Apesar de força de Bolsonaro, mercado aposta em ingresso firme de recursos apenas depois de 2º turno e reformas

Publicado em 08/10/2018 18:30

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Por Claudia Violante

SÃO PAULO (Reuters) - A possibilidade de Jair Bolsonaro (PSL) ganhar as eleições presidenciais no segundo turno não deve ser, por si só, motivo suficiente para um retorno forte de fluxo de recursos para o Brasil, avaliaram especialistas ouvidos pela Reuters.

Bolsonaro, com 46,03 por cento dos votos no primeiro turno segundo o boletim mais recente da Justiça eleitoral, diz que adotará reformas estruturais e cortes de gastos públicos, como desejado pelo mercado, mas investidores ainda mantém a cautela sobre o quanto dessa agenda liberal defendida pelo economista do candidato, Paulo Guedes, efetivamente sairá do papel.

Durante o segundo turno, o Brasil "deve atrair pontualmente recursos”, disse Silvio Campos Neto, analista da consultoria Tendências.

“Um volume mais consistente, mais consolidado, apenas com o término do processo eleitoral e com a indicação de que o vencedor (no caso de Bolsonaro) vai rezar essa cartilha que está sendo apontada."

Com 99,99 por cento das seções eleitorais apuradas, o petista Fernando Haddad aparecia com 29,28 por cento do total de votos válidos, uma distância do primeiro colocado que fez disparar o otimismo nos mercados nesta quarta-feira, não apenas pela distância do petista para o primeiro colocado, como também pela sinalização de uma base de apoio parlamentar com números importantes para Bolsonaro.

O candidato do PSL impulsionou também a bancada de seu partido na Câmara, que chegou a 51 cadeiras, a segunda maior, atrás apenas do PT, com 57 vagas, segundo previsão da XP, um dado importante diante da necessidade de aprovação de leis e mudanças constitucionais, como a reforma da Previdência.

Esse resultado animou os negócios nesta segunda-feira, uma vez que investidores "adotaram" Bolsonaro após o tucano Geraldo Alckmin (PSDB) não decolar na campanha por entenderem que Paulo Guedes dava respaldo liberalista visto como necessário para fazer a economia crescer, com reformas, enxugamento do tamanho do estado e ajuste fiscal.

CENÁRIO PARA A B3

Nesta segunda-feira, as primeiras reações ao resultado do primeiro turno foi de forte queda do dólar ante o real e dos juros futuros, além de alta firme do Ibovespa, um alívio bem-vindo na visão do economista e sócio NGO Corretora, Sidnei Nehme.

"Podemos ver mais entrada de fluxo, sobretudo para a bolsa, que está muito defasada em dólar...Mas é preciso ir com cuidado. Os problemas do Brasil continuam sem solução e precisamos implementá-las", disse.

Estrategistas do BTG Pactual, por exemplo, estimam o Ibovespa em 105 mil pontos no caso de vitória de Bolsonaro, sem citar prazos, enquanto o Santander Brasil considera esse patamar factível de ser atingido no final de 2019 dada a melhora do balanço de riscos do Brasil.

Desta forma, a perspectiva é de que haja um fluxo pontual de recursos, que deve se tornar mais firme se o desfecho do quadro eleitoral se confirmar de acordo com o que deseja o mercado e os problemas do País forem endereçados.

O avanço do Ibovespa, que subia mais de 4 por cento no meio da tarde, com a alta de papéis de empresas de controle estatal e analistas apostando que o índice da bolsa de São Paulo tem potencial de valorização ainda maior.

FATOR EXTERNO

Dados do Banco Central mostram que em setembro o fluxo cambial ficou negativo em 6,138 bilhões de dólares, segundo mês seguido deficitário, já que em agosto 4,250 bilhões de dólares deixaram o país.

"A questão eleitoral aqui com menor otimismo lá fora fez com que o investidor desse uma desanimada e culminasse no fluxo negativo", citou Campos Neto.

A alta dos juros em curso nos Estados Unidos e um ambiente de guerra comercial deixaram o mercado externo mais adverso, sobretudo aos emergentes, uma vez que a China, um forte comprador de commodities, é um dos principais países a ter embate com os norte-americanos.

Esse movimento, somado às três altas de juros já neste ano e a perspectiva de pelo menos outras cinco até o início de 2020 mostram um ambiente menos favorável ao risco e, consequentemente, a emergentes como o Brasil.

"De todo o modo, vejo um dólar justo para o Brasil ao redor de 3,70-3,75 reais, considerando os fundamentos do país", destacou o operador da corretora Spinelli, José Carlos Amado, para quem um ambiente mais tranquilo na seara política poderia levar a moeda a voltar a orbitar em cima dos fundamentos.

(Edição de Iuri Dantas)

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Fonte:
Reuters

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