BC reforça atuação no câmbio e dólar cai ante real, mas não tira tendência de alta, dizem analistas

Publicado em 21/05/2018 16:18

LOGO REUTERS

Por Claudia Violante

SÃO PAULO (Reuters) - A atuação mais intensa do Banco Central no mercado de câmbio a partir desta segunda-feira conseguiu interromper o movimento de escalada do dólar ante o real após seis dias seguidos, mas não significa que a trajetória de valorização foi interrompida em definitivo, segundo analistas consultados pela Reuters.

"Essa atuação apenas vai tirar a intensidade de valorização do dólar ante o real", afirmou o economista e sócio da corretora NGO Câmbio, Sidnei Nehme, ao explicar que fatores internos e externos sustentam essa percepção.

Depois de a moeda norte-americana ter valorização de 5,44 por cento apenas nas últimas seis sessões, aproximando-se de 3,80 reais, o BC decidiu reforçar sua atuação no câmbio com oferta de até 15 mil novos swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda de dólares no mercado futuro. Até então, estava fazendo leilões diários de 5 mil contratos.

Acrescentou ainda que reservava o "direito de realizar atuações discricionárias, caso seja necessário" e que manteria o leilão diário até 4.225 swaps para rolagem do vencimento de junho, no total de 5,650 bilhões de dólares.

Com isso, neste pregão, o dólar já caía mais de 1 por cento, abaixo do patamar de 3,70 reais. Os recentes saltos da moeda norte-americana vieram com a percepção de que os Estados Unidos poderão elevar os juros mais vezes do que o inicialmente esperado, o que naturalmente causa uma reprecificação dos ativos ao redor do globo.

O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, avisou mais cedo que o Tesouro também pode atuar em conjunto com o BC para trazer mais equilíbrio, se necessário, apesar de reconhecer que o movimento de alta do dólar é global e não poderá ser contido pelo governo.

"Como emergentes, tivemos um 'downgrade' natural com essa reprecificação", afirmou o economista da corretora Nova Futura Pedro Paulo Silveira.

O Credit Swap Default (CDS) de 5 anos, uma medida de risco país, subiu 23,3 por cento desde o início de abril até a última sexta-feira, para 203,58 pontos, justamente quando o dólar disparou.

Com a economia dos Estados Unidos no pleno emprego, o Federal Reserve, banco central do país, pode ter que vir a elevar os juros quatro vezes este ano, ao invés das três inicialmente esperadas, com a expectativa de inflação mais elevada. Desta forma, dinheiro hoje aplicado em outras praças mais arriscadas, como o Brasil, deixam esses locais em busca da rentabilidade mais segura norte-americana.

"Se lá fora houver mais estresse, o BC pode ser mais atuante. Mas isso não vai conter a trajetória do dólar", afirmou o economista da corretora Guide, Ignácio Crespo Rey.

Não bastasse esse fenômeno global, o Brasil ainda tem uma justificativa adicional para afugentar o capital global: as eleições presidenciais de outubro, cercada por muita incerteza ainda.

"Se temos um mercado muito mais sofisticado do que outros emergentes, sem problema de liquidez, com reservas e mecanismos que funcionam, devíamos estar sofrendo menos que outros países mais vulneráveis", avaliou Nehme, da NGO Câmbio.

Um dos pontos mais sensíveis para o mercado é o fato de um candidato mais "market friendly" não decolar nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República. Ele temem que um candidato que considerem menos comprometidos com o ajuste fiscal ganhe tração.

Diante disso, poucos se arriscariam em dizer qual o teto que o dólar pode chegar frente ao real neste ano ainda. A certeza é que o cenário ainda é de pressão, mesmo com a ação do BC, como indica a pesquisa Focus do BC, que ouve semanalmente uma centena de economistas.

Agora, as estimavam apontam para o dólar a 3,43 reais no final deste ano, ante 3,30 reais previstos no início de abril.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
Reuters

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário