Na FOLHA: Ato contra Temer após desfile de Sete de Setembro reúne 3.000 pessoas

Publicado em 07/09/2016 05:42
DIMMI AMORA e EDUARDO CUCOLO, DA FOLHA DE S. PAULO, DE BRASÍLIA + r BELA MEGALE e RUBENS VALENTE, da FOLHA DE S. PAULO EM BRASÍLIA (+ REUTERS)

Logo após o encerramento do desfile de Sete de Setembro em Brasília, cerca de 3.000 pessoas protestaram contra o governo Michel Temer na Esplanada dos Ministérios, como parte do Grito dos Excluídos na capital federal. O número de manifestantes foi estimado pela Polícia Militar e por organizadores.

Entre eles estava o ex-ministro petista Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), que se disse surpreso com as manifestações que ocorrem em todo o país desde a posse de Temer.

"Não esperava que depois da ressaca do golpe eles teriam uma reação dessa natureza", disse Carvalho.

  Iano Machado/UOL  
BRASILIA - DF - BRASIL - 07/09/2016 - PROTESTO FORA TEMER. Manifestantes no protesto O Grito dos Excluidos contra  o governo Temer em Brasilia.  Ex-ministro Gilberto Carvalho na manifestacao. (Foto: Iano Machado/UOL).******EMBARGADO PARA USO EM INTERNET******* ATENCAO: PROIBIDO PUBLICAR SEM AUTORIZACAO DO UOL
O ex-ministro Gilberto Carvalho participa de manifestação em Brasília contra o presidente Michel Temer

O ex-ministro diz acreditar que os protestos vão crescer, por causa da pauta do governo para a área econômica. Disse ainda que as manifestações também servem de lição para os partidos de esquerda.

"Está surgindo muita juventude, movimentos sociais com uma nova linguagem que põe em questão a importância dos partidos. O PT aqui é pequeno", avaliou Carvalho.

Antes da caminhada, manifestantes cantaram o Hino Nacional em forma de protesto. Ao final de cada verso, substituíam as palavras do hino com um "Fora, Temer". Ao se aproximarem do Congresso, começam a gritar "Fora, Cunha".

O servidor público Oton Pereira Neves, 59, levou cartaz com a inscrição "Fora, Temer". Ele disse que os protestos em São Paulo no último fim de semana mostram que o movimento já pegou e aposta que Temer "não fica até o Natal".

Um dos organizadores do Grito dos Excluídos, Paulo Vinicius Santos da Silva, reclamou dos bloqueios feitos pela PM que estavam em nível superior ao de outros anos. Dirigente do Sindicato dos Bancários, Silva informou que os protestos vão continuar e que o próximo deverá ocorrer em 22 de setembro, para quando os sindicatos estão convocando greve geral.

Parte do público que foi acompanhar os desfiles deixou a Esplanada dos Ministérios pela área onde ocorriam os protestos contra Temer. Alguns manifestantes chamaram os espectadores de "coxinha" e, por isso, foram vaiados.

Próximo ao Itamaraty, um grupo de dez pessoas fazia um protesto a favor da intervenção militar. Houve xingamentos e discussões entre eles e manifestantes contrários ao governo.

Após provocações recíprocas, um produtor rural de 49 anos e um jovem menor de idade foram detidos pela PM por agredir uma equipe de jornalistas do UOL que entrevistava uma das manifestantes favoráveis à intervenção militar.

  Iano Machado/UOL  
BRASILIA - DF - BRASIL - 07/09/2016 - PROTESTO FORA TEMER. Manifestantes no protesto O Grito dos Excluidos contra  o governo Temer em Brasilia.   (Foto: Iano Machado/UOL).******EMBARGADO PARA USO EM INTERNET******* ATENCAO: PROIBIDO PUBLICAR SEM AUTORIZACAO DO UOL
Grito dos Excluídos em Brasília nesta quarta (7).

Substituição de irmãos Batista na chefia da holding da JBS preocupa mercado

O mercado reagiu com preocupação ao envolvimento dos empresários Joesley e Wesley Batista, donos da J&F, a holding da JBS, na Operação Greenfield.

As ações ON da JBS recuaram 1,69%, valendo R$ 11,01 nesta terça-feira (6). Desde a segunda-feira (5), quando a operação a ação da Polícia Federal foi anunciada, o papel acumulou queda de 11,57%.

O que preocupa o mercado é a possibilidade de que Joesley e Wesley sejam afastados da liderança da companhia.

