Novo salto do dólar pós-Copom faz mercado especular sobre atuação do BC

Publicado em 18/05/2018 18:30

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Por Claudia Violante

SÃO PAULO (Reuters) - A forte alta do dólar ante o real tem levado o mercado a cogitar até que ponto o Banco Central está disposto a intervir no mercado de câmbio para aliviar a pressão sobre a moeda, com investidores apostando em ações mais amplas que a rolagem de swaps cambias que a autoridade monetária realiza desde fevereiro.

Depois de ter subido 20 centavos em abril, para 3,50 reais, e mais 20 centavos em maio até a véspera, para 3,70 reais, o dólar deu um salto de quase 10 centavos apenas nesta sessão.

"Acredito que o BC vai agir para reforçar a oferta de swap cambial nesta sexta-feira, após o fechamento do mercado", comentou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, ao lembrar que o mercado está acostumado com anúncios de intervenções do BC às sextas-feiras.

Em maio até agora, o BC anunciou que voltaria a agir no mercado de câmbio logo na virada do mês, no dia 2, uma vez que o dólar já estava num patamar bastante elevado.

Na ocasião, ele anunciou a oferta de até 8.900 contratos para venda a partir do dia seguinte, volume que, se fosse mantido até o final do mês, acrescentaria 2,8 bilhões de dólares adicionais além da rolagem de 5,650 bilhões de dólares que vencem em junho.

No último dia 11, uma sexta-feira portanto, o BC voltou a fazer anúncio ao mercado, de que mudaria a forma de intervenção, com oferta de até 4.225 contratos para rolagem do que restava dos 5,650 bilhões de dólares que vencem em junho, além de até 5 mil contratos novos, o que acrescentaria 200 milhões de dólares a mais do que o total inicialmente previsto.

De fato, o anúncio de início de rolagem de swaps em abril também aconteceu numa sexta-feira, dia 6, assim como em março, quando o BC informou o mercado que voltaria a atuar no dia 9, com início dos leilões no dia 12.

"Não acredito que esse BC iria entrar no meio do pregão. Ele não vai dar margem para interpretação fácil de que está assustado", comentou um economista que prefere não se identificar.

CENÁRIO EXTERNO

O dólar vem trabalhando bastante pressionado em todo o mundo por conta da perspectiva de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, poderá elevar o juro mais vezes do que o inicialmente previsto, leitura que ganhou reforço com o avanço do rendimento do Treasury de 10 anos acima do importante nível psicológico de 3 por cento. Nesta sexta-feira, o papel chegou a operar na casa de 3,10 por cento.

Desta forma, muitos investidores optam por tirar dinheiro de outras praças, sobretudo as mais arriscadas, como de países emergentes com o Brasil, e levar o dinheiro para lá.

No caso doméstico, também pesa contra o real o fato de o Banco Central ter cortado a Selic para a mínima histórica de 6,50 por cento, diminuindo consideravelmente esse diferencial de juro em relação aos Estados Unidos e tendo ainda uma eleição doméstica bastante complicada à frente.

O fato de o BC ter decidido manter a taxa inalterada em 6,50 por cento na última quarta-feira se baseou no cenário externo mais conturbado e volátil, cuja consequência direta nos últimos meses têm sido um dólar mais forte. Entretanto, o que poderia ser um alívio para o mercado doméstico acabou sendo uma preocupação a mais para os investidores.

"O BC deu o recado de que o dólar está preocupando. Se está preocupando o BC, por que o mercado também não ficaria preocupado?", questionou um operador de derivativos de uma corretora local ao justificar o nervosismo dos agentes.

Nesta sexta-feira, foi registrado inclusive um forte movimento de stop loss, com muitos investidores zerando operações vendidas --quando se desfazem em apostas de queda do dólar--, o que contribuiu para levar a moeda para a máxima a 3,7774 reais.

"Dizer que tem mecanismos fortes para usar em caso de necessidade, mas concretamente ser tímido na atuação como está sendo aumenta a imprevisibilidade e o nervosismo dos mercados em um momento que a aversão ao risco sobe", concluiu o operador da Advanced Corretora Alessandro Faganello.

BC está atuando para reduzir volatilidade, leilões do Tesouro continuam normalmente, diz Guardia

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou nesta sexta-feira que o Banco Central está anunciando medidas para reduzir a volatilidade no mercado de câmbio, mas pontuou que, do lado do Tesouro Nacional, "não tem nenhuma mudança".

O ministro se referia à decisão do BC de triplicar a oferta de contratos de swap cambial, equivalentes à venda de dólares no mercado futuro, anunciada nesta sexta-feira, quando o dólar não deu trégua e seguiu em alta ante o real. [nEMN30F27Z]

Falando à Reuters por telefone, Guardia ressaltou que o país não tem como lutar contra uma tendência internacional de fortalecimento da moeda norte-americana e sublinhou que a preocupação do governo é reduzir a volatilidade ao longo deste processo.

"No mercado de dívida vamos continuar normalmente com os leilões do Tesouro como a gente vem trabalhando normalmente", disse.

O dólar fechou a sessão a 3,7396 reais na venda, renovando seu maior nível em mais de dois anos, com os investidores acompanhando o movimento da moeda norte-americana ante divisas de países emergentes, embalado pela expectativa que os juros nos Estados Unidos podem subir mais do que o esperado. [nL2N1SP1MF]

Acompanhando o quadro desfavorável para mercados emergentes, o índice de referência do mercado acionário brasileiro caiu 0,65 por cento nesta sexta-feira. [nL2N1SP1PL]

Já as taxas dos contratos futuros de juros terminaram novamente com forte alta, ainda em resposta à decisão inesperada do BC de manter a Selic em 6,50 por cento ao ano e também com a disparada do dólar ante o real, ampliando as apostas de alta dos juros no último quadrimestre. [nL2N1SP1K9]

Se no mercado de câmbio a avaliação é de que persiste o reflexo de efeito global de valorização do dólar, em relação a bolsa de valores e juros Guardia disse ter havido um provável movimento de realização.

"Isso faz parte do dia a dia do mercado. Vamos seguir no nosso caminho, na nossa agenda de reformas, é isso que a gente vai fazer", afirmou o ministro, em referência à necessidade de medidas de consolidação fiscal e aumento de produtividade.

"Brasil tem hoje situação de contas externas extremamente favorável, com reservas internacionais elevadas, déficit em transações correntes muito baixo e financiado por investimento direto estrangeiro, com inflação baixa. Tudo isso diferencia o Brasil de diversas outras economias", defendeu.

(Por Marcela Ayres; Edição de Iuri Dantas)

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Fonte:
Reuters

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1 comentário

  • Carlos Alberto Erhart Sulina - PR

    Só acho que no momento em que o dólar está subindo tanto não deveriam ter reduzido tanto a taxa Selic.

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    • Tiago Gomes Goiânia - GO

      A economia está tão devagar que até poderia baixar um pouco sem grandes riscos inflacionários. Aos poucos começa-se a questionar o porquê da inflação estar tão baixa. Até então pouca importancia se dava à baixa capacidade da economia reagir, agora finalmente estão relacionando a baixa inflação com a paralisia da economia, o que me parecia obvio há muito tempo. Juros baixos (em partes), inflação baixa e economia ainda com pouca reaçao.

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    • Gilberto Rossetto Lucas do Rio Verde - MT

      Enquanto houver um Estado opressor; não haverá crescimento. As amarras, custo Brasil, burocracia estatal, etc continuam as mesmas, porque a economia iria crescer? Nas condições atuais, nenhum empreendimento se torna viável.

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