Na FOLHA: 'O PMDB não pode ser um capitão que abandona o navio', diz Kátia Abreu

Publicado em 12/03/2016 11:58
POR GUSTAVO URIBE, DE BRASÍLIA

Contra a declaração de independência do PMDB ao governo federal, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu (TO), lembra que o partido tem um compromisso com a administração de Dilma Rousseff e avalia que ele não pode ser dissolvido por conveniência momentânea.

Para ela, a sigla é sócia do governo tanto no bônus como no ônus e, por isso, a decisão de independência pode não ser compreendida pela população.

*

Folha - Chegou a hora do PMDB se tornar independente do governo no Congresso?
Kátia Abreu - É uma questão que deve ser avaliada com profundidade, porque às vezes uma atitude que alguns acham que pode agradar a população pode ter o efeito contrário e o tiro pode sair pela culatra. O PMDB não tem com o governo um acordo circunstancial, mas um acordo que nasceu de duas eleições presidenciais. Um partido que está há cinco anos em um governo em posição de destaque é sócio no ônus e no bônus. Mesmo com toda a rejeição que a presidente possa ter neste momento, acho que a população não compreenderia essa dissolução por conveniência momentânea. Não acho que é momento de ficar independente do governo. O PMDB não pode ser um capitão que abandona o navio na hora da tempestade.

Diante de denúncias de corrupção e cenário de recessão, por que o PMDB deve continuar apoiando o governo?
A presidente é uma pessoa correta e nada foi provado contra ela. Ela não participou e não fez conluio com tudo isso que aconteceu. Que os culpados e os investigados possam ser acusados ou absolvidos.

O vice Michel Temer está à frente do PMDB desde 2001 e deve ser reeleito novamente. A que se deve a falta de alternância de poder no partido?
O fato de não ter alternância é um ponto negativo, mas, como ponto positivo, a pessoa que está à frente do partido é distinta, correta, tem a admiração da sigla e o país conhece. Chegará o momento correto da substituição.

Por que o PMDB deve lançar candidatura própria a presidente da República em 2018?
É uma grande oportunidade para o partido, que tem bons nomes. Como o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o vice-presidente e o senador Roberto Requião, que também está pleiteando. Embora não concorde com suas ideias, o senador tem legitimidade de concorrer. As pesquisas estão apontando que há um cansaço por parte da população da disputa PT e PSDB. O PMDB é o maior partido do país e tem toda condição de ter um candidato próprio. Chegou a hora. 

A ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB)

 

Convenção do PMDB começa com gritos de 'Fora Dilma' e 'Fora PT

Por DANIELA LIMA

A convenção nacional do PMDB começou na manhã deste sábado (12) embalada pelos gritos da militância de "Fora Dilma" e "Fora PT". As manifestações contra o governo também marcaram a abertura dos discursos de dirigentes estaduais e setoriais da sigla.

O ato teve início por volta das 9h. A ala oposicionista do partido preparou uma carta única, assinada por deputados estaduais, federais, que prega o "afastamento imediato dessa desastrosa condução do país". "Temos que desembarcar do governo que não nos respeita nem considera", pede os oposicionistas do partido na carta.

  Renato Costa/Folhapress  
Convenção Nacional do PMDB começa em Brasília (DF)

Não houve, até o momento, um discurso de defesa do governo. O vice-presidente Michel Temer ainda não chegou ao local.

O PMDB decidiu deixar os microfones abertos para as críticas ao governo mas fez um acordo que prevê que os pedidos de rompimento serão decididos pela direção nacional do partido depois, em até 30 dias.

O ato do partido, no entanto, foi tomado por críticas à presidente Dilma Rousseff e convocações para as manifestações deste domingo (13).

"O que dizem as ruas neste momento?", questionou o ex-ministro Geddel Vieira Lima. "Elas ecoam as vozes dessa sala."

LÍDER

Em diversos discursos, Temer foi descrito como "o grande líder" da legenda. Geddel chegou a dizer que "o mesmo entendimento que gerou unidade" dentro do partido em torno da reeleição do vice ao comando nacional do PMDB, "é capaz de se organizar para dar um alternativa" ao país.

Outros dirigentes locais do PMDB pregaram que o partido tenha "coragem de deixar esse governo".

ROMPIMENTO

A convenção vem sendo classificada nos bastidores como "um aviso prévio"do PMDB à petista. Líderes da sigla afirmam que, agora, é o momento "de falar para dentro" do partido e pregar a união em torno de Temer, que será reeleito presidente da sigla.

A cúpula peemedebista fez um acordo que prevê adiar qualquer decisão sobre o rompimento formal da sigla com o governo Dilma Rousseff em até 30 dias.

 

PMDB abafa divisões e adia rompimento com governo

Na tentativa de projetar Michel Temer como um líder político capaz de unificar diferentes correntes "em nome do Brasil", o PMDB decidiu sufocar divisões internas e transformar sua convenção nacional num ato de unção ao vice-presidente.

Após semanas de especulações sobre qual seria o tom do evento que acontece neste sábado (12), a cúpula peemedebista fez um acordo que prevê adiar qualquer decisão sobre o rompimento formal da sigla com o governo Dilma Rousseff em até 30 dias.

Nesse contexto, a convenção vem sendo classificada nos bastidores como "um aviso prévio" do PMDB à petista. Líderes da sigla afirmam que, agora, é o momento "de falar para dentro" do partido e pregar a união em torno de Temer, que será reeleito presidente da sigla.

O acerto foi fechado na noite desta quinta (10), em jantar dos líderes da legenda. Até então, havia uma disposição nas alas mais radicais do partido de usar o encontro para declarar, no mínimo, independência do Planalto.

Essa medida desobrigaria deputados e senadores da sigla de votarem conforme determinação do governo e de seus líderes no Congresso.

O recuo é resultado da ação de integrantes do PMDB no Senado, entre eles o presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), e de integrantes da legenda de Estados que ainda apoiam o governo, como o Rio de Janeiro do deputado Leonardo Picciani.

Mesmo esses grupos, no entanto, reconhecem que a situação da presidente beira o insustentável. Nesse cenário, o adiamento da ruptura também dará ao PMDB tempo para acompanhar a repercussão das manifestações contra Dilma programadas para o domingo (13) e da finalização do julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o impeachment.

Há ainda uma preocupação em aguardar o desfecho da tentativa de Dilma delevar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o seu ministério. O PMDB não acredita que o petista abraçará a ideia, mas pondera que esse pode ser um fator relevante para o destino de Dilma.

A cautela, porém, não impediu aliados de Temer de traçarem um roteiro com vistas a, em breve, sacramentar o desembarque do governo.

A criação do MDB, agremiação que deu origem ao PMDB, completará 50 anos no final deste mês. O partido planeja grande evento para a data, que também será usada para lançar a segunda etapa do plano de governo do PMDB, que ficou conhecido como "Plano Temer". O novo documento terá foco em propostas para a ação social.

MICROFONES

Apesar de manter o discurso de união interna em prol de Temer, o partido não vai barrar críticas à aliança entre o PMDB e o PT. Os microfones do evento ficarão abertos para a apresentação de moções contra Dilma.

Segundo o acordo da cúpula, no entanto, nenhuma dessas moções será votada. Os próprios líderes da legenda admitem que, embora ainda não haja unanimidade, hoje, a maioria do partido é a favor da ruptura com Dilma.

Mesmo as alas mais radicais foram convencidas a adiar as deliberações. "Nesse momento o partido está preocupado em mostrar à nação que é capaz de se unir para ajudar o Brasil", reconheceu o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), um dos opositores ao PT mais ferrenhos da sigla.

"A maioria do PMDB quer romper, mas isso ainda apresentaria uma divisão. Então vamos aguardar", concluiu.

Fonte: Folha de S. Paulo

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Taxas futuras despencam com decisão do Fed e anúncio da Moody's sobre Brasil
Brasil tem fluxo cambial negativo de US$741 mi em abril até dia 26, diz BC
Faturamento do setor mineral do Brasil sobe 25% no 1º tri, a R$68 bi, diz Ibram
Ações europeias caem após decisão do Fed e balanços mistos
Lula diz que não faltarão recursos federais para resgates e reparação de danos por chuvas no RS