teorias da conspiração, é um prato feito.

Pena que é uma coleção rematada de tolices.

Primeira tolice: nem Brasil nem Venezuela têm hoje governos que "contam com respaldo popular".

Segunda tolice: a recente mobilização no Equador não foi obra dos "coxinhas", mas, predominantemente, do movimento indígena e, nele, do Ecuarunari, assumidamente socialista, que controla 45% da Conaei, a confederação dos movimentos indígenas.

Como sabe qualquer pessoa com ao menos um neurônio, grupos socialistas não se pautam por cientistas políticos norte-americanos –nem os leem, aliás.

Terceira tolice: na "primavera árabe", na qual a obra de Sharp surgiu para a fama, não houve revolta contra governos com respaldo popular, mas um justo e legítimo levante contra tiranias obscenas.

No Brasil, sou capaz de apostar que nenhuma das pessoas que se mobilizaram contra Dilma Rousseff sabe quem é Gene Sharp.

Alguns querem o golpe no estilo tradicional, não um "golpe brando". Outros, a maioria, preferem o impeachment, que, estando previsto na Constituição, só pode ser chamado de golpe por energúmenos.

Na verdade, recorrer a uma teoria conspiratória é um recurso tão antigo como o mundo e serve para não encarar as deficiências de governos que se acham messiânicos mas estão acossados pelas ruas.

Que a esquerda tida por bolivariana se deixe fascinar por essa estupidez não é, em todo o caso, de causar admiração.

Ela idolatra um governante, Nicolás Maduro, que diz ter recebido o antecessor (Hugo Chávez) na forma de um passarinho.

Não é, pois, um problema ideológico e, sim, patológico.

 

A campanha de ódio contra os que pedem “Fora Dilma”. O caso do/da cartunista Laerte. Ou: A última da baranga moral!

Vejam esta charge.

Laerte - PMs - Fora Dilma

O cartunista Laerte Coutinho, como expressão política, é um farsante. E nem me refiro ao fato de ele ter decidido parar de se vestir de homem para ser baranga na vida. Fosse uma sílfide, sua ética não seria melhor. Não é a mulher horrenda que há nele que o faz detestável, mas o que há de estúpido.  E aí, meus caros, pouco importa como ele use os instrumentos com os quais o dotou a natureza.

Em 2012, esse farsante, que então se dizia bissexual e declarava ter uma namorada, foi flagrado usando o banheiro feminino de um restaurante. Estava, como se diz, montado. Uma mulher, segundo os dotes da natureza, sentiu-se incomodada. Especialmente porque estava no recinto com a sua filha, uma criança. Indagado se não era justo o incômodo já que, afinal, ele se dizia também atraído por mulheres, deu a seguinte resposta: “Não importa. Como é que elas se sentiriam com uma lésbica dentro do banheiro?”

Depende. A resposta parece esperta, mas é típica de um argumentador picareta. Em primeiro lugar, Laerte é homem, não lésbica. Em segundo lugar, ainda que alguns traços estereotipados (mas nem sempre) possam indicar o lesbianismo, uma hétero só poderia reclamar da presença de uma lésbica se fosse alvo de algum assédio. Em terceiro lugar, o exibicionismo certamente doentio de Laerte faz dele o mais famoso homem que se veste de mulher do país.

Na sua insaciável compulsão por mandar a lógica às favas — ele pensa mal não importa como esteja travestido —, afirmou ainda: “Eu sou uma pessoa transgênera e quero usar o banheiro feminino”. Laerte acredita que o fato de ele “querer” alguma coisa transforma essa coisa num direito. Mais: salvo demonstração em contrário, o banheiro feminino é reservado às mulheres, e a menos, então, que sejam consultadas, essa maioria não poderia ser submetida aos desejos da minoria “transgênera” — na hipótese, não comprovada, de que ele representasse a dita-cuja, o que também é falso.

Ocorre que esta falsa senhora transita num meio em que o único preconceito aceitável é não ter preconceitos, como se as escolhas que fazemos ao longo dos dias, das semanas, dos meses, dos anos e da vida não comportassem uma carga de saberes prévios e necessários à organização em sociedade. Mas nem vou me ater agora a esse aspecto. Registro apenas que um esquerdista como Laerte, a despeito de sua ignorância política amplamente demonstrada em suas charges (as que fazem sentido ao menos…), é uma figura icônica desses tempos em que tudo pode desde que seja visto como transgressão — ainda que não se saiba por que transgredir e com que finalidade. Em suma: o sujeito é esquerdista, gay, “transgênera” (seja lá o que isso signifique) e sempre tem, como disse Mencken, respostas simples e erradas para problemas complexos.

