Petróleo já caiu 12% em 4 dias úteis do ano, mas no Brasil os combustíveis sobem de preço

Publicado em 07/01/2016 09:13

Os preços do petróleo tiveram o pior início de ano da história em 2016 com os negócios em Nova York. Após fechar o 2015 com queda de 30% no mercado internacional, os futuros da commodity testaram novas mínimas e já atuam abaixo dos US$ 33,00 por barril, ou próximos disso.

Nos primeiros quatro pregões deste ano, os valores já recuaram cerca de 12%, o que supera a baixa do mesmo período do ano passado de 8,7%, quando o mercado ainda se recuperava da decisão da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de continuar a produção sem reduzi-la mesmo diante de um mercado bem abastecido e com excesso de oferta.

Segundo especialistas ouvidos pela agência de notícias Bloomberg, esse cenário é quase três vezes pior do que o do início de 2009, quando o mundo todo era castigado por uma severa crise financeira. Se há um comparativo, este é feito com o início de 2007, quando as condições de um clima mais ameno nos Estados Unidos estimularam a produção e o aumento dos estoques por lá. Entretanto, nesse mesmo ano, a Opep se preparava para reduzir sua produção, o que, nesse momento, não há chance de acontecer. 

Gráfico da Bloomberg mostra o tumultuado início dos negócios com o petróleo em Nova York

O aumento da oferta no mercado mundial, os maiores estoques nos Estados Unidos e a maior tensão no Oriente Médio, principalmente por conta da recente crise entre Arábia Saudita e Irã são, segundo os analistas, os principais fatores que intensificam essa despencada dos preços. 

Há anos vêm sendo solicitada uma redução na produção por parte dos países participantes da Opep, mas sem ser atendida. E o rompimento das relações entre sauditas e iranianos faz com que um acordo para que essa decisão pudesse ser alterada fica, portanto, cada vez mais distante. 

Impactos

Para o Brasil, essa queda acentuada e preocupante nos preços do petróleo pode ter impactos ambíguos, como explica o economista Roberto Troster. "Para o país é ruim na medida em que temos menos receita sendo gerada, principalmente por já termos um déficit na balança comercial do petróleo", diz. No entanto, adiante, seria possível se observar uma redução nos preços dos combustíveis, o que exerceria menos pressão na inflação e resultando em, consequentemente, juros menores.

A economia nacional, porém, ainda está em um patamar tão frágil que a possibilidade desses efeitos se mostra distante e, no atual momento, se movimentando pelo caminho inverso. E o quadro se agrava em um momento em que o país tem uma crise não só financeira, como política. Dessa forma, o Brasil, mais uma vez não se beneficia dos impactos que podem ser positivos com essa derrocada do petróleo, a mais grave em 30 anos. 

E os impactos negativos podem se estender para outras nações na mesma situação, como é o caso da Rússia e da Venezuela, por exemplo. Na Rússia, outro importante país no quadro exportador de petróleo, as perspectivas de um subsídio do governo para estimular as exportações locais de trigo, por exemplo, pode não se efetivar, uma vez que as receitas geradas com o combustível são menores. "Essa é uma possibilidade", afirma Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting. 

Já na Venezuela, onde há uma instalada crise de abastecimento de alimentos em função de uma série de fatores, entre eles a crise política, a situação pode se agravar. Para o Irã, grande importador de milho do Brasil e potencial comprador de frango, a verdade se repete. 

"Os países importadores de petróleo estão ficando mais ricos e os exportadores, mais pobres. Daí os efeitos ambíguos", diz Troster. 

Assim, ainda diante da dubiedade desses impactos da baixa nos preços do petróleo, os grandes compradores mundiais poderiam destinar maior verba para a aquisição de alimentos enquanto se gasta menos com energia. "Os custos acabam sendo reduzidos de uma forma geral", afirma o economista. 

No caso da China, que segue como maior referência mundial na importação de commodities, o impacto é positivo, portanto, mas exige atenção. Como explica Vlamir Brandalizze, a redução no ritmo de crescimento da economia chinesa deve ser acompanhado de perto, no entanto, o último setor a sentir deve ser o de alimentos. E a queda do petróleo deve fortalecer ainda mais esse cenário. 

"A China ainda tem bastante fôlego para continuar crescendo na demanda por alimentos, e eles ainda temem a falta deles, não vão recuar. Em dezembro, os relatórios brasileiros de exportação de soja mostraram que as vendas em dezembro, mês em que o Brasil não vende muito, foram muito boas e grande parte desse volume foi para a China", diz o consultor. "E isso quer dizer que as compras que já são recordes devem continuar crescendo", completa. 

Para o produtor rural

Além do foco na demanda mundial por alimentos, principalmente por parte dos importadores de petróleo, os custos da produção também devem sentir os impactos e que, neste caso, são positivos.  

A commodity é base para a extração de fósforo e potássio, além de ser base para a produção de uréia. "Os fertilizantes, portanto, podem ter preços menores no mercado internacional. Isso poderia acontecer", diz Brandalizze. 

Com combustível mais barato - apesar desse reflexo ainda não ter sido observado no Brasil, o país segue na contramão do mundo - e a redução nos custos em diversos setores da produção, o investimento poderia se tornar mais atrativo e estimular um aumento da produção. 

"A questão principal é que quando seria possível dar um choque favorável de competitividade nessa economia (do Brasil), com uma redução dos custos, se vai na contramão dos demais países", explica o analista sênior da RC Consultoria, Thiago Custodio Biscuola.

Internamente, a nova conjuntura dos valores do petróleo adota um efeito contrário. Os custos vêm subindo vertiginosamente, principalmente, entre outros fatores, nos preços dos combustíveis, com o aumento até mesmo de sua carga tributária. A partir do início deste mês, o ICMS do diesel que havia sido reduzido para 12% em julho de 2015, voltou a ter a tarifa cheia de 17%. E a volta da CIDE para a gasolina ainda paira entre as medidas do ajuste fiscal que segue sendo discutido.

 

Preço da gasolina no Japão cai pela 10ª semana consecutiva

O preço médio da gasolina no Japão nesta semana foi cotado a 120.4 ienes. (por Portal Mie)

O preço médio da gasolina no Japão nesta semana foi cotado a ¥ 120.4 (valor do dia 4), ¥ 3.1 mais barato em relação à semana passada. Esta é a 10ª semana consecutiva que o preço da gasolina diminuiu.

De acordo com a ANN, em um posto de gasolina da capital, o preço da gasolina regular foi cotado a ¥ 106. Em junho do ano passado, neste mesmo posto, o preço da gasolina estava ¥ 141.

Essa redução de preço se deve à oposição de países da OPEP com a produção de óleo de xisto, o que ocasionou o excesso de oferta.

Porém esta mudança não é positiva apenas para os motoristas. A redução do preço da gasolina também trouxe impacto na produção de outros produtos. O morango é um deles.

O motivo disso é a diminuição não somente do preço da gasolina, mas de outros óleos também. O óleo utilizado para aquecer estufas foi cotado a ¥ 49 por litro, ¥ 31 mais barato que o ano passado. (https://www.portalmie.com/atualidade/2016/01/preco-da-gasolina-no-japao-cai-pela-10a-semana-consecutiva/)

 

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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