Em relatório, o BTG Pactual afirma que a JBS conta hoje com altos executivos que poderiam substituí-los, mas ressalva que tem "receio de que o processo seja turbulento em uma companhia cuja família controladora representa forte influência sobre muitas decisões fundamentais".

José Vicente Ferraz, da Informa Economics FNP, diz que, além do abalo inicial nas ações, não vê impactos imediatos nas operações da empresa. Para Gustavo Aguiar, analista de mercado da Scot Consultoria, "a grande questão é a desconfiança do mercado em relação que pode acontecer no futuro e o que mais pode sair dessa caixa".

 

REUTERS: Meirelles diz que nunca exerceu funções executivas na J&F ou na Eldorado

SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse nesta terça-feira que nunca exerceu função executiva na holding J&F e na Eldorado Brasil, envolvidas na operação Greenfield da Polícia Federal, que investiga suspeita de fraude nos fundos de pensão de empresas estatais.

"Meirelles foi membro do Conselho Consultivo da J&F e nunca dirigiu esta empresa ou a Eldorado. Ele se limitava a prestar consultoria, cujos serviços foram concentrados na montagem do Banco Original", disse o ministério em nota de esclarecimento na noite desta terça-feira.

Após do período de consultoria, Meirelles "assumiu temporariamente, e de forma transitória, a presidência do Conselho de Administração da J&F. Em nenhum momento, porém, exerceu quaisquer funções executivas na empresa", informou a nota, ressaltando que atualmente o ministro não tem qualquer relação com essas empresas.

A Polícia Federal deflagrou na segunda-feira a operação Greenfield, com o objetivo de apurar suspeita de crimes de gestão temerária e fraudulenta dentro dos fundos de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, Petrobras, Correios e Caixa Econômica Federal.

O empresário Wesley Batista, presidente-executivo da empresa de carnes JBS, controlada pela J&F, foi um dos alvos de mandados de condução coercitiva na operação. A J&F confirmou a presença da Polícia Federal na sua sede e da Eldorado Brasil por ocasião da operação.

"O contrato de consultoria com a J&F estipulava que Meirelles não participava da gestão e não tinha acesso aos dados internos da empresa", disse a nota da Fazenda. "Suas sugestões como consultor restringiam-se a assuntos do Banco Original ou para algum movimento estratégico, particularmente fora do Brasil, sobre o qual a J&F demandasse sua opinião."

(Por Raquel Stenzel)

Investigação indica conflito de interesse entre fundos de pensão e empresas

Relatórios da Operação Greenfield apontam pelo menos quatro casos com supostos conflitos de interesses em negociações entre fundos de pensão e grandes empresas em torno de recursos para investimentos privados.

Um ex-coordenador de desenvolvimento de negócios da Funcef (fundo de pensão dos funcionários da Caixa), Fábio Maimoni Gonçalves, por exemplo, virou diretor do braço da empreiteira Engevix beneficiado por um investimento de R$ 270 milhões.

Em setembro de 2009, quando exercia seu cargo na Funcef, Gonçalves emitiu parecer recomendando investimento em um fundo controlado pela Engevix "usando argumentos supostamente técnicos, mas insustentáveis, e omitindo induzindo [sic] a diretoria executiva em erro ao omitir no parecer os dois valores mais baixos", segundo os investigadores.

Um ano depois, Gonçalves assumiu a vice-presidência da empresa Desenvix, ligada à Engevix, beneficiada pelo capital da Funcef e também investigada pela Greenfield.

Gonçalves, conforme os investigadores, também "teve um papel importante na formulação dos investimentos da Funcef na Invepar", braço da construtora OAS no qual os fundos de pensão fizeram uma aquisição direta de ações. Segundo a Greenfield, Gonçalves "era remunerado como conselheiro" da Invepar em 2009.

Em outro caso, Humberto Pires Grault Vianna, ex-diretor da Petros (fundo de funcionários da Petrobras) e atual gerente da Funcef, participou de decisão para apoiar um fundo ligado à Eldorado, da holding J&F, controladora da JBS, e depois se tornou diretor e presidente da Vitória Asset, que fora a gestora inicial do fundo de investimento.

Os investigadores acusam a Vitória Asset de ter feito uma avaliação errada dos bens da empresa controlada pela Eldorado.

"A fiscalização detectou a presença de um conflito de interesses entre os sócios do FIP (Fundos de Investimento em Participações) e a gestora, que não foi observado pela Funcef no seu estudo", diz relatório da Previc, responsável por fiscalização e controle de entidades fechadas de previdência complementar.