Na terça, dia 18, a Folha publicou a charge de Laerte que abre este post.

Para o homem-mulher que pretende usar o banheiro feminino porque se diz “transgênera” e que acusará o “preconceito” de qualquer um que ouse obstar os seus balangandãs entre vaginas, a sua generalização é insuportavelmente preconceituosa. Pior ainda: desta feita, é a minoria que está no poder — e Laerte pertence inequivocamente ao terreno dos que governam o país há 13 anos — ironizando a maioria que não está.  Associar as pessoas que pedem “Fora Dilma” a supostos policiais que praticam chacinas é duplamente doloso:
1 – porque atribui a milhões de pessoas que vão às ruas comportamento e escolhas criminosas;
2 – porque associa a Polícia Militar, como instituição, ao crime.

Vera Guimarães Martins, ombudsman da Folha — entre os melhores textos que já passaram pela função, diga-se —, escreveu a respeito neste domingo. Laerte se pronunciou, defendeu sua charge estúpida e produziu esta pérola:
“Muitos manifestantes tiraram selfies ao lado de PMs e as reproduziram fartamente nas redes sociais, transformando esse gesto num ícone de todas as marchas até agora. Essas pessoas não estavam confraternizando com soldados específicos –estavam demonstrando apoio a uma corporação que vem sendo apontada como uma das mais envolvidas em mortes de pessoas, no país (segundo esta Folha, no primeiro semestre, foram 358 mortes “em confronto”). Os recentes assassinatos apontam, segundo as investigações, para ação motivada por vingança, por parte de policiais. O que busquei foi juntar as pontas desses fatos sociais e estimular a reflexão.”

É asqueroso. Pessoas fazem, sim, selfies com policiais que estão sem máscara, de cara limpa, acompanhando pacificamente uma manifestação política de… pacíficos! De fato, demonstram seu apoio à instituição que responde pela segurança pública, não a eventuais assassinos que se acoitam na corporação. Afirmar — e notem que é isso que ele faz — que esses manifestantes estariam apoiando esquadrões da morte é delinquência intelectual. Mais: as investigações estão sendo conduzidas, entre outros entes, pela própria Polícia Militar.

Há mais burrices na fala da baranga moral: há mais de 50 mil assassinatos por ano no Brasil, e a Polícia Militar não está entre as que mais matam. É mentira! No caso, as mortes aconteceram em São Paulo, estado que tem hoje a menor taxa de homicídios do país.

A figura travestida de pensador ainda ousa: “Toda redução será, em algum grau, injusta”. É verdade. Mas Laerte não produziu só a “redução” inevitável de uma charge. A “trangênera” que participou de um evento no Instituto Lula no dia 16 de agosto, enquanto mais de 600 mil pessoas pediam o impeachment de Dilma, as associou a todas ao crime, à violência, e a execuções sumárias. No mesmo dia, naquele instituto, os “companheiros” faziam a defesa de petistas presos, flagrados com a boca da botija.

O homem que se finge de mulher associa manifestantes pacíficos a criminosos para que possa participar de um ato que, fingindo-se de pacífico, defende criminosos. Laerte é um fraude gênero. Laerte é uma fraude lógica. Laerte é uma fraude moral.

Mas que se note: ele não está só. Multiplicam-se os textos no colunismo que tentam associar os que pedem o impeachment de Dilma, ancorados na lei, à defesa da violência e da truculência, embora essas pessoas tenham promovido as três maiores manifestações políticas do país sem um único incidente. A pauta de uma minoria, que pede intervenção militar, é usada como exemplo do suposto perfil antidemocrático de quem sai às ruas. Não obstante, até agora, só duas lideranças com alguma projeção acenaram com confronto armado foram Vagner Freitas, presidente da CUT, e Guilherme Boulos, chefão do MTST. O assunto sumiu da imprensa.

Para encerrar
Quanto à tal “redução” que “será, em algum grau, injusta”, como ele disse, dizer o quê? Abaixo, seguem algumas “reduções” sobre os judeus que eram publicados na imprensa alemã durante o nazismo ou que ilustravam livros escolares. A gente viu em que deu aquela “redução“: seis milhões de mortos. Vejam. Volto depois.

Ali está escrito:

Ali está escrito: “Não confie numa raposa em campo verde nem no juramento de um judeu”

Crianças judias, mais feias do que as arianas, passam em frente a uma escola de alemães. Fazem careta e hostilizam os infantes arianos. Um garoto judeu puxa a trança da alemãzinha...

