Michel Temer: O caminho é o desenvolvimento

Publicado em 28/05/2017 11:19
("o Brasil não parou e não vai parar")

Inicio nesta terça (30), em São Paulo, o Fórum de Investimentos Brasil 2017, uma jornada de debates que vem sendo preparada há meses pelo governo federal e seus parceiros.

Esse importante encontro reunirá empresários, executivos e jornalistas estrangeiros, além de ministros, gestores públicos e das estatais.

Trata-se de mais uma prova incontestável de que, após um ano de compromisso com a responsabilidade fiscal, nossa economia saiu do fundo do poço e voltou a ser vista aqui e lá fora como oportunidade de investimentos e negócios, incluindo concessões e privatizações -algo fundamental para que possamos recriar os milhões de empregos perdidos desde 2015.

A realização desse fórum tem patrocínio do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Receberemos, nos próximos dois dias, investidores de mais de 42 países e de 22 setores da economia. O interesse mostra que nossas reformas econômicas criam ambiente confiável para o investimento e o crescimento.

Como tenho dito, o Brasil não parou e não vai parar, a despeito da crise política pela qual, reconheço, estamos passando. Mesmo na semana passada, quando a Esplanada dos Ministérios foi atacada pelos que desprezam a democracia e buscam impor sua vontade pela violência, nossos aliados no Congresso conseguiram aprovar sete medidas provisórias e deram continuidade à votação da modernização das leis trabalhistas.

Isso é manter a governabilidade -e não foi trivial fazê-lo em meio ao grande tumulto orquestrado contra Brasília na última quarta-feira (24).
A serviço das reformas, às quais me dedico desde o primeiro dia na Presidência, coloquei minha experiência de três mandatos como presidente da Câmara e empenhei mais de 35 anos de vida pública. Para cumprir seu trabalho, todo governante precisa ouvir o povo e seus representantes no Parlamento -tarefa complexa, sobretudo em tempos adversos.

O critério de compromisso total com a agenda reformista também norteou a escolha da equipe econômica. São gestores competentes para enfrentar desafios, intransigentes na defesa do Tesouro Nacional, mas que também sabem escutar os diferentes setores e têm sensibilidade para preservar de cortes os programas sociais.

É essa concertação de esforços, integrados e interdependentes, que fez o país avançar, implantando mudanças que demandam tempo e estabilidade para se consolidar. Todos os indicadores demonstram que estamos recuperando a prosperidade e o bem-estar dos brasileiros.

Vamos perseverar nesta travessia. Não me desviarei de entregar ao meu sucessor, em 2019, um país em condições bem melhores do que recebi. Sem as reformas, o Brasil não se sustentará. Todos, inclusive a oposição, sabem disso.

Não foi sem razão que fizemos a reforma do gasto público -e levaremos dez anos para superar o deficit que herdamos-, do ensino médio e das estatais, que voltaram a dar lucro. A modernização trabalhista está em vias de ser aprovada no Senado e logo chegará a vez da reforma previdenciária, a mais relevante.

Tão relevante que os três presidentes que me antecederam tentaram mudar as regras de aposentadorias e pensões. Coube a nós a luta para conseguir aprovar na Comissão Especial da Câmara a mais profunda mudança da Previdência -capaz de equilibrar gradualmente o deficit, salvaguardar direitos, proteger os mais pobres e acabar com privilégios, como já fizeram muitos países. É inadiável concluir esse processo de votação.

Sei que todos esperam avaliações sobre este momento de crise. Gostaria de frisar que a Constituição é realmente o nosso único guia. É ela que determina o exercício harmônico e independente dos Três Poderes. É a Constituição que garante também nossos direitos políticos, e, antes de tudo, a proteção aos direitos individuais.

Democrata que sou, vejo a liberdade de expressão ser extrapolada por interpretações voluntaristas, sem amparo na rigorosa apuração dos fatos.

Falsas confissões são alardeadas em gravação clandestina, imprestável, segundo peritos, como prova -e que nem sequer, pasmem, foi custodiada e periciada.

Aos criminosos que tudo tramaram foi dado passaporte livre para viver com luxo em qualquer parte do mundo. Mas já me pronunciei sobre isso; é assunto para advogados.

A mim, reafirmo, compete continuar trabalhando pelo Brasil, como faremos neste Fórum de Investimentos. Porque não podemos parar: o futuro é agora.

MICHEL TEMER é presidente da República. Foi vice-presidente (governo Dilma) e ocupou por três vezes a presidência da Câmara dos Deputados

Mercado ignora notícia ruim e não considera risco de incerteza continuar

(por MARIA CRISTINA FRIAS, na coluna MERCADO ABERTO)

O desfecho da crise pode não ser tão rápido quanto o mercado imagina — e vem precificando, como diz o jargão.

Em uma semana de fortes incertezas, ainda sob o impacto da delação da JBS, a Bolsa fechou com alta acumulada de 2,3%.

O Ibovespa, que vinha subindo, reagiu à saída de Maria Sílvia do BNDES, mas voltou ao mesmo patamar e encerrou o pregão com alta expressiva (de 1,36%).

