Selic a 6,5%: CNI espera redução após a reforma da Previdência; Firjan queria diminuição imediata

Publicado em 20/06/2019 09:05

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu ontem (19), por unanimidade, manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 6,5% ao ano. É a décima vez seguida que a taxa se mantém inalterada. A decisão era esperada pelos analistas financeiros, mas algumas entidades, como a Firjan, esperavam um corte na taxa no sentido de promover os negócios. 

Já a avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é de que o BC só poderá reduzir a Selic após a aprovação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. A entidade cobrou engajamento do governo para mudanças na legislação que reduzam os gastos públicos.

“A decisão mostra a cautela do Banco Central em relação à tramitação da reforma da Previdência e aos possíveis impactos sobre as variáveis econômicas, como o câmbio, o déficit nas contas públicas e o investimento”, informou a CNI em comunicado.

Para a entidade, existe um ambiente favorável à redução dos juros porque a inflação continua abaixo da meta e porque a economia segue com crescimento baixo. “No plano doméstico, diminuíram as pressões sobre os preços e a inflação continua abaixo da meta, e as dificuldades de recuperação da atividade indicam que a economia crescerá menos de 1% neste ano. Além disso, o desemprego continua alto, o que compromete o consumo das famílias”, ressaltou a confederação.

De acordo com a CNI, no cenário internacional, a desaceleração da economia mundial estimula o corte de juros em países emergentes, como o Brasil, antes mesmo de o Federal Reserve (Fed), Banco Central norte-americano, voltar a cortar as taxas. “A queda dos juros é fundamental para estimular os investimentos, o consumo e, consequentemente, o crescimento econômico e a criação de empregos”, conclui o comunicado.

Firjan

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) se posicionou argumentando que havia condições para uma redução da taxa, com objetivo de estimular o quadro econômico. “A economia brasileira segue com elevada ociosidade nos fatores de produção e, com isso, a atividade econômica segue abaixo do seu potencial, sem pressionar a inflação e suas expectativas. Nesse cenário, e diante das sucessivas reduções das expectativas de crescimento para o ano, a Firjan entende que havia espaço para o Copom reduzir a taxa básica de juros, estimulando a atividade econômica sem comprometer a meta de inflação”, sustentou a entidade.

A Firjan reiterou, ainda, que a aprovação da reforma da Previdência, com a inclusão de estados e municípios, “é condição fundamental para a ancoragem das expectativas de inflação e a retomada do crescimento sustentável. Sem isso, corremos o risco de voltar a conviver com um ambiente de baixo crescimento e inflação e juros altos”.

A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para o fimde julho.

FecomercioSP

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) divulgou uma nota dizendo que aprova a decisão do Copom de manter a taxa Selic em 6,5%. “Para a entidade, a decisão foi sábia e aponta um BC [Banco Central] não influenciado pela empolgação do início do ano, tampouco pelo ambiente conturbado dos últimos meses, e deve manter o equilíbrio ao longo deste primeiro semestre” , informou a entidade.

A FecomercioSP avalia que, com o avanço e possibilidade de aprovação da reforma da Previdência no Congresso em 2019, existe a possibilidade da taxa Selic cair no fim do ano, podendo ficar abaixo de 6% em dezembro. “É importante ressaltar que a entidade apoia o processo de redução de juros diante de um cenário econômico mais tranquilo, com a inflação controlada.”

BC mantém juro em 6,5% e indica corte da Selic apenas depois de Previdência aprovada

SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira, por unanimidade, a taxa Selic no piso histórico de 6,50% ao ano pela décima reunião consecutiva, um recorde, e ressalvou que, embora o balanço de riscos para a inflação tenha evoluído de maneira favorável, o risco relacionado à agenda de reformas é preponderante, o que pede manutenção do juro básico no atual patamar.

A sinalização dada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), segundo economistas, é de que cortes de juros só ocorrerão após a aprovação da reforma da Previdência no plenário da Câmara dos Deputados, o que de acordo com algumas estimativas mais otimistas pode acontecer em julho.

A indicação do BC contraria, assim, o entendimento de parte do mercado de que a percepção de que a reforma caminha para ser aprovada seria suficiente para determinar um corte da taxa. E se dá num momento em que a economia corre risco de entrar em recessão técnica, as expectativas de inflação perdem força –afastando-se mais do centro da meta-- e o mercado vê o ambiente político mais benigno.