Um terceiro episódio envolve o fundo Multiner, voltado para unidades de energia termelétrica, tendo como personagem Guilherme Lacerda, ex-presidente da Funcef.

Gravações de uma reunião demonstram, segundo os investigadores, que Lacerda "foi alertado por um dos diretores presentes sobre o conflito de interesse (e de governança)" na decisão de aportar recursos em um fundo de investimento cuja gestora era a Vitória Asset.

Um quarto potencial conflito envolve a Lakeshore Financial, uma das cotistas do fundo de investimento criado pela empresa Sete Brasil com os fundos de pensão para apoiar a construção de navios para a Petrobras.

Segundo os investigadores, um casal, Luiz Fontoura de Oliveira Reis Filho e Cláudia Neder Reis, ingressou no quadro societário da Lakeshore no dia anterior à abertura das cotas do fundo de investimento. Luiz Reis era funcionário do banco e responsável pela assessoria financeira contratada pela Petrobras para o projeto de construção dos navios. Depois que entrou na Lakeshore, Reis "foi contratado pela Sete Brasil para prestar serviços de assessoria financeira".

OUTRO LADO

A defesa do ex-diretor-presidente da Funcef Guilherme Lacerda afirmou que acabou de ter acesso aos autos da Operação Greenfield e que se manifestará depois de analisá-los. O executivo está preso na Superintendência da PF em Brasília.

O empresário Luiz Fontoura de Oliveira Reis Filho, sócio da Lakeshore Financial Partners, não atendeu os telefonemas da reportagem.

Procurada, a empresa informou que não tem interesse em se manifestar.

A Funcef, via assessoria, também não quis se pronunciar sobre o envolvimento da empresa nos casos citados.

Humberto Pires Grault Vianna, ex-diretor da Petros e atual gerente da Funcef, e Fábio Maimoni Gonçalves, ex-coordenador de desenvolvimento de negócios da Funcef, que se tornou diretor de um braço da empreiteira Engevix à época da negociação, a Desenvix, não foram localizados. Na segunda (5), a Engevix disse que está colaborando com as autoridades.

Em nota, o holding J&F, controladora da JBS e dona da Eldorado, informou que sempre esteve à disposição das autoridades e que a relação do grupo com os fundos de pensão se pautou pela ética e pela impessoalidade.

Sobre o valor da participação dos fundos Petros e Funcef na Eldorado, a empresa disse que atualmente é de "R$ 3 bilhões, segundo laudos de duas renomadas auditorias independentes". 

EDITORIAL

Fundos e fraudes

Ninguém, para ser rigoroso, pode alegar surpresa diante da Operação Greenfield deflagrada pela Polícia Federal para apurar desvios nos fundos de pensão de empresas estatais. Há muito se conhecem a baixa qualidade e os indícios de corrupção nas decisões de investimento dessas entidades capturadas por interesses políticos.

O terreno para fraudes, cobiçado em decorrência dos recursos bilionários dos maiores fundos de pensão, vicejou sob a tradição brasileira de misturar interesses públicos e privados num capitalismo de compadrio revoltante para os que lutam no cotidiano da economia para manter negócios e empregos.

A investigação tem como alvos Funcef (fundo dos funcionários da Caixa Econômica Federal), Previ (Banco do Brasil), Postalis (Correios) e Petros (Petrobras), além de dezenas de empresas e pessoas físicas. Na mira se acham investimentos fraudulentos em troca de propina, com prejuízos estimados em R$ 8 bilhões, de início.

Ao aportar recursos em projetos com valores superestimados, o esquema na prática seria a reprodução do superfaturamento de contratos e serviços identificados pela Operação Lava Jato na Petrobras, não por acaso aplicações em energia, petróleo e infraestrutura.

O caso traz à luz o que nunca se deixou de suspeitar. Fundos de pensão de estatais sempre foram usados como alavanca do capitalismo nacional, participando de grandes projetos na companhia de segmentos escolhidos da elite empresarial.

Nesse ambiente promíscuo, é enorme o espaço para tráfico de influência com os recursos dos beneficiários dos fundos —e, em última instância, do contribuinte, uma vez que o erário também lhes faz generosos aportes.

A tendência em ocasiões assim é pedir regras mais duras. Tramita na Câmara dos Deputados, por exemplo, projeto para modernizar a gestão dos fundos, exigindo-se experiência de dirigentes e proibindo-lhes vinculação partidária.

