Situação de Lula muda de patamar na Lava Jato (blog do Josias de Souza)

Publicado em 25/10/2016 06:12

Por Josias de Souza, blog do Uol

Segundo a crença dos devotos do PT, Lula não tem muito a dizer sobre os momentos mais constrangedores de sua passagem pelo poder porque ele não sabia da devassidão que vicejava ao seu redor. A julgar pelo seu comportamento atual, Lula não sabia e continua não sabendo. Nunca um culpado pareceu tão inocente. Ou, por outra, nunca um inocente pareceu tão culpado. Do ponto de vista da Lava Jato, a situação de Lula mudou de patamar. Piorou!

Antes, o ex-presidente era acusado de ter seus confortos bancados por empreiteiras num sítio e num apartamento de praia. Ou no pagamento do aluguel dos contêineres que guardam suas “tralhas”. Ou na recompensa pelo tráfico de influência camuflada sob a aparência de remuneração de palestras. Agora, a acusação é mais direta: o “amigo” que aparece nas planilhas da Odebrecht associado a R$ 8 milhões em propinas é Lula, acusa a Polícia Federal.

A defesa de Lula reitera o mantra: “É perseguição política”. No fim das contas, Lula parece reivindicar que os investigadores levem em conta a sua inocência inquestionável. É como se exigisse para si um julgamento à parte, um veredicto que não ousasse responsabilizá-lo pelas culpas do sistema. Sempre foi assim, caramba!

Lula deseja que a Lava Jato leve em conta que, no governo, ele lutava por uma biografia ao mesmo tempo que tinha que cuidar da governabilidade. Seus aliados queriam propinas, não um bom nome. Deve doer em Lula o destino que a história lhe reservou. Um destino de ex-monarca obscuro, numa peça de enredo confuso, em que o personagem central é um juiz de Curitiba e o epílogo é a Odebrecht.

Moro faz um estranho raciocínio: só quem está cem por cento com ele está do lado dos bons

Por Reinaldo Azevedo, blog da Veja

O juiz Sérgio Moro e os procuradores que compõem a Força Tarefa não podem se considerar imbuídos de uma força divina e de uma pureza inalcançável. Ou se colocam de tal sorte acima dos homens mortais que estaremos todos impedidos de debater com eles. Só nos resta lhes dever obediência. E é claro que isso comigo não cola. Ainda que o grupo  tivesse na biografia a fama de haver, sei lá, matado o facínora.

Aliás, antes que Rogério Cezar de Cerqueira Leite os comparasse a Savonarola, eu mesmo o tinha feito emcoluna antiga na Folha, no dia 17 de julho de 2015. E, ora, ora, não preciso que Moro ou Deltan Dallagnol — ou qualquer outro recém-chegado à arena dos debates — me ensinem como combater o PT. Ocorre que eu critico o partido por seus métodos. Não por se chamar PT. Chamasse rosa, e fossem os mesmos os métodos, combateria de igual modo.

Parece tautológico, mas preciso dizê-lo: apoio todas as virtudes de Moro e dos seus aliados no MPF. E combato todos os seus defeitos. Aliás, sou um grande apreciador das minhas próprias virtudes. Não gosto é dos meus defeitos. Mas os tenho. Não fosse assim, eu seria um santo. Como Sérgio Moro. Como Lula já foi um dia. É por isso que não me ajoelho em altar em que se adoram humanos…

Gilmar Mendes concedeu uma entrevista impecável à Folha de hoje. Chamou a atenção para as virtudes da Lava-Jato e para o fato de ser um marco no combate à corrupção, mas também censurou os que tentam canonizar juízes e procuradores, como se suas decisões estivessem acima do escrutínio humano.

Mais: destacou, o que é verdade, que a impossibilidade de se proceder a uma análise racional da Lava Jato leva a que interesses corporativos se insinuem na zona do conforto da intocabilidade. Ou por outra: usa-se o combate à corrupção para defender privilégios inaceitáveis.

Pois bem. O juiz Sérgio Moro e o buliçoso Deltan Dallagnol participaram de uma audiência regional, na Assembleia Legislativa do Paraná, promovida pela Câmara dos Deputados, para debater as 10 Medidas Contra a Corrupção, propostas pelo Ministério Público Federal. Deltan, para não variar, falou em tom de paladino, missionário e animador de comício. É claro que é impróprio, mas nem entro nisso agora.

O que me interessou foi uma fala de Moro, prestem atenção:
“Em outras palavras e sem querer ser maniqueísta, ou coisa que o valha, é o Congresso demonstrar de que lado ele se encontra nessa equação”

Sabem em que momento ele disse isso? Quando se referia à aprovação das 10 medidas. Resultado: ou você as apoia — e, portanto, é contra a corrupção — ou você as crítica, e, pois, defende corruptos.

O que eu tenho a dizer ao juiz? “Uma ova, doutor!” Eu sou contra três das 10 medidas — teste aleatório de honestidade, validação de “provas ilegais colhidas de boa-fé e limite a habeas corpus — e quero que o juiz demonstre, então, que estou do lado de corruptos. Aí, não!

Isso não é fala de juiz. Isso é fala de político. E também é uma evidente resposta a um ministro do Supremo — no caso, à entrevista de Gilmar Mendes. Ou Moro vai dizer também que ou o tribunal endossa as medidas ou está a favor de vagabundo?

Assim vamos caminhar para um mau lugar. Esse negócio de ser maniqueísta e dizer que não pretende ser maniqueísta é truque ruim.

Aí ele próprio disse que dá para debater algumas coisas e eliminá-las do conjunto das propostas, como a coleta ilegal de provas. Pois é… Ocorre que ele já chegou a defendê-la quando eu estava praticamente sozinho na crítica.

O doutor precisa ser mais tolerante com a divergência e tem de saber que discordar dele não corresponde a apoiar corruptos.

Afinal, Savonarola também acham que discordar dele era agredir a fé.

Fonte: Uol + Veja.com

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