Estudantes que protestam nesta 4ª-feira são "idiotas úteis" e "imbecis", diz Bolsonaro

Publicado em 15/05/2019 20:08

(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro chamou de "idiotas úteis" e "imbecis" os estudantes que participam nesta quarta-feira dos protestos em diversas cidades do país contra o bloqueio de verbas no Ministério da Educação, que tem afetado o funcionamento de instituições federais de ensino.

"São uns idiotas úteis, uns imbecis, que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais do Brasil", disse Bolsonaro a jornalistas em Dallas, no Texas, para onde viajou para receber um prêmio da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.

Ao comentar os protestos desta quarta, o presidente também disse que os manifestantes "não sabem nada" e que, se forem questionados sobre a fórmula da água, não saberão a resposta correta.

As declarações de Bolsonaro foram feitas pouco antes de o ministro da Educação, Abraham Weintraub, comparecer ao plenário da Câmara dos Deputados para explicar aos parlamentares o bloqueio de recursos da pasta, que o governo chama de contingenciamento e que os manifestantes classificam de corte.

"Não existe corte. Hoje nós temos um problema que eu peguei um Brasil destruído economicamente também, então as arrecadações não eram aquelas previstas por quem fez o Orçamento para o corrente ano, e se não houver contingenciamento eu simplesmente encontro à Lei de Responsabilidade Fiscal", disse Bolsonaro a jornalistas ao chegar no hotel em que ficará hospedado em Dallas, onde também se encontrará com o ex-presidente dos EUA George W. Bush.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) convocou protestos em todo o país contra o que afirma serem cortes no orçamento do Ministério da Educação, e atividades em algumas instituições de ensino públicas e privadas foram paralisadas nesta quarta em apoio ao movimento.

Ao anunciar o bloqueio de recursos, inicialmente, Weintraub disse que o alvo seriam algumas universidades federais que fariam "balbúrdia". Posteriormente, e diante de críticas, decidiu que todas as instituições seriam igualmente afetadas.

Ao comentar os protestos a jornalistas em Brasília, o vice-presidente Hamilton Mourão negou que os recursos da pasta estejam sendo cortados e garantiu tratar-se de um contingenciamento.

Ele também afirmou que o governo tem falhado na comunicação sobre o assunto e disse que a ida de Weintraub à Câmara na tarde desta quarta pode ajudar a esclarecer.

"O que existe não é corte, é contingenciamento que ocorreu ao longo de todos os governos. Aliás, a única exceção foi ano passado, que o presidente Temer liberou o Orçamento em fevereiro", disse o vice a jornalistas.

"Se o ministro souber explicar direitinho. Acho que vocês entenderam o que eu quis transmitir aqui, as coisas que estão acontecendo. Então, nós temos falhado na nossa comunicação, e agora é uma oportunidade dentro do Congresso que o ministro vai ter para explicar isso tudo", acrescentou.

Weintraub, o segundo titular da Educação em pouco mais de cinco meses de governo Bolsonaro, foi convocado para dar esclarecimentos por ampla maioria dos deputados, que aprovaram requerimento para que ele compareça à Casa para falar no plenário, numa demonstração da fragilidade da articulação política do governo no Congresso.

Weintraub questiona se deputados sabem o que é carteira de trabalho e provoca tumulto na Câmara

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Educação, Abraham Weintraub, travava duros embates com deputados durante audiência no plenário da Câmara dos Deputados, chegando a afirmar que já trabalhou com carteira assinada e questionando se os parlamentares sabiam do que se tratava.

Em sua fala, Weintraub negou ainda que existam cortes no orçamento da pasta que comanda, alegando tratar-se de um contingenciamento, e disse que o programa de governo do presidente Jair Bolsonaro previa priorizar a educação básica e fundamental e não o ensino superior.

"Nós não somos responsáveis pelo contingenciamento atual. O Orçamento atual foi feito pelo governo eleito de Dilma Rousseff e do senhor Michel Temer, que era vice. Nós não votamos neles, então nós não somos responsáveis pelo contingenciamento atual. Nós não somos responsáveis, absolutamente, pelo desastre da educação básica brasileira", disse o ministro aos deputados.

"Não estou querendo diminuir o ensino superior, o que a gente se propõe é cumprir com o plano de governo que foi apresentado a toda população durante a campanha. A prioridade é a pré-escola, o ensino fundamental e o ensino técnico, mantendo a atual estrutura das universidades, porém mudando a estratégia", acrescentou.

Durante os questionamentos de deputados, Weintraub foi duramente criticado por parlamentares da oposição. O líder do PT, Paulo Pimenta (RS), chamou o ministro de "covarde" enquanto o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), autor do requerimento de convocação do ministro, afirmou que a educação não é uma prioridade do governo Bolsonaro.

Em um dos momentos mais tensos da audiência até aqui, Weintraub lembrou que trabalhou como bancário, com carteira assinada, e disse que talvez os deputados não saibam o que é isso. Ele citou o ministro da Propaganda do regime nazista na Alemanha, Joseph Goebbels, ao afirmar que a oposição busca transformar mentiras em verdades.

"Eu não critico o outro lado, eu não quero morte para o outro lado, eu quero diálogo. Eu quero conversar com base em ciência, em números. Dois mais dois é quatro. Dois mais dois não é 30, não importa quantas vezes você diga isso. Goebbels falava que (se repetisse) mil vezes virava verdade. Continua sendo quatro. Não tem corte", disse Weintraub.

"Eu gostaria também de falar que eu fui bancário, carteira assinada, viu? A azulzinha, não sei se vocês conhecem. Trabalhei muito, pagava imposto sindical, trabalhei para valer, recebia o tiquetezinho. E tem mais uma coisa: quem ligou para o dono do Santander na Espanha para pedir a cabeça de uma bancária, colega minha, porque ela ousou falar que se a Dilma fosse eleita, o dólar ia subir e a bolsa ia cair, foi o Lula, que hoje está na cadeia", disparou.

Weintraub se referia ao episódio ocorrido durante a campanha eleitoral de 2014 em que uma funcionária do banco Santander escreveu em nota a clientes de alta renda da instituição que a reeleição da então presidente Dilma Rousseff deterioraria o desempenho da economia brasileira.

A declaração do ministro instaurou um tumulto no plenário e o presidente em exercício da Câmara, Marcos Pereira (PRB-SP), pediu calma aos deputados, ao mesmo tempo que disse ter se sentido pessoalmente ofendido pela declaração de Weintraub sobre a carteira de trabalho e pediu ao ministro que se ativesse ao tema da audiência.

PROTESTOS

A audiência de Weintraub na Câmara acontece no mesmo dia em que dezenas de milhares de manifestantes protestam em cidades de todo o país contra o bloqueio de recursos do ministério, que tem afetado pesquisas e o funcionamento de instituições de ensino federais.

Em Brasília, de acordo com a Polícia Militar local, 7 mil protestavam em frente ao Congresso Nacional com cartazes e palavras de ordem contra o governo. Imagens da TV e fotografias mostravam a Avenida Paulista, na região central de São Paulo, lotada de manifestantes contrários ao bloqueio de recursos na Educação.

Mais cedo, em Dallas, nos Estados Unidos, onde receberá uma homenagem na quinta-feira, Bolsonaro classificou os estudantes que participam das manifestações convocadas pela União Nacional dos Estudantes (UNE) de "idiotas úteis" e "imbecis".

"São uns idiotas úteis, uns imbecis, que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais do Brasil", disse Bolsonaro a jornalistas em Dallas.

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Fonte:
Reuters

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