Os 'cansados' se vingam da 'quadrilha' de Lula, por FERNANDO CANZIAN (na FOLHA)

Publicado em 29/09/2016 14:12

A liderança de João Doria (PSDB) na eleição paulistana se dá nove anos depois do lançamento da campanha "Cansei" pelo agora candidato tucano. Coincide também com o melhor momento do petismo.

Em 2007, Lula reassumiria a Presidência derrotando o tucano Geraldo Alckmin, padrinho de Doria, e o Brasil cresceria 6% sem maiores distorções macroeconômicas.

Foi um tempo de forte crescimento em que a "elite branca" reclamava da vida com o movimento "Cansei", contrário ao "estado das coisas", enquanto os mais pobres ascendiam incomodando viajantes em aeroportos lotados.

É de 2007 também a sugestão "relaxa e goza" aos viajantes de Marta Suplicy, que migrou do PT ao PMDB para tentar se viabilizar em São Paulo.

Ainda sobre aquele período, Lula disse nesta semana: "Montei uma quadrilha, sim, para tirar 36 milhões de pessoas da miséria e colocar milhões na classe média".

Os 13 anos do PT no poder foram marcados por uma excepcional distribuição de renda: o ganho dos 10% mais pobres subiu 130% acima da inflação; o do decil mais rico, 32%, segundo dados oficiais.

Na base da melhora geral, foi a renda do trabalho a protagonista da melhora na distribuição de renda, como mostra o quadro abaixo.

  Editoria de Arte/Folhapress  
O QUE MAIS CONTRIBUIU PARA A MELHORA NA RENDAParticipação em % na mudança de rendimento - 2004 a 2014

É certo que a sova encomendada contra o PT na eleição deste domingo tem como pano de fundo o petrolão e as tolices de Dilma na economia.

Mas o fim do ímpeto na distribuição de renda, a recessão e o medo do futuro talvez sejam a maior força por trás do balanço do pêndulo que se desloca às candidaturas mais à direita nesta eleição, sobretudo nas regiões mais dinâmicas.

Os milhões que saíram da miséria sob o PT estão rapidamente no caminho de volta ou em vias de escorregar nele por conta do desemprego e da queda na renda do mesmo trabalho que os tirou de lá há alguns anos.

Pela primeira vez ocorre um movimento inédito de queda na renda e aumento da desigualdade combinados. Se isso não mudar, todo o esforço do trabalho pessoal dos brasileiros terá sido em vão.

É nessa onda que os "cansados" de 2007 surfam, agora juntos com trabalhadores abatidos pela crise econômica.

Já a "quadrilha" de Lula virou outra coisa.

Assessores e amigos de Temer atacam Marta e dizem que ela vai perder (por MONICA BÉRGAMO)

As redes sociais foram inundadas nos últimos dias por comentários de assessores e amigos íntimos de Michel Temer atacando Marta Suplicy(PMDB-SP) ou prevendo a derrota dela.

MARTA VERSUS TEMER
A página de Arlon Viana, chefe do gabinete da Presidência da República em SP e integrante das executivas do PMDB nacional, estadual e municipal, trazia na quarta (27) as seguintes mensagens: "A candidata Marta deturpa os fatos. O governo federal nunca disse que vai aumentar a carga horária do trabalhador". Em outro texto, ele disse: "Lamento que a candidata Marta tenha entrado nesse papo furado".

MEMÓRIA
Há alguns dias, Marta criticou a proposta, que o governo diz não ser oficial.

TCHAU, QUERIDA
Em outra mensagem, Arlon Viana, que trabalha há muitos anos com Temer e é considerado um de seus amigos mais próximos, prevê a derrota da candidata: "Se voto útil for contra Marta, ela deverá terminar o primeiro turno em 4° lugar! Eu disse se for!!!!".

TCHAU, QUERIDA 2
O jornalista Gaudêncio Torquato, coordenador de um grupo de comunicação informal que auxilia Temer, diz no Twitter: "Há tempos falei [que] Doria assumindo papel do novo vai ganhar". A campanha de Marta diz que enfrenta dificuldades por causa da pauta maldita do governo Temer.