Não houve volta à bonança de preços dos dias que antecederam à delação, mas também não ao pânico do dia seguinte a ela.

O mercado tem ignorado notícia ruim o quanto pode e não coloca no preço a possibilidade de a agonia do governo do presidente Michel Temer se estender meses além do julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE.

A visão predominante no mercado é que o importante é aprovar as reformas —e que o Congresso já estaria ciente disso. Tanto faz se ficará Temer, Rodrigo Maia, presidente da Câmara, ou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Não está no cenário mais esperado que, em caso de troca de comando, passe a reforma trabalhista, mas não a da Previdência. É difícil para um gestor se posicionar contra tendência tão forte, apesar de alguns economistas alertarem para o risco de estagnação no Congresso, mesmo em eventual eleição indireta.

É o efeito manada do mercado que quer crer que as reformas passarão, se não em junho, logo mais.

Marcos Troyjo: Há chance de romance entre o Brasil e os mercados?

A crise político-policial ainda não permite pressentir seu desfecho. O papel e a reputação do Brasil no cenário internacional acham-se diminuídos

Há cerca de dois anos, com a deterioração econômica, política e moral do governo Dilma Rousseff (PT), uma expressão ecoava por toda parte quanto à conjuntura brasileira: a “tempestade perfeita”. Forças de diferentes quadrantes alinhavam-se contra o Brasil. Internamente, o país elegera uma chapa que mascarara a real situação fiscal das contas públicas. Convocado para equilibrar as contas, um ministro da Fazenda do tipo “estranho no ninho”, fora abandonado no meio do caminho. Estatais, como Petrobras e Eletrobras, haviam sido corroídas por um misto de incompetência e corrupção. O BNDES encontrava-se em grande parte instrumentalizado para um projeto de “campeãs nacionais” sustentado na dispendiosa e ineficiente premissa do conteúdo local.

No plano externo, as nuvens cinzentas que se acumulavam acrescentavam dramaticidade à situação brasileira. Preço das commodities em queda projetava patamares mais baixos para nossa balança comercial. A elevação das taxas de juros nos países de economia madura, após anos de “quantitative easing” (flexibilização quantitativa), sinalizava liquidez mais apertada para o Brasil. No âmbito político, o presidencialismo de cooptação rachara. A construção de consensos no parlamento se inviabilizara. O ecossistema prevalecente do capitalismo de compadrio brasileiro era seriamente abalado pelo avanço fulminante da Operação Lava Jato.

E a conclusão do TPP (Parceria Transpacífico), firmada em outubro de 2015, fazia supor que o mundo entrava num novo jogo do comércio internacional. Nele, não apenas a liberalização tarifária é importante, mas também o estabelecimento de padrões comuns em áreas como legislação ambiental e trabalhista, proteção à propriedade intelectual e a utilização de compras governamentais como instrumento de política industrial. Tudo em nome do fortalecimento e expansão das redes globais de valor. O Brasil, claro, estava fora desse jogo.

Se tudo o que está relacionado acima é verdadeiro, sobravam, de fato, razões para a “tempestade perfeita”. E os efeitos de tal tormenta são inegáveis. Doze milhões de desempregados vagam pelo país. O baixo crescimento relativo do PIB está a confirmar que esta é mais uma década perdida. A crise político-policial ainda não permite pressentir seu desfecho. O papel e a reputação do Brasil no cenário internacional acham-se diminuídos.

Nos últimos seis meses, passou, no entanto, a sobressair um sentimento de “virada de jogo” para o Brasil. 2017 seria o ano do “fim da crise”. Ainda que tímida, ganhava corpo a chance para um novo caso de amor entre o Brasil e os mercados. Testados nos polos extremos da “Brasilfobia” de 2002 (quando o risco-país ultrapassou 2.500 pontos) e da “Brasilmania” de 2010 (quando a ascensão ao clube das cinco maiores economias parecia irresistível), os mercados escolheram identificar na predisposição a realizar reformas o “marco zero” para um novo romance com o Brasil.

Nessa linha, a inegável capacidade de construir maiorias no Congresso de que o governo Temer dispunha até há pouco e a adoção de muitos dos pressupostos presentes no documento “Ponte para o Futuro” somaram-se a outros fatores – todos convergentes a sugerir uma nova lua de mel entre país e agentes econômicos. No mundo, as forças desglobalizadoras no comércio e na interdependência (de que são o exemplo o “America First” de Trump e o “brexit) dão ao Brasil “tempo” para reajustar sua estratégia de inserção internacional.

A normalização monetária nas economias desenvolvidas é mais gradual e suave do que se previa e seus efeitos são marginais ante o potencial de direcionamento da abundante liquidez internacional a países como o Brasil, seja em alocações de curto prazo ou a projetos de infraestrutura. Puxado por novas demandas do Sudeste Asiático com a emergência econômica do entorno chinês e o eventual renascimento da infraestrutura nos EUA desejado pela Trumponomics, o valor das commodities agrícolas e minerais onde o Brasil apresenta vantagens comparativas está em recuperação.

