Guerra comercial: "O que mais preocupa é o mercado de frangos", diz ministro Maggi

Publicado em 19/06/2018 19:17
China aplicará uma tarifa de 25 por cento sobre a soja dos Estados Unidos a partir de 6 de julho; as consequencias serão severas para o Brasil, avalia o ministro da Agricultura Blairo Maggi

Disputa comercial EUA-China "só atrapalha" agronegócio do Brasil, diz Maggi

BRASÍLIA (Reuters) - A escalada da tensão comercial entre Estados Unidos e China "só vai atrapalhar o Brasil" e tende a elevar os custos da soja no país, com impacto negativo para a indústria brasileira de carnes, disse nesta terça-feira o ministro da Agricultura brasileiro, Blairo Maggi.

Para Maggi, as decisões do presidente dos EUA, Donald Trump, que têm gerado uma disputa comercial entre os norte-americanos e a China, são muito prejudiciais para o agronegócio brasileiro.

O preço da soja na bolsa de Chicago despencou para o menor nível em quase uma década nesta terça-feira, para menos de 9 dólares por bushel, em meio a um acirramento da disputa entre China e EUA.

Enquanto isso, os prêmios nos portos brasileiros em relação às cotações na bolsa norte-americana subiram, o que sustenta o preço da oleaginosa no mercado brasileiro, atento ao interesse chinês pelo produto nacional.

"O Brasil pode ter um prêmio. Cai Chicago, sobe o prêmio aqui e equipara um pouco (o preço) para o agricultor brasileiro. Mas isto tem efeitos colaterais muito ruins na produção de carnes do Brasil", destacou o ministro a jornalistas, citando os maiores custos.

Segundo ele, na medida em que o preço da matéria-prima da ração fica mais elevado na comparação com os EUA, a produção de frango e suínos no Brasil tem seus custos elevados, o que coloca em risco a competitividade da indústria de carnes.

"E vamos perder esses mercados (de carnes) para os americanos ou qualquer um outro lá fora. Perdemos competitividade na área de proteína animal. Quando vamos recuperar isto? Quando os EUA e a China sentarem e resolverem...", disse ele.

Ele disse que a indústria processadora de soja do Brasil também perde, uma vez que o farelo de soja fica menos competitivo na exportação, diante do preço mais alto da matéria-prima.

"Fora nossas fábricas de esmagamento que perdem, pois chinês só quer levar soja em grão, não quer levar soja farelo, e nossas fábricas perdem competitividade para vender farelo de soja na Europa, por exemplo... Para mim, a atitude do Trump em relação ao agro é muito prejudicial ao agronegócio...", declarou.

A Europa é o principal mercado para o farelo de soja do Brasil, enquanto a China, maior importador global do grão, é o principal mercado.

Com uma tarifa para a soja dos EUA aplicada pela China, a soja brasileira poderia ficar mais competitiva apenas para exportar aos chineses, que devem taxar o produto norte-americano.

Anteriormente, quando o mercado contabilizava apenas as ameaças de Trump, produtores brasileiros conseguiram avançar fortemente com seus negócios da oleaginosa, aproveitando os bons preços do produto.

No momento, no entanto, as incertezas --somadas aos problemas para negociar advindos do impasse em relação ao tabelamento do frete-- estão travando os negócios de soja do Brasil, tamanha a perda em Chicago nesta terça-feira, disseram corretores à Reuters.

Na última sexta-feira, a China anunciou que aplicará uma tarifa de 25 por cento sobre a soja dos Estados Unidos a partir de 6 de julho, em represália a medidas norte-americanas, e os mercados caíram mais nesta terça-feira após Trump ameaçar mais tarifas a produtos dos chineses, que advertiram que poderiam reagir novamente.

Negociação de soja do Brasil tende a travar ainda mais com queda de preço em Chicago

Por José Roberto Gomes

SÃO PAULO (Reuters) - A negociação de soja no Brasil, que já vinha travada pela ponta compradora, dadas as indefinições sobre frete, tende a ser ainda mais prejudicada agora que os preços da oleaginosa na Bolsa de Chicago estão em queda acentuada, desestimulando o lado vendedor, segundo especialistas ouvidos pela Reuters.