Não faltam regras, contudo, para que decisões de investimento sejam prudentes e isentas. O problema é que não são respeitadas.

Os fundos são regulados pela Comissão de Valores Mobiliários e pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar. É o caso de perguntar onde ambas estavam, nos últimos anos, enquanto os fundos estatais acumularam rombos da ordem de R$ 50 bilhões.

Urge separar por completo os interesses dos participantes dos fundos de pensão daqueles dos políticos e das empresas que recebem recursos. O escrutínio policial é bem-vindo, mas cabe ir mais longe e incluir nele também os fundos que gerenciam recursos de servidores públicos estaduais e municipais.

PF apura atuação de fundos de pensão em Belo Monte

Procuradores que conduzem as investigações sobre perdas em negócios feitos pelos maiores fundos de pensão do país planejam examinar também investimentos que eles fizeram na usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.

A empresa responsável pelo empreendimento, a Norte Energia, tem como sócios o grupo Eletrobras, empresas do setor elétrico e dois fundos de pensão que se tornaram alvo de suspeitas, Petros, dos funcionários da Petrobras, e Funcef, dos empregados da Caixa Econômica Federal.

Ao lado da Previ, dos funcinoários do Banco do Brasil, e do Postalis, dos Correios, Petros e Funcef se tornaram alvos da Operação Greenfield, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal na segunda (5).

O pedido de prisão temporária do ex-presidente da Funcef Guilherme Lacerda e de outras sete pessoas, apresentado pelo Ministério Público, faz referência a uma "terceira fase" da operação para examinar o caso de Belo Monte, sem oferecer detalhes. Lacerda, que deixou a Funcef em 2011, está preso em Brasília.

De acordo com os investigadores, Lacerda "detinha e detém relações estreitas com diversos atores e grupos políticos que pareciam exercer o controle de diversos fundos de pensão". A Funcef investiu R$ 285 milhões na usina de Belo Monte, quando Lacerda era presidente do fundo de pensão. Juntos, Petros e Funcef têm uma fatia de 20% das ações da Norte Energia.

Informações obtidas pela Operação Lava Jato chamaram atenção dos investigadores da Operação Greenfield. Mensagens encontradas no telefone celular do ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez Otávio Azevedo mostram que ele mantinha contato com Lacerda em 2012, quando o ex-presidente da Funcef ocupava uma diretoria do BNDES, o principal banco de fomento do país.

Os investigadores, para quem Lacerda "parece cobrar propina" nas mensagens, dizem que as conversas podem "ter relação" com investimentos da Funcef para construção de navios-sondas para a Petrobras, operações do BNDES ou Belo Monte.

Filiado ao PT, partido pelo qual disputou e perdeu uma eleição para deputado federal no Espírito Santo em 2010, Lacerda indica nas mensagens a Azevedo ter proximidade com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso pela Lava Jato no Paraná.

A Operação Greenfield obteve sete prisões temporárias e o bloqueio judicial de até R$ 8 bilhões. A primeira etapa da investigação concentra-se em oito negócios que teriam causado prejuízos para os quatro fundos de pensão que são investigados pela operação.

De acordo com os investigadores, esses fundos investiram mais em algumas empresas do que seus ativos valiam, liberando mais recursos do que avaliações mais rigorosas justificariam e indo contra as normas dos fundos.

Segundo a PF, Lacerda participou de decisões que levaram a Funcef a investir em quatro negócios, incluindo a Eldorado Celulose, empresa da holding J&F, controladora da JBS. A defesa do ex-presidente do Funcef afirmou que teve acesso aos autos há pouco tempo e irá analisá-los antes de se manifestar.

Operação sobre fundos pode atingir setor elétrico, sistema financeiro e até políticos

Operação Greenfield, deflagrada pela Polícia Federal e Ministério Público Federal para apurar fraudes em quatro fundos de pensão de estatais, tem potencial de causar estragos no setor elétrico e em setores do sistema financeiro numa primeira etapa e, depois, atingir políticos responsáveis por indicações de diretores nessas entidades.

A avaliação é de investigadores envolvidos na operação realizada nesta segunda-feira (05), que tem como alvo os fundos Funcef (dos funcionários da Caixa Econômica Federal), Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e Postalis (Correios). Foram realizados o bloqueio de R$ 8 bilhões, que é a estimativa do rombo que teria sido provocado pelo esquema, e a prisão temporária de cinco gestores e ex-gestores destas entidades.