Assim, todos os preparativos para um novo romance com o Brasil são estritamente internos. Eles dependem, no limite, de que, até 1º. de janeiro de 2019, com ou sem Temer, não se desperdicem os próximos meses para o encaminhamento das reformas previdenciária e trabalhista. Em ambas hipóteses, os efeitos do “JBSgate” não podem oxidar maiorias parlamentares pró-reformas. No mesmo quadro, a intocabilidade de rumos e mesmo equipes de Fazenda e Banco Central, bem como as administrações de Petrobras, Eletrobras e BNDES, afiguram-se como fundamentais.

E, claro, em outubro de 2018 o país terá de eleger um presidente pró-mercado, reproduzindo, em escala ampliada, não apenas a ojeriza à política tradicional, mas sobretudo o sentimento anti-estatizante percebido nos pleitos municipais de 2017. Dada a notória e persistente disfuncionalidade da política brasileira, ainda são pequenas as chances de um novo romance entre o país e os mercados. Para tanto, como em inúmeros outros momentos históricos, o Brasil depende muito mais de si que do mundo.

É cedo para dizer que o governo Temer acabou (por MAILSON DA NÓBREGA, na VEJA)

Temer não está politicamente morto. Ironicamente, dado o risco de uma surpresa na eleição indireta, pode ser a saída menos ruim

É quase unânime a afirmação de que Michel Temer estaria com os dias contados. Duraria poucas semanas em razão de renúncia ou do julgamento do TST. Discute-se o nome do substituto ou a manutenção da equipe econômica. Não se considera a continuidade.

A lógica política diz, todavia que Temer não vai renunciar. Se o fizer, perderá os imensos recursos de poder da Presidência e o foro privilegiado. Ficará sujeito imediatamente a ordens para depor na PF ou à prisão preventiva. Lembremos que renúncia é um ato de vontade, unilateral. No seu caso, seria suicídio político. Não à toa, Temer já disse que a renúncia seria o reconhecimento de culpa. Pode até ocorrer, mas não é o cenário mais provável no momento.

Temer não tem, pois, incentivos para renunciar. Alvitra-se a cassação pelo TST como saída honrosa. Ele não precisaria renunciar. Ocorre que o efeito seria o mesmo, isto é, despencar instantaneamente do planalto para a planície com todas as suas consequências.

O cenário de renúncia e eleição indireta pelo Congresso tem seus riscos. Não há como controlar o processo. O nome de consenso escolhido pelos líderes pode não ser o vencedor. Praticamente todos os cogitados têm suas fraquezas eleitorais.

Tomemos, por hipótese, o nome de Nelson Jobim. Ele é sócio do BTG e visto por muitos como pessoa ligada a Lula. Jamais será uma unanimidade. Outro bem cotado, Tasso Jereissati, tem suas arestas. Pode enfrentar alta rejeição por ser candidato do PSDB.

Há o risco de uma candidatura avulsa conquistar o baixo clero. Severino Cavalcanti e Eduardo Cunha aliaram-se a esse grupo para derrotar a coalizão governante e ganhar a presidência da Câmara. Uniram rejeição aos escolhidos à oferta de mimos fisiológicos. Se acontecer algo parecido na eleição indireta, a emenda seria pior do que o soneto.

O impeachment seria uma saída traumática, mas Rodrigo Maia tende a arquivar todos os pedidos. Mesmo que seja forçado a abrir o processo, Temer mantém articulação suficiente para conseguir o mínimo de um terço dos votos. Getúlio Vargas, em plena crise do crime da Rua Toneleros, derrotou facilmente o pedido de impeachment apresentado pela UDN. 

As análises sobre a iminente saída de Temer parecem incorporar a ideia de que ele e seu grupo estão paralisados, esperando o desenrolar dos acontecimentos. Longe disso. Todos estão articulando a mil. Sabem operar o mercado político. Têm aliados na Câmara e no Judiciário. Não será surpresa um pedido de vista no julgamento do TSE. Caso consumada a cassação mais tarde, Temer por certo recorrerá ao STF. Haja demora.

O tempo corre a favor de Temer. Se conseguir, como é possível, aprovar a reforma trabalhista no Senado, ganhará fôlego para tentar a reforma da Previdência, ainda que mais descaracterizada do que agora. O mercado aceitaria. Enquanto isso, a economia se recupera, ainda que a ritmo mais lento do que o esperado, reforçando o seu capital político.

Temer não está politicamente morto, embora a provável delação premiada de Rodrigo Loures possa complicar sua vida. Mesmo assim, poderá sobreviver à crise. Máxima ironia, dados os riscos da eleição indireta, sua enfraquecida permanência poderia ser a saída menos ruim.

Fonte: Folha de S. Paulo + VEJA

NOTÍCIAS RELACIONADAS

STF suspende prazos processuais em todas as ações ligadas ao RS
Wall St salta com dados de empregos nos EUA reforçando hipótese de cortes nos juros
Dólar cai ao menor valor em quase um mês com dados fracos de emprego nos EUA
Ibovespa fecha em alta com melhora em perspectivas sobre juros nos EUA
Taxas futuras de juros têm nova queda firme no Brasil após dados de emprego nos EUA