  • A liderança como farsa, por FABIO DE BIAZZI (no ESTADÃO)

O esfacelamento da figura política de Luiz Inácio Lula da Silva e do projeto de poder do lulopetismo nos remete à conhecida máxima atribuída a Abraham Lincoln: “Você pode enganar todas as pessoas por algum tempo, você pode até mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo”. Foram necessários pouco mais de 13 anos para que a verdade começasse a se formar cristalina e inexoravelmente diante de todos os brasileiros, desde os que sempre olharam com desconfiança para a figura de Lula até os que ainda insistem em não enxergar – mas estes cada vez em menor número.

O projeto prometia muito. Prometia coisas tais como tirar os pobres da pobreza, casas populares acessíveis a quem quisesse; crescimento econômico sustentável com a criação de conglomerados genuinamente brasileiros capazes de competir internacionalmente; consolidar o País como ator de destaque no cenário político e econômico mundial. Mas o que se viu foi uma imensa bolha de consumo lastreada em crédito abundante e na intervenção sobre os preços da energia elétrica e dos combustíveis, a maquiagem contábil, a deterioração da competitividade da indústria nacional, a destruição de vários milhões de empregos e o alinhamento sistemático da nossa diplomacia com alguns dos mais desprezíveis governos do planeta.

Apesar dos evidentes fracassos, porém, corríamos o seriíssimo risco de que Lula, seus métodos e seus asseclas prevalecessem e se perpetuassem efetivamente no poder. Contribuiu para que isso não ocorresse a reação de boa parte dos brasileiros, indo às ruas e mostrando sua indignação com os governos mais corruptos e incompetentes da História nacional, de maneira ordeira, cívica e bem-humorada. Têm contribuído também o caráter, a seriedade e a coragem de centenas de brasileiros que trabalham no Ministério Público, na Polícia Federal (PF) e na Justiça, cujos representantes mais visíveis são o juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol.

Contamos também com um pouco de sorte. Caso o preço do petróleo não tivesse caído anos atrás e o pré-sal se tornasse viável, a dinheirama daí proveniente teria permitido ao governo do PT estender os programas assistencialistas, a energia barata, o crédito fácil e a cooptação de agentes políticos de diversos partidos, renovando assim seu apoio popular e poder político.

Esses fatores se alinharam e permitiram que chegássemos à situação atual, com dezenas de réus e condenados na Lava Jato e em outras operações da PF, com o impeachment de Dilma Rousseff – o poste alçado à Presidência – e com o próprio Lula às voltas com a Justiça, agora sob a pecha de “comandante máximo” da bandalheira.

Assim voltamos a Lincoln: como foi possível enganar boa parte dos brasileiros por tantos anos? A resposta, embora não trivial, pode ser esclarecida e suas bases são as mesmas que sustentam governos populistas e autoritários mundo afora. A manipulação de povos por líderes farsantes é repleta de exemplos que terminam em desastres ou verdadeiras catástrofes. Felizmente, no nosso caso as baixas estão sendo contabilizadas “apenas” em milhões de empregos, e não em milhões de vidas.

A manipulação de todo um povo por um líder e um grupo político – em que a visão de futuro e os objetivos apresentados e compartilhados com a população são apenas fachada que esconde as verdadeiras intenções e os propósitos desse líder e de seu grupo – está baseada em quatro pilares: personalismo, desprezo pela verdade, autoritarismo e divisão da população.

O personalismo trata de mitificar a figura do farsante. Apresenta-se como salvador, com características únicas, capaz de realizar o que nenhum outro ser humano seria capaz, colocando as instituições num plano absolutamente secundário ou subordinado. A imagem de insubstituível, um novo “pai dos pobres”, acima do bem e do mal é trabalhada incansavelmente.

O segundo pilar é o desprezo pela verdade. As mentiras, omissões, distorções, a tentativa de reescrever a História e a apropriação de feitos de terceiros são elementos comuns – mas nem sempre facilmente perceptíveis – nas falas desses manipuladores. Ainda nessa categoria encontramos a desfaçatez com que acusam os adversários de suas próprias mazelas ou a naturalidade com que se desincumbem de suas responsabilidades dizendo que não sabiam de nada, imediatamente após qualquer desmando ser apontado.

O autoritarismo, por sua vez, procura fragilizar as instituições democráticas principalmente pelo aparelhamento – ou tentativa de aparelhamento – do Judiciário e pela cooptação e corrupção do Legislativo. Num exemplo mais extremo, felizmente ocorrido na Venezuela, e não aqui, a criação de uma milícia armada com mais de 100 mil homens, uma força do tamanho do Exército do país, tem ajudado a intimidar a população e a tratar como traidores os oposicionistas ao regime.

Por último, mas não menos importante, o quarto pilar de ação dos líderes farsantes tem que ver com a criação de antagonismos no meio da população. Aqui encontramos a pregação da desunião, a quebra da sociedade em distintas e inconciliáveis categorias, com base em “classe social” – “elite” versus “trabalhadores” – ou cor, etnia, preferência sexual, religião, etc.

Como não foi possível enganar a todos o tempo todo, apesar do culto à personalidade de Lula, do desprezo pela verdade, das investidas autoritárias e do enorme esforço para dividir o Brasil em “nós” e “eles”, o lulopetismo vive uma fase de merecida agonia, pelo bem de nossa democracia e do Estado de Direito. Neste momento, a compreensão e reflexão sobre os fatores que sustentaram a farsa é também importante para que estejamos atentos e evitemos a eleição de um próximo farsante, de qualquer partido, de esquerda ou de direita, homem ou mulher, que queira assumir o poder em nosso país.

*FÁBIO DE BIAZZI É ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO, DOUTOR EM ENGENHARIA PELA USP, DIRETOR EXECUTIVO E CONSULTOR DE GESTÃO, É PROFESSOR DE LIDERANÇA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL DO MBA EXECUTIVO DO INSPER

Trump, a insanidade e o caos (CLOVIS ROSSI)

Decreta Thomas Friedman, talvez o mais badalado colunista do planeta, no "New York Times" desta quarta-feira (28): "Seria uma insanidade colocar Donald Trump na Casa Branca".

Até concordo com Friedman, mas é claro que sua opinião tem o viés dos liberais norte-americanos (o máximo de esquerda que eles se permitem) contra o republicano.

O importante aí não é tanto a opinião do colunista, mas o fato de que os líderes mundiais concordam com ela, a julgar pela reportagem também desta quarta de Robert Fife, chefe do escritório de Ottawa do canadense "The Globe and Mail".

Informa Fife: "O ministro de Finanças do Canadá, Bill Morneau, e alguns de seus pares no G20 trocaram privadamente inquietações sobre o impacto nos mercados financeiros internacionais de uma presidência Trump e seu potencial dano para a frágil economia global".

Não foram só os ministros de Finanças: sempre segundo Fife, o primeiro-ministro, Justin Trudeau, trocou inquietações com líderes mundiais, entre eles o mexicano Enrique Peña Nieto e o norte-americano Barack Obama.

O temor manifestado nessas conversas entre os líderes reunidos na recente cúpula do G20 na China é o de que a eleição de Trump provoque caos na economia mundial.

Ninguém é obrigado a acreditar em fontes anônimas, mas minha longa experiência na cobertura de cúpulas como as do G20 ou, antes, do G7/G8 indica que os funcionários canadenses são as melhores fontes para bastidores nessas ocasiões.

É um país bem resolvido, rico, mas sem pretensões hegemônicas, o que faz de seus representantes livre-atiradores para contar o que os de outros países preferem esconder ou mostrar só parcialmente.

Até ler o "Globe and Mail", não havia visto nada sobre a cúpula do G20 que relatasse que Trump havia sido um dos fantasmas mais presentes, pelo menos nas conversas de bastidores.

É claro, de todo modo, que os três governantes mencionados no texto têm um motivo específico para temer Trump: o republicano já disse e repetiu que o Nafta (o acordo de livre comércio que envolve EUA, Canadá e México) é "o pior acordo comercial da história".

Prometeu rasgá-lo.

Seria um óbvio abalo para as três economias, com inevitáveis repercussões no resto do mundo.

Diz, por exemplo, Craig Alexander, economista-chefe da Conference Board do Canadá: "Qualquer movimento para impor medidas protecionistas teria impacto no Canadá e no México, mas também enfraqueceria o crescimento global".

Some-se a essa perspectiva o fato de que Trump promete criar sobretaxas sobre as importações provenientes da China e está desenhado um cenário de conflito, ao menos comercial, entre as duas maiores economias do mundo. O efeito será catastrófico, como é óbvio.

Nem a aparente vitória de Hillary Clinton no debate da segunda-feira (26) basta para afastar o risco de a insanidade triunfar.

O melhor resumo, a meu ver, foi do jornal alemão "Süddeutsche Zeitung": "Trump perdeu, mas Clinton não venceu". A insanidade continua no ar, pois. 

Fonte: Folha de S. Paulo + ESTADÃO

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