Com risco crescente de calote, Fitch e S&P reduzem nota da Argentina para -B

Publicado em 16/08/2019 18:59
Fitch reduz nota da Argentina para CCC e cita risco de descontinuidade política

BUENOS AIRES, (Reuters) - As agências de classificação de risco Fitch e S&P reduziram a nota de crédito da Argentina nesta sexta-feira, citando maiores chances de um calote na esteira de um resultado surpreendente das eleições primárias que afundou o país em mais uma crise.

Os mercados argentinos despencaram ao longo de boa parte da semana depois da votação de domingo, quando o candidato de centro-esquerda Alberto Fernández ficou bem à frente do presidente Maurício Macri. A larga vantagem de Fernández indica que ele pode vencer as eleições de outubro no primeiro turno, potencialmente pondo fim a reformas liberais e a um plano de austeridade apoiado pelo FMI.

Os rebaixamentos das agências põem fim a uma semana difícil em que o peso perdeu quase 20% de seu valor, forçando o Banco Central argentino a consumir suas reservas com a oferta de leilões em dólar.

A Fitch cortou o rating soberano da Argentina de "B" para "CCC", enquanto a S&P rebaixou sua nota para "B", de "B-".

"O rebaixamento do rating da Argentina reflete a incerteza política elevada após as eleições primárias, um aperto severo das condições de financiamento e uma deterioração esperada no ambiente macroeconômico que aumenta a probabilidade de um default na dívida soberana ou algum tipo de reestruturação", disse a Fitch.

A Fitch elevou para 2,5% sua estimativa de contração da economia argentina em 2019, frente a uma projeção anterior de queda de 1,7%, e disse estimar uma estagnação da atividade no ano que vem. A agência acrescentou que espera que a dívida pública aumente para cerca de 95% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano.

A S&P projetou que o crescimento em 2019 cairá 2,3%, ante previsão anterior de declínio de 1,6%.

Alejo Czerwonko, estrategista de mercados emergentes do UBS Global Wealth Management, disse que o rebaixamento da Fitch não vai mudar substancialmente a opinião de muitas pessoas sobre a solidez da dívida argentina.

"A Argentina já havia sido classificada em grau especulativo e isso está empurrando o rating um pouco mais fundo, mas revela pouca informação nova para os investidores", