Em VEJA: BC interrompe série de elevações e mantém taxa Selic em 14,25% ao ano

Publicado em 02/09/2015 22:55
Decisão, anunciada na noite desta quarta-feira, era esperada pela maioria dos analistas e ocorreu por unanimidade (ECONOMIA, de VEJA.COM) + Reuters

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, em 14,25% ao ano. A decisão, esperada pela maioria dos analistas, foi anunciada na noite desta quarta-feira. O BC interrompe, assim, uma série de sete elevações consecutivas da taxa básica, iniciada em outubro do ano passado.

Os membros do Copom decidiram pela manutenção de forma unânime. "O Comitê entende que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016", disse o BC em nota distribuída logo depois da votação. O Copom informou que a decisão ocorreu sem viés, o que sinaliza nova manutenção na próxima reunião do comitê, marcada para os dias 20 e 21 de outubro.

As elevações em sequência da Selic ocorreram sob fortes sinais de pressão inflacionária - e o aumento da taxa básica é um dos instrumentos utilizados para tentar conter a disparada dos preços. Na pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC com instituições financeiras, os analistas preveem, em média, inflação de 9,28% para 2015 - muito acima do centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, de 4,5%.

Ainda que a decisão de hoje sobre a taxa Selic fosse esperada pelos analistas de mercado, havia quem não duvidasse de nova elevação nesta quarta-feira. A disparada do dólar, outro motor para a alta da inflação, ganhou corpo nesta semana depois que o governo apresentou uma proposta de orçamento para 2016 com rombo de 30,5 bilhões de reais. Nesta quarta-feira, o dólar fechou em alta de 1,95%, negociado por 3,75 reais, seu maior patamar desde dezembro de 2002. Em 2015, a valorização acumulada é de mais de 41%.

Já faz algum tempo que a elevação de juros não dá o que tinha de dar…

Já não era sem tempo! O Comitê de Política Monetária do Banco Central  (Copom) manteve a taxa Selic em 14,25%. Era o esperado. Agora, é aguardar para ver quando chega Godot, né?, vale dizer: quando a inflação começa a cair de forma consistente. A cada elevação de um ponto — e façam aí a proporção — da taxa, R$ 15 bilhões se somam à dívida pública.

É evidente que o aperto monetário, em regra, é bom remédio para combater a inflação. Quando esta nasce, no entanto, do desrepresamento de preços administrados e dos gastos públicos, o seu efeito é limitado. Até um determinado ponto — dada a disseminação da elevação desses preços administrados em quase toda a economia —, pode ter uma eficácia para impedir que a taxa de inflação dispare. A partir de certo ponto, e acho que este chegou já faz algum tempo, o único efeito da elevação dos juros é mesmo o indesejável crescimento da dívida pública.

Mesmo com os juros nas alturas, o Boletim Focus prevê que o ano de 2015 feche com uma inflação de 9,28%, mais do que o dobro do centro da meta, que é de 4,5%.

É claro que as medidas recessivas tomadas pelo governo não são a causa da melancolia econômica que vivemos, mas a consequência de uma cadeia de irresponsabilidades. O problema é que os remédios, independentemente dos culpados pelos males, podem ou não ter eficácia.

Uma eventual nova elevação dos juros seria absolutamente irrelevante para baixar a inflação e tornaria tudo mais difícil. Aliás, tenho as minhas dúvidas se as duas ou três últimas surtiram algum efeito, que não o negativo. Pareceram-me um caso típico de tentar inculcar confiança no mercado: “Olhem, aqui não brincamos em serviço; sabemos ser duros”.

O problema é quando esse esforço, que é imposto a toda a sociedade — e custa, entre outras coisas, desemprego —, pode ser anulado pela mais explícita incompetência e irresponsabilidade políticas, a exemplo do que temos visto nos últimos dias.

Como pode acontecer? É claro que a forte desvalorização do real também é um fator de pressão inflacionária. Vamos ver em que patamar se estabiliza e por quanto tempo. Eis outro elemento que incide no aumento de preços, sem que a elevação da taxa de juros se mostre um remédio eficaz.

A crise, já escrevi aqui dezenas de vezes, é de confiança, filha dileta da crise econômica e da crise política.

Por Reinaldo Azevedo

 

Na Reuters: BC interrompe ciclo de alta e sinaliza juros a 14,25% por período prolongado

 

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 14,25 por cento ao ano, em decisão unânime e amplamente esperada, interrompendo o ciclo de aperto monetário iniciado em outubro do ano passado e reforçando a sinalização de que a Selic permanecerá nesse patamar por um período significativo.

Em comunicado que repete o texto da reunião anterior, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou a necessidade de manter os juros nesse percentual por um "período suficientemente prolongado" para levar a inflação à meta no fim de 2016 e afirmou que a decisão aconteceu "avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos"

"O Copom permanece inclinado a continuar em compasso de espera no curto prazo, apesar dos recentes desenvolvimentos nos campos cambial e fiscal negativos para a inflação, já que eles podem ter sido parcial ou totalmente mitigados pelo cenário de deterioração das perspectivas para a economia e o mercado de trabalho", avaliou o economista do Goldman Sachs Alberto Ramos.

Pesquisa da Reuters mostrou que 29 de 30 economistas consultados previam que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deixaria a Selic inalterada.

O BC iniciou o ciclo de aperto em outubro passado e, de lá para cá, foram sete elevações na taxa básica de juros que somaram 3,25 pontos percentuais, levando a Selic para o maior patamar em nove anos, em uma tentativa de conter a aceleração da inflação.

O BC já havia sinalizado o fim do ciclo de aperto monetário, mas fizera alertas sobre a necessidade de manter-se vigilante em caso de desvios significativos das expectativas de inflação.

O discurso de atenção foi reforçado recentemente pelo diretor de Política Econômica do Banco Central, Luiz Awazu Pereira da Silva, ao afirmar no fim de agosto que a política monetária terá viés conservador por período prolongado e que é preciso "muita calma", "sangue frio", "paciência" e "perseverança" neste processo.

A economia brasileira está em uma situação difícil. De um lado, o país entrou em recessão, que deve se estender até o próximo ano, segundo expectativas do mercado.

De outro, a inflação em 12 meses se aproxima de 10 por cento e o dólar, que encarece os produtos importados, chegou ao nível mais alto em quase 13 anos nesta quarta-feira, pressionado pelas incertezas ligadas à China e pelas perspectivas mais nebulosas para as contas públicas.

Ao entregar a proposta de Orçamento de 2016 na segunda-feira, o governo previu déficit primário de 0,34 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), ante projeção de superávit de 0,7 por cento do PIB feita apenas um mês antes, levando especialistas a ampliarem as apostas de que o país pode perder o selo de bom pagador pelas agências de classificação de risco.

Apesar da escalada da moeda norte-americana, contudo, o BC segue enxergando a inflação cedendo com a Selic no atual patamar, o que, para economistas, demonstra que a autoridade vê um efeito compensatório vindo da fraqueza da economia.

"O BC quer entender qual componente é perene nessa deterioração e qual componente é temporário", avaliou o economista-chefe do Banco Besi, Jankiel Santos.

"Ele pode estar vendo uma recuada nesse patamar (do dólar) e eventualmente uma contribuição maior da desaceleração da atividade econômica sobre preços", acrescentou.

Depois da decisão do Copom desta quarta-feira, o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, manteve a estimativa de que o BC só cortará os juros a partir do segundo trimestre do ano que vem.

"Continuo vendo para abril, provavelmente, quando a taxa deve começar a cair por conta da desaceleração da inflação esperada", disse.

Em nota, o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, assinalou que a desvalorização acentuada do real, que reflete as incertezas domésticas e externas, pode acabar gerando desvios nas expectativas de inflação suficientes para fazer o BC ajustar os juros para cima. Mesmo assim, Goldfajn também vê a taxa básica de juros no patamar de 14,25 por cento pelo restante do ano.

"A inflação ancorada em prazos mais longos e os efeitos defasados do ajuste monetário acumulado dão conforto ao Copom para encerrar o ciclo de alta de juros e sinalizar juros estáveis para frente", disse.

(Reportagem adicional de Silvio Cascione)

Fonte: veja.com + Reuters

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