"O Copom introduziu um viés 'dovish', deixou a porta aberta (para uma redução dos juros)", disse Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para a América Latina. "(Mas) acho que só vai de fato considerar cortar em julho se a reforma da Previdência for aprovada em primeiro turno no plenário da Câmara. Se essa votação não acontecer, ou se for aprovado um texto muito aguado, pode decidir não cortar."

A decisão do BC nesta quarta-feira veio em linha com a apontada por pesquisa Reuters. No mercado de derivativos da B3, a aposta predominante era de estabilidade da Selic para esta quarta-feira, mas contratos futuros de DI chegaram a indicar na semana passada mais de 20% de probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual.

Na B3 e na pesquisa Focus do Banco Central, o mercado já projeta Selic perto de 5,75% ao fim deste ano.

 

PROJEÇÕES

As projeções do Copom para a inflação --tanto no cenário de mercado quanto no de referência-- indicam IPCA abaixo do centro da meta em 2019 e 2020, o que poderia ser visto como um reforço à perspectiva de alívio monetário.

No cenário de mercado, que considera projeções para câmbio e juros de analistas consultados pelo Banco Central para a pesquisa Focus, o Copom projeta alta para o IPCA de 3,6% em 2019 e de 3,9% em 2020. Em maio, as estimativas eram de 4,1% e 3,8%, respectivamente.

A meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para este ano é de 4,25%. Para 2020, cai para 4,00%.

No cenário de referência, que leva em conta taxas de juros e de câmbio constantes, o Copom prevê IPCA de 3,6% para 2019 e de 3,7% para 2020. Em maio, os prognósticos estavam em 4,3% e 4,0%, respectivamente.

"O Banco Central sinalizou que está pronto para cortar os juros", disse Eduardo Velho, economista-chefe da GO Associado, para quem a sinalização de agora é "praticamente igual" à feita pelo Copom em agosto de 2016, quando o BC chamava a atenção para a importância do projeto que estabeleceu o teto de gastos.

"(Mas) acho que o cenário mais provável é que (o Copom) comece a recuar a taxa de juros a partir da segunda reunião do segundo semestre", acrescentou o economista, referindo-se ao mês de setembro. Velho projeta Selic de 5,5% ao fim de 2019.

 

RISCO EM AMBAS AS DIREÇÕES

O BC excluiu o termo "simétrico" para se referir ao balanço de risco à inflação --utilizado no comunicado da decisão de maio. E informou que em seu cenário básico para a inflação permanecem fatores de risco em ambas as direções.

O Copom citou três riscos: dois domésticos e um externo. Para o colegiado, uma "eventual frustração" das expectativas para reformas e ajustes necessários à economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária.

Esse risco é intensificado, segundo o Copom, com a eventual deterioração do cenário externo para economias emergentes.

Do lado benigno para a inflação, o "elevado" nível de ociosidade da economia pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado para a alta dos preços.

Ainda no comunicado, o Copom reiterou que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, "com taxas de juros abaixo da taxa estrutural" -aquela que, teoricamente, não estimula nem restringe o crescimento econômico e mantém a inflação na meta. Também eliminou trecho que mencionava que sua avaliação sobre o cenário econômico poderia não ser concluída a curto prazo.

O texto do comunicado deu sequência às mudanças gradativas feitas pelo colegiado do BC no sentido de se ajustar ao cenário de atividade econômica e inflação mais fracas, o que tem corroborado expectativas de cortes da Selic nos próximos meses.

Em fevereiro, o Copom disse que o balanço de riscos para a inflação mostrava "assimetria" para uma inflação mais elevada. Já em março, o colegiado passou a considerar riscos simétricos, com atividade econômica em "ritmo aquém do esperado", mas em processo de retomada.

Em maio, o Banco Central manteve a leitura de balanço de riscos simétrico para a inflação, mas sugeriu piora na avaliação para a economia ao dizer que os indicadores sinalizavam "continuidade" do arrefecimento da economia do fim de 2018 para o início de 2019, esperando retomada do processo de recuperação "gradual".

Além disso, na ata da reunião de maio, o Copom reconheceu que os riscos associados à ociosidade dos fatores de produção haviam se elevado na margem.

Com a manutenção da Selic nesta quarta-feira, o Copom evita mexer nos juros pela décima reunião consecutiva, um recorde do regime de metas de inflação no Brasil. Entre setembro de 2015 e agosto de 2016, o colegiado do BC deixou os juros em 14,25% por nove reuniões seguidas.

A próxima reunião de política monetária do BC está prevista para os dias 30 e 31 de julho.

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Fonte:
Agencia Brasil /Reuters

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