Dilma sofre de ‘amnésia moral’, diz Santana (no ESTADÃO)

Publicado em 29/04/2017 23:39
Marqueteiro afirma ao TSE que, ‘infelizmente’, presidente cassada sabia de caixa 2 e se sentia chantageada por Marcelo Odebrecht (por Rafael Moraes Moura, de O Estado de S.Paulo)

BRASÍLIA - O uso de caixa 2 na campanha eleitoral de Dilma Rousseff (PT) em 2014 reforçou a percepção de que os políticos brasileiros sofrem de “amnésia moral”, disse em depoimento sigiloso à Justiça Eleitoral o marqueteiro João Santana, responsável pelas campanhas do PT à Presidência da República em 2006, 2010 e 2014. Segundo o publicitário, Dilma “infelizmente” sabia do uso de recursos não contabilizados em sua campanha e se sentia “chantageada” pelo empreiteiro Marcelo Odebrecht.

De acordo com Santana, a petista teria sido uma “Rainha da Inglaterra” em se tratando das finanças de sua campanha, não sabendo de todos os detalhes dos pagamentos efetuados. 

No entanto, indagado se a presidente cassada tinha conhecimento de que parte das despesas era paga via caixa 2, o marqueteiro foi categórico: “Infelizmente, sabia. Infelizmente porque, ao me dar confiança de tratar esse assunto, isso reforçou uma espécie de amnésia moral, que envolve todos os políticos brasileiros. Isso aumentou um sentimento de impunidade”.

Estado apurou mais detalhes do depoimento de Santana, prestado na última segunda-feira no Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA). Na ocasião, o ex-marqueteiro de Dilma lembrou o papel do atual governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), como “porta-voz” de recados de Marcelo Odebrecht.

“Dilma se achava chantageada pelo Marcelo”, afirmou Santana à Justiça Eleitoral. De acordo com o relato do publicitário, o objetivo da chantagem seria intimidar a então presidente a ponto de fazê-la impedir o avanço das investigações da Lava Jato. Dilma nunca gostou do “Menino”, apelido que usava para se referir a Marcelo Odebrecht, disse o ex-marqueteiro do PT.

Conforme depoimento do ex-diretor de Crédito à Exportação da Odebrecht Engenharia e Construção João Nogueira à Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente da Odebrecht enviou, por meio de Pimentel, documentos que demonstravam o uso de caixa 2 na campanha da petista. O objetivo era demonstrar que Dilma não estava blindada na crise de corrupção que se instalou no seu governo.

Dilma também teria sido avisada reiteradas vezes de que a sua situação poderia se complicar se ela não barrasse um acordo internacional entre autoridades do Ministério Público do Brasil e da Suíça, já que a conta da sua campanha estaria “contaminada”.

João Santana foi uma das últimas testemunhas ouvidas no âmbito da ação que apura se a chapa encabeçada por Dilma, de quem Michel Temer foi vice, cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger em 2014. O julgamento do processo deverá ser retomado na segunda quinzena de maio. A informação de que Dilma sabia do uso de caixa 2 foi considerada um fato novo pelo ministro Herman Benjamin.

'Coisa nefasta'. O assunto “caixa 2” foi tratado por Dilma e por João Santana já em abril e maio de 2014, antes do início oficial da campanha eleitoral. De acordo com o marqueteiro, o pagamento “oficial” estava em dia, enquanto os repasses de recursos não contabilizados via Odebrecht sofriam atrasos.

Santana foi questionado no depoimento se esses atrasos não seriam genéricos, mas o próprio marqueteiro enfatizou que a demora nos pagamentos sempre envolve a parte não contabilizada. O publicitário afirmou que já estava acostumado a dar “alerta vermelho” sobre atrasos, desde a época em que trabalhou na campanha de Lula à Presidência, em 2006.

“Caixa 2 é uma coisa nefasta”, criticou Santana, que disse não haver campanha eleitoral sem a irrigação de recursos não contabilizados – mesma constatação que já havia sido feita por Marcelo Odebrecht em outro depoimento ao ministro Herman Benjamin.

Para o marqueteiro, a definição das coligações em torno de candidaturas são “leilões”, envolvendo uma série de interesses e negociações, como a distribuição de cargos. “Isso vai perdurar enquanto tiver empresário querendo corromper e político querendo ser corrompido”, disse. Mesmo considerando Dilma Rousseff uma política honesta, o marqueteiro reconheceu que a petista acabou “fatalmente nessa teia”.

“É um esquema maior que o ‘petrolão’. Essa promiscuidade de público e privado vem do Império, passou por todas as coisas da República”, resumiu Santana. / COLABOROU FÁBIO FABRINI.

Petista repudia ‘vazamento seletivo’; Temer não comenta

Dilma afirma que 'nunca negociou diretamente quaisquer pagamentos em suas campanhas eleitorais'

BRASÍLIA - Em nota, a assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff repudiou “o vazamento seletivo de trechos” do depoimento de João Santana, o que renova “a necessidade de rigorosa investigação pela Justiça Eleitoral”.

“Dilma Rousseff nunca negociou diretamente quaisquer pagamentos em suas campanhas eleitorais, e sempre determinou expressamente a seus coordenadores de campanha que a legislação eleitoral fosse rigorosamente cumprida e respeitada”, diz a nota.

A assessoria do presidente Michel Temer não comentou.

A defesa de Santana reiterou o “compromisso de colaborar com a Justiça” e lembrou que os depoimentos prestados “permanecem em sigilo”.

A Odebrecht informou que está colaborando com a Justiça.

Temer insistiu para participar de programa eleitoral, diz marqueteiro

Segundo João Santana, peemedebista e Dilma ‘nunca tiveram uma boa relação’ e ele não era o ‘vice dos sonhos’

BRASÍLIA - Em depoimento prestado à Justiça Eleitoral, o marqueteiro João Santana afirmou que Michel Temer, então candidato a vice-presidente, “encheu o saco” para participar de programas no horário eleitoral ao lado de Dilma Rousseff. O publicitário, no entanto, disse ao ministro Herman Benjamin que o peemedebista não somava à campanha, inclusive tirando votos da chapa, alvo de uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Segundo o Estado apurou, Santana afirmou em depoimento prestado na última segunda-feira que até mesmo Dilma Rousseff pediu para que ele colocasse Temer no programa porque o peemedebista “estava enchendo o saco”.

“Dilma e Temer nunca tiveram uma boa relação”, afirmou Santana, ressaltando que o peemedebista não era o vice dos sonhos da petista nem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O marqueteiro contou que resolveu abrir o jogo para Temer: contou para o vice que a sua imagem era negativa, conforme a percepção de grupos de pessoas entrevistadas pelo comitê ao longo da campanha eleitoral. A imagem do hoje presidente seria associada ao satanismo entre eleitores das Regiões Sul e Sudeste.

João Santana ainda informou Herman Benjamin e os advogados presentes ao depoimento que é pouco comum o cabeça de chapa ser beneficiado com votos conquistados pelo vice, que teria pouca importância no sistema presidencialista.

Pressão. Temer também teria convidado João Santana para trabalhar em uma campanha eleitoral no Haiti, em 2015, fazendo insistentes pedidos para que o marqueteiro topasse a empreitada. “Uma pressão amigável”, definiu o marqueteiro.

Mesmo diante da negativa de Santana, Temer teria pedido que o publicitário reconsiderasse a decisão. Santana não soube fornecer no depoimento o nome do candidato para o qual trabalharia no Haiti.

Palocci confirmará em delação destino das propinas da Odebrecht, diz IstoÉ

SÃO PAULO - Caso o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci feche um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal (MPF) na Operação Lava Jato, ele confirmará que é mesmo o "Italiano" das planilhas da Odebrecht e vai detalhar o destino de mais de R$ 300 milhões recebidos da empreiteira em forma de propina, dos quais R$ 128 milhões são atribuídos a ele. As informações foram publicadas na edição desta semana da revista IstoÉ.

A publicação traz que, de acordo com pelo menos três fontes que participaram das tratativas iniciais para a colaboração premiada, o ex-ministro abrirá detalhes da criação de uma conta-propina destinada a atender demandas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Parte da propina que irrigou essa conta teria sido resultado de um acordo celebrado entre ele e Lula durante a criação da empresa Sete Brasil, no ano de 2010. O ex-presidente teria ficado com 50% da propina, um total de R$ 51 milhões.

Pelo que Palocci afirmou a interlocutores que está disposto a falar, ele atestaria que R$ 13 milhões da conta foram sacados em dinheiro vivo por seu ex-assessor, Branislav Kontic, e entregues para Lula.

A campanha da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também estará na pretensa delação de Palocci. Segundo a reportagem, ele está empenhado em revelar como foi o processo de obtenção dos R$ 50 milhões da Odebrecht para a campanha de Dilma em 2014 e que a ex-presidente sabia da arrecadação ilícita. Na doação, estariam envolvidos nas negociações Lula e o ex-ministro Guido Mantega, além da ex-presidente.

O ex-ministro pretende mostrar ainda como empresas e instituições financeiras conseguiram uma série de benefícios durante os governos petistas, como redução de impostos, outras isenções fiscais, facilidades junto ao Banco Nacional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e renegociação de dívidas tributárias.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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