Crianças judias, mais feias do que as arianas, passam em frente a uma escola de alemães. Fazem careta e hostilizam os alegres infantes. Um garoto judeu puxa a trança da alemãzinha…

Uma criança alemã explica como é o nariz de um judeu, que se parece com um

Uma criança alemã explica como é o nariz de um judeu, que se parece com um “6″, a pior nota que se podia tirar na Alemanha, o equivalente ao nosso “zero”

Laerte já viveu segundo o que é — um homem — e agora decidiu viver segundo o que não é: uma mulher.

Sugiro que tente experimentar o gênero humano… Quem sabe!

Não é o que parece. A aberração aqui é de natureza intelectual

Laerte vestido de Laerte. A aberração aqui não é óbvia: é intelectual

Por Reinaldo Azevedo

 

Berreiro do PT não intimida as instituições. Gilmar Mendes manda Janot —  que, até agora, ignorou Edinho Silva e Dilma na Lava-Jato —  investigar contas da campanha da presidente

Os petistas e suas franjas nos ditos movimentos sociais — nada mais do que aparelhos do partido financiados com dinheiro público — insistem em chamar de golpe o cumprimento das leis. Ainda que não se conformem, terão de prestar contas ao Estado de Direito. E não há acordão ou arranjão que possam impedi-lo. Até agora, que se saiba, Rodrigo Janot, procurador-geral da República, não demonstrou curiosidade em investigar a ação do hoje ministro Edinho Silva (Comunicação Social) como tesoureiro de campanha de Dilma Rousseff à reeleição, embora, em delação premiada, seu nome tenha sido citado pelo empreiteiro Ricardo Pessoa como arrecadador de um megapixuleco.

Muito bem! Não dá mais para ficar assim. Quando menos, a investigação terá de ser feita. Gilmar Mendes, ministro do STF e membro do TSE, enviou documentos a Janot e à Polícia Federal recomendando a abertura de investigação criminal  para apurar se a campanha de Dilma recebeu dinheiro do propinoduto da Petrobras. Segundo o ministro, os indícios existem e ensejam a abertura de ação penal pública. Mendes determinou ainda que os dados sejam enviados à Corregedoria Eleitoral para a eventual detecção de irregularidades na prestação de contas do PT.

Aliás, entre os dados colhidos pela Operação Lava-Jato que o ministro usou para orientar a sua decisão, está o trecho da delação premiada de Pessoa, em que ele afirma ter doado R$ 7,5 milhões para a campanha de Dilma em 2014 por temer prejuízos em seus negócios na Petrobras. Quem negociou foi Edinho.

Atenção, essa iniciativa não pertence ao escopo do pedido de investigação da campanha de Dilma feita pelo PSDB, que acusa a campanha da presidente de abuso de poder político e econômico e, também, de receber dinheiro irregular, oriundo de corrupção na Petrobras. A admissibilidade da denúncia está parada no TSE. Luiz Fux pediu vista quando placar estava 2 a 1 em favor da abertura do processo. Um terceiro ministro já havia se manifestado pelo “sim” — bastam quatro votos para que a investigação seja aberta.

Mendes foi o relator da prestação de contas da campanha de Dilma, aprovada em dezembro com ressalvas. O ministro deixou claro, então, que manteria o processo em aberto para a averiguação de eventuais irregularidades. Observa ele: “É importante ressaltar que, julgadas as contas da candidata e do partido em dezembro de 2014, apenas no ano de 2015, com o aprofundamento das investigações no suposto esquema de corrupção ocorrido na Petrobras, vieram a público os relatos de utilização de doação de campanha como subterfúgio para pagamento de propina”.

Escreve ainda o ministro:
“Há vários indicativos que podem ser obtidos com o cruzamento das informações contidas nestes autos [...] de que o PT foi indiretamente financiado pela sociedade de economia mista federal Petrobras [o que é proibido por lei]. [...] Somado a isso, a conta de campanha da candidata também contabilizou expressiva entrada de valores depositados pelas empresas investigadas”.

O ministro aponta também uma série de inconsistências nos gastos de campanha. O segundo maior contrato, de R$ 24 milhões — só o marqueteiro João Santana recebeu mais — se deu com uma empresa chamada “Focal”, que tem como sócio um motorista.

O PT adoraria que o simples berreiro na rua mudasse a sua história. Mas não muda. Vai ter de responder perante o eleitor por tudo o que não fez e perante a lei por tudo o que fez.

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
blogs de veja.com + FOLHA

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