As cotações da oleaginosa renovaram mínimas nesta terça-feira em meio à crescente tensão comercial entre Estados Unidos e China, que trabalham com retaliações sobre diversos bens de ambos países. Mais cedo, os preços da commodity chegaram a atingir o menor patamar desde 2008 para um primeiro contrato em Chicago.

"Estamos em um mês de junho com pouca comercialização. Os preços tiveram uma queda bem expressiva, saíram de 10,50 dólares por bushel em maio para abaixo de 9 dólares agora... O produtor vai segurar para aguardar uma nova oportunidade de venda", disse o analista Adriano Gomes, da consultoria AgRural.

Segundo ele, produtores tiraram proveito da alta do dólar ante o real e conseguiram comercializar um bom volume de soja antes dos protestos dos caminhoneiros e posteriores reflexos, incluindo a tabela de fretes mínimos que afugentou compradores para negócios de curto prazo.

Nesse cenário, explicou Gomes, o sojicultor acaba preferindo mesmo aguardar um melhor momento para vender seu produto.

Estima-se no mercado que até 30 por cento da safra recorde deste ano, de quase 120 milhões de toneladas, ainda não tenha sido negociada.

"O produtor se retirou. Ninguém tem de vir a mercado desesperadamente vender", comentou a corretora Moema Damo Bombardieri, CEO da Moema Corretora de Grãos, em Santo Rosa (RS).

Para ela, o mercado de soja "pode travar até mais", pois participantes passam a olhar a partir de agora para a safra dos Estados Unidos, em fase final de plantio, que deve vir em bom volume, pressionando ainda mais os preços na Bolsa de Chicago.

Na mesma linha, a Chicago Corretora de Cereais, em Primavera do Leste (MT) afirmou que, com esse recuo nas cotações, vai ficar "inviável" para o produtor vender.

Desde 21 de maio, quando os protestos de caminhoneiros começaram, até agora, os valores domésticos da soja cederam 3 por cento, para cerca de 83 reais por saca, segundo monitoramento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, refletindo tanto as incertezas internas quanto o tombo em Chicago e a perspectiva ampla oferta.

ESPERANÇA NOS PRÊMIOS

Os especialistas ponderaram que uma melhora nos prêmios da soja brasileira, resultado direto da disputa entre EUA e China, pode ajudar a destravar algumas vendas, já que a tendência é Pequim se voltar ao produto nacional.

Nesta terça-feira, o prêmio da soja posta em Paranaguá (PR) para setembro, ante o valor em Chicago, atingiu 1,70 dólar por bushel, conforme o Cepea.

"Alguns negócios começaram a sair de setembro em diante. Para junho, julho, não vai ter comprador... Mas lá para frente, com essa briga mais acentuada, os negócios que seriam de China comprando dos EUA devem ser de China comprando do Brasil", disse o analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado.

Segundo ele, que já recebeu relatos de negócios nesta semana, o prêmio médio da soja brasileira costuma ser de 0,60 dólar por bushel.

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Fonte:
Reuters

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    A BRFoods fechou as operações em Campo Verde MT. Disse que não muda nada, afinal o que são os pouco mais de 50 produtores que vão ficar pendurados com alguns barracões de milhões de reais? Coisa pouca isso, o ministro tá é preocupado com o mercado... o mercado não precisa de você ministro, nem de seus burocratas e menos ainda da malta de puxa sacos que foi prá Ásia na boca livre paga com dinheiro público. Donald Trump não tem nada a ver com teu estrondoso fracasso, os caminhoneiros nada tem a ver com teu estrondoso fracasso. Se ninguém no mundo olha os dados, eu olho, e sei que o setor de carnes vem apanhando a muito tempo. Sei também que no governo você não passa de um badeco cumprindo uma agenda, ou pelo menos tentando cumprir... nem isso.

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    • Tiago Gomes Goiânia - GO

      O abate de perus na unidade da BRF em Mineiros /GO foi encerrada esses dias também.

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