No caso do setor de energia, o foco seriam principalmente investimentos realizados pelos fundos na construção de usinas hidrelétricas, como Belo Monte, e na estruturação da Sete Brasil. Nestes casos, os fundos, segundo avaliações preliminares da PF e do Ministério Público, teriam recebido ordens superiores do governo Lula para fazer aplicações nestes novos investimentos.

Já no sistema financeiro, a investigação vai mirar nos agentes de bancos de investimentos que montavam as operações feitas para beneficiar empresas com os recursos dos fundos. Ainda não há provas de irregularidades, mas indícios de que alguns destes agentes fariam parte do esquema.

Em relação à atuação de partidos, a Operação Greenfield não listou nenhum político na relação de investigados porque se trata de uma investigação autorizada pela primeira instância da Justiça. A expectativa é que, no decorrer das investigações, PF e Ministério Público apurem as ligações políticas do esquema e repasse este material para a Procuradoria Geral da República.

A PF e o Ministério Público trabalham com a informação de que os fundos, dominados por indicações políticas, seguiam determinações superiores para direcionar seus recursos em projetos de interesses de alguns grupos empresariais, muitas vezes passando por cima de pareceres técnicos que apontavam riscos nestas operações.

Durante o período dos oito projetos sob investigação, os fundos sofriam forte influência política. O Postalis tinha diretores indicados pelo PMDB. Petros, pelo PT, PP e PMDB. O Previ era um fundo ligado a petistas, mas também era foco de interesses do PMDB. O Funcef tinha diretores com ligações com o PT.

Até o momento, a principal suspeita dos investigadores é que os fundos de pensão adquiriram cotas em oito fundos de investimento por valores "superfaturados". Não há ainda indicações de pagamento de propina, mas de gestão fraudulenta e temerária. A hipótese dos investigadores é que as empresas beneficiadas retribuiriam com doações de campanha. 

Representantes de fundos de pensão comemoram operação Greenfield

Um grupo de funcionários eleitos representantes na Funcef, o fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, comemorou o resultado daOperação Greenfield, deflagrada nesta segunda-feira (5).

Segundo os funcionários, havia "uma verdadeira 'sangria' na Funcef, em razão de uma série de investimentos que traziam fortes elementos de temeridade ao seu patrimônio".

Em carta aberta divulgada na noite desta segunda-feira, o grupo apontou uma "nítida avidez de uma coalizão político empresarial que se julgava 'dona do cofre'", em meio a um "volume inédito de recursos que foram canalizados para essa destinação, especialmente aqueles abrigados sob a inofensiva denominação de 'investimentos estruturados'".

Por meio de outra carta enviada em junho passado aos parlamentares federais, representantes de seis fundos de pensão (Funcef, Previ, Petros, Postalis, Real Grandeza e Fapes), que se identificam como um "grupo independente em defesa dos fundos de pensão", pediu mudanças na legislação a fim de proibir pessoas que tenham exercido "atividades político-partidárias" de ocupar cargos de diretoria e conselhos, a fim de reduzir influência política na decisão sobre investimentos.

O sistema de fundos de investimento, principal alvo da investigação da Greenfield, funciona da seguinte forma: uma empresa interessada em captar dinheiro para ampliação de suas atividades organiza um FIP (Fundo de Investimento em Participações), lançando-o em Bolsa de valores; o FIP vende papéis, debêntures por exemplo, emitidas pelas empresas interessadas nos investimentos; uma vez criado o FIP, a empresa busca os recursos dos fundos de pensão para se tornarem parceiros nos FIPs.

Segundo os investigadores da Greenfield, os preços dos papéis vendidos nos FIPs eram "superfaturados" e o dinheiro era liberado pelos fundos de pensão sem as garantias e os cuidados necessários recomendados por estudos técnicos. Para os investigadores, há suspeita de influência política sobre essas decisões de investimento de pelo menos oito casos de FIPs, que teriam levado os fundos a um prejuízo de R$ 8 bilhões.

Segundo o grupo de representantes eleitos na Funcef, desde o ressurgimento do FIP como instrumento de financiamento, por volta de 2003, os principais fundos de pensão brasileiros "investiram cerca de R$ 17,5 bilhões nesse segmento", dos quais R$ 6,2 bilhões pela Funcef, R$ 5,8 bilhões pela Petros (Petrobras) e R$ 1,3 bilhão para Postalis (Correios).

Apenas no tocante à Funcef, segundo os representantes eleitos, houve apoio financeiro a "50 FIPs diferentes que envolvem mais de 180 empresas/empreendimentos, dos quais nove FIPs foram objetos da operação" policial.

Um dos representantes do grupo de representantes da Funcef, auditor da Caixa Econômica por 15 anos e diretor eleito de administração da Funcef desde 2014, Antonio Augusto de Miranda e Souza, disse à Folha que a Greenfield "vai ressuscitar o tema sobre a gestão dos fundos de pensão". Ele defende que os fundos devem buscar "governança, transparência e atuar por uma menor exposição a negócios de risco".

"As assembleias gerais de participantes, por exemplo, devem ser algo obrigatório, e não são", disse Souza.

A partir de 2014, um grupo de representantes eleitos que se define como "Fórum Independente em Defesa dos Fundos de Pensão", passou a concentrar representantes dos principais fundos em busca de mudanças na gestão. Em junho passado, o grupo enviou aos parlamentares federais uma carta em que pedem alterações em um projeto de lei complementar que está em tramitação na Câmara dos Deputados.

Uma das sugestões é a redução da alçada decisória da Diretoria Executiva para apenas 0,5% dos recursos "em decisões sobre investimentos, exigindo a aprovação também pelo Conselho Deliberativo nas situações em que o valor supere esse limite".

A proposta também "torna obrigatória a existência de portais de transparência" na internet, extingue "o instituto do voto de qualidade (voto de minerva), exigindo a maior absoluta para aprovação de matérias nos conselhos e diretoria executiva" e também "preserva o instituto da paridade de gestão nos conselhos deliberativo e fiscal, e a estende às diretorias executivas dos fundos de pensão, por meio da eleição de diretores pelos participantes e assistidos".

O fórum defende ainda "maior rigor na qualificação técnica e requisitos para exercício de cargos na diretoria e conselhos, especialmente a vedação ao prévio exercício de atividades político-partidárias".

Colaborou PEDRO LADEIRA, de Brasília.

Operação da PF mira 4 maiores fundos de pensão do Brasil e bloqueia R$ 8 bi

Investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal aponta supostos prejuízos nos quatro maiores fundos de pensão de estatais do país. A principal suspeita é que os fundos de pensão adquiriram cotas em oito fundos de investimento por valores "superfaturados".

Os principais alvos da Operação Greenfield, deflagrada nesta segunda-feira (5), foram Funcef (dos funcionários da Caixa), Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) Postalis (Correios).

A PF cumpriu 5 de 7 prisões temporárias solicitadas: as do ex-presidente da Funcef Guilherme Lacerda e dos ex-diretores Carlos Augusto Borges, Demósthenes Marques e Maurício Marcellini Pereira, além da do ex-gerente da Petros Humberto Pires Grault.

Segundo o Ministério Público, não foram localizados Carlos Alberto Caser, ex-presidente da Funcef, e Fábio Maimoni Gonçalves, ex-coordenador de negócios do Fundo.

Além disso, houve 28 depoimentos sob condução coercitiva e o bloqueio judicial de até R$ 8 bilhões, valor que corresponde ao suposto prejuízo em dez casos analisados.

Foram realizadas buscas em empresas que receberam recursos dos fundos, como a Eldorado Celulose, do grupo J&F, que administra a JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Wesley depôs, mas seu irmão não foi levado à PF porque está fora do país.

O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e o ex-presidente da Previ Sérgio Rosa foram levados para depor. Pinheiro foi preso novamente nesta segunda em outro caso, na Operação Lava Jato em Curitiba, por ordem do juiz Sergio Moro.

O nome da Operação Greenfield é uma referência ao jargão usado no mundo dos negócios para definir investimentos em fase inicial.

A investigação detectou que os fundos de pensão "pagavam pelas cotas do FIP mais do que elas de fato valem, sofrendo, assim, um prejuízo 'de partida', independentemente do próprio sucesso que venha a empresa a ter no futuro".

FIPs são Fundos de Investimentos em Participações lançados por empresas para captar recursos com a venda das cotas e, assim, bancar investimentos. Foram utilizados com a promessa de impulsionar negócios em diversos setores, de usinas
termelétricas a casas populares.

Segundo a PF, em 8 de 10 casos analisados foram feitos investimentos de forma temerária ou fraudulenta. O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal do DF, escreveu que as aquisições das cotas dos FIPs foram precedidas por avaliações econômico-financeiras "irreais e tecnicamente irregulares, tendo como objetivo real superestimar o valor dos ativos da empresa".

Os envolvidos poderão responder por gestão temerária ou fraudulenta e outros crimes contra o sistema financeiro. Ao todo, são investigadas 78 pessoas. Para um grupo de 40 que inclui os donos da J&F e vários ex-dirigentes dos fundos, o juiz determinou a suspensão de qualquer atividade no mercado financeiro e nas empresas que dirigem.

A operação teve como foco 38 empresas, segundo a PF, entre elas as construtoras Engevix, OAS e WTorre, a IBG Eletrônica (nova Gradiente), a Sete Brasil, a GruPar (aeroporto de Guarulhos), o Santander, o Bradesco, a Invepar, um braço da OAS, e a empresa de auditoria e consultoria Deloitte Touche Tohmatsu.

Os quatro fundos acumulam rombo de R$ 50 bilhões nos últimos anos por causa de problemas que vão além das supostas fraudes detectadas.

OUTRO LADO

Os fundos de pensão da Postalis (Correios), Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa) afirmaram que estão à disposição das autoridades e colaborando com as investigações.

As instituições não se pronunciaram sobre a prisão de ao menos cinco executivos e ex-executivos presos durante a operação.

A Petros comunicou que está colaborando com as investigações e que a busca e apreensão limitou-se a investimentos decididos até 2011.

Já a Funcef disse que "possui rigorosos padrões éticos em todos os investimentos e na relação com seus participantes e assistidos e reafirma que está, como sempre esteve, à disposição das autoridades". Vai na mesma linha do Postalis, que afirmou ter "todo o interesse" em que os fatos sejam esclarecidos.

A Previ afirmou que "possui um modelo de governança maduro e transparente" e que a CPI dos Fundos de Pensão, concluída recentemente na Câmara dos Deputados, não constatou nenhuma irregularidade na instituição.

Para o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, que autorizou a deflagração da Operação Greenfield, as empresas pagavam pelas cotas de participação nas empresas mais do que elas de fato valiam. Assim, sofreriam um prejuízo "de partida", independente de o investimento ser bem-sucedido no futuro.

Em nota, a J&F afirmou que os investimentos feitos por Petros e Funcef na Eldorado, citados pelo Ministério Público, foram de R$ 550 milhões no ano de 2009. O valor da participação dos fundos no negócio chegou a R$ 3 bilhões em dezembro do ano passado, data do último laudo independente sobre o tema, afirmou a companhia.

Joesley e Wesley Batista, donos da J&F, foram alvos de busca e apreensão e condução coercitiva –Wesley depôs pela manhã, mas o irmão está em viagem aos EUA.

A empresa e os executivos disseram que estão à disposição das autoridades.

Na mesma decisão, o juiz Vallisney determinou, como medidas alternativas à prisão preventiva, que um grupo de 40 investigados fosse suspenso de atividades nos mercados financeiro e de capitais, além da proibição de exercer função de direção em empresa ou grupo empresarial.

Entre os suspensos estão executivos e ex-executivos dos fundos Funcef, Postalis, além das companhias OAS, Engevix, Deloitte, Gradiente, Sete Brasil e Grupo WTorre.

Em nota, o Grupo WTorre, disse não ter relação direta com os fundos citados e que está à disposição das autoridades. A empresa de auditoria Deloitte disse que está colaborando, "fornecendo informações em relação a trabalhos realizados a cliente". A construtura Engevix também afirmou estar colaborando. Gradiente, Sete Brasil e OAS, cujo ex-presidente Léo Pinheiro foi preso nesta segunda, não comentaram.
p(star). *

MANDADOS

Ao todo, foram emitidos 127 mandados judiciais pela 10ª Vara Federal de Brasília, sendo 7 de prisão temporária, 106 de busca e apreensão e 34 de condução coercitiva. A operação ocorre nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Amazonas, além do Distrito Federal.

Reencontro marcado

Por BERNARDO MELLO FRANCO,  de BRASÍLIA - 

A Polícia Federal e o Ministério Público começaram a abrir a caixa-preta dos fundos de pensão. Os investigadores terão muito trabalho pela frente. Pelas estimativas iniciais, o rombo deixado pelo esquema pode alcançar os R$ 50 bilhões.

O dinheiro pertencia a servidores de estatais como Petrobras e Correios. Por anos a fio, eles fizeram depósitos para garantir uma aposentadoria tranquila. Agora descobrem que as economias foram torradas em negócios "temerários" ou "fraudulentos", segundo os investigadores.

À primeira vista, a Operação Greenfield ameaça rivalizar com a Lava Jato. Na estreia, bloqueou R$ 8 bilhões e listou 78 investigados. Alguns personagens do petrolão ressurgem no novo escândalo, como o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, e o ex-tesoureiro petista João Vaccari.

Entre as 38 empresas sob suspeita aparecem grandes bancos e a holding da JBS, a maior financiadora de campanhas políticas em 2014. Até quatro meses atrás, seu conselho de administração era presidido pelo doutor Henrique Meirelles. Nesta terça, o ministro evitou comentar a operação e disse que "ainda vai se informar do que está acontecendo".

Quem buscou se informar nos últimos anos sabe que os fundos sofreram forte interferência política nos governos petistas. O PT dominava a Petros (Petrobras) e a Funcef (Caixa Econômica Federal), e o PMDB dava as cartas no Postalis (Correios).

O primeiro relatório da operação descreve a existência de um "núcleo político" que atuava "de forma mais obscura e, em geral, sem deixar muitos rastros". Quando seus protagonistas forem identificados oficialmente, o caso deverá subir ao Supremo Tribunal Federal.

"Investigação é fio de novelo, vai puxando e vamos ver o que vem", disse nesta terça (6) o procurador Rodrigo Janot. Quando este novelo for puxado, teremos uma situação curiosa: separados pelo impeachment, políticos do PT e do PMDB devem se reencontrar no banco dos réus.

OPERAÇÃO GREENFIELD
PF deflagra ação para investigar fraudes

 

 

O ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, é escoltado pelo agente da Polícia Federal Newton Ishii
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Fonte:
Folha de S. Paulo + REUTERS

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    O ser humano tenta desde tempos remotos dominar a natureza, faina pueril.

    Um grande sociólogo russo Pitirim Sorokin (1889-1968) defendia a tese que a cultura ocidental está passando uma das mais profundas crises de sua história.

    Em um trecho ele cita: "Devemos pensar, portanto, que, se muitos ainda não apreenderam claramente o que está acontecendo, eles pelo menos tem uma vaga sensação de que o problema não é apenas de "prosperidade", ou "democracia", ou "capitalismo", ou algo semelhante, mas envolve toda a cultura contemporânea, a sociedade e o homem?...

    Devemos pensar também na multidão incessante de crises maiores e menores que rolam sobre nós, como ondas do mar, durante as últimas décadas? Hoje, em uma forma, amanhã, em outra. Ora aqui, ora ali. Crises políticas, agrícolas, comerciais e industriais! Crises de produção e distribuição. Crises morais, jurídicas, religiosas, científicas e artísticas. Crises de propriedade, do Estado, da família, das industrias..."

    Em seus estudos ele determinou dois padrões culturais elementares opostos, o materialista (Sensorial) e espiritual (Ideacional), com alguns padrões intermediários ou mistos.

    Segundo Sorokin a civilização ocidental está sob a influência do padrão sensorial desde 1500, ou seja há 600 anos e, segundo sua teoria há uma tendência de desintegração da ordem sensorial atual, de acordo com sua citação:

    "No século XX, a magnífica casa sensorial do homem ocidental começou a deteriorar-se rapidamente e, em seguida, a desmoronar. Há, entre outras coisas, uma desintegração de seus valores morais, legais e outros que, a partir de dentro, controlam e orientam o comportamento dos indivíduos e grupos. Quando seres humanos deixam de ser controlados por valores religiosos, éticos e estéticos profundamente interiorizados, os indivíduos e grupos se tornam vítimas de um poder bruto e de fraudes que se tornam forças de controle de seu comportamento, relacionamento e destino. Em tais circunstâncias, o homem se transforma em um animal humano impulsionado principalmente por seus impulsos biológicos, paixões e luxúria. O egoísmo irrestrito individual e coletivo inflama; uma luta pela existência se intensifica; força torna-se direito; e as guerras, revoluções sangrentas, crimes, e outras formas de conflitos inter-humanos e bestialidade explodem numa escala sem precedentes. Assim foi em todos grandes períodos transitórios".

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Vejam que as mudanças que muitos desejam às vezes levam décadas e, até séculos, mas não desistam, pois será com o resgate dos valores morais, legais e outros que, A PARTIR DE DENTRO, controlam e orientam o comportamento dos indivíduos... O "senso comum" está contido na civilização e, não pode ser subordinado aos interesses de pequenos grupos.

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