BC reduz juros básicos (Selic) a 7%, menor nível histórico, e indica mais corte com "cautela"

Publicado em 06/12/2017 19:08
Reuters

O Banco Central cortou nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, a 7 por cento ao ano, movimento amplamente esperado pelo mercado e que leva a Selic ao seu menor nível histórico, deixando a porta aberta para nova redução adiante, mas ressalvando que encarará a investida com "cautela".

Isso porque o BC deixou claro que os passos seguintes estão mais sensíveis a eventuais mudanças no cenário de riscos o que, para analistas, foi uma sinalização sobre como será o desfecho da reforma da Previdência.

"Para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, o Comitê vê, neste momento, como adequada uma nova redução moderada na magnitude de flexibilização monetária" informou o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

Mas completou em seguida: "essa visão para a próxima reunião é mais suscetível a mudanças na evolução do cenário e seus riscos que nas reuniões anteriores. Para frente, o Comitê entende que o atual estágio do ciclo recomenda cautela na condução da política monetária".

Em pesquisa Reuters, 52 de 53 economistas esperavam que o Copom reduzisse os juros em 0,50 ponto percentual. A única aposta dissidente foi do HSBC, que previa corte de 0,25 ponto.

"A próxima reunião é só daqui a longos dois meses e temos a reforma da Previdência neste meio tempo. O cenário básico é fazer (corte de) 0,25 ponto no próximo Copom", afirmou a economista-chefe da economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, que ainda matém a perspectiva de que o BC possa reduzir a taxa em 0,50 ponto em fevereiro.

"Vou esperar até a ata do Copom (na próxima terça-feira) para eventualmente mudar meu cenário", acrescentou ela.

O governo tem se esforçado para garantir apoio político para aprovar a reforma da Previdência, considerada essencial para colocar as contas públicas em ordem, ainda neste ano na Câmara dos Deputados.

A mínima histórica da Selic, de 7,25 por cento, havia sido atingida em outubro de 2012, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Mesmo com um novo patamar recorde, o Brasil continua com uma das maiores taxas de juros reais do mundo, perdendo apenas para Turquia, Rússia e Argentina, segundo levantamento da gestora Infinity Asset.

A investida de agora dá sequência à estratégia do BC de seguir cortando os juros para dar ímpeto à atividade num quadro de inflação baixa, expectativas ancoradas e recuperação econômica ainda gradual.

Diante da conjuntura, a maioria dos agentes econômicos já esperava nova dose de afrouxamento monetário em fevereiro, primeira reunião do Copom em 2018.

O economista-chefe do Santander, Mauricio Molon, ressaltou que o corte adotado veio dentro do esperado, bem como a sinalização de que os juros devem cair a 6,75 por cento em fevereiro. A partir daí, o BC deixa em aberto o que pode fazer, acrescentou.

"A gente acredita que a taxa não vai cair além dos 6,75 por cento, estamos mais otimistas com a atividade econômica do que o mercado. É fato que (o BC) deixou portas abertas. Se continuarmos tendo surpresas do lado inflacionário, ele pode seguir reduzindo", disse Molon.

No comunicado, o BC também reduziu a projeção de inflação pelo cenário de mercado a 2,9 por cento em 2017, ante 3,3 por cento em sua última estimativa, de outubro, e abaixo do piso da meta oficial deste ano --de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

O caminho para a autoridade monetária seguir cortando os juros é pavimentado justamente pela modesta alta de preços na economia, sobretudo por conta dos alimentos.

Para 2018, o BC passou a ver o IPCA em 4,2 por cento, contra 4,3 por cento antes, e manteve seu cenário em 4,2 por cento para 2019. O cenário de mercado supõe Selic de 7 por cento ao fim deste ano e do próximo e de 8 por cento ao fim de 2019.

Num comunicado com poucas mudanças em relação ao anterior, o BC apontou que "o cenário básico para a inflação tem evoluído, em boa medida, conforme o esperado".

Nos 12 meses até novembro, o IPCA-15, prévia da inflação oficial, ficou em 2,77 por cento.

Na pesquisa Focus mais recente, feita pelo BC junto a uma centena de economistas, a expectativa é de uma inflação de 3,03 por cento em 2017, 4,02 por cento para o ano que vem e de 4,25 por cento em 2019.

(Reportagem adicional de Laís Martins)

Fonte: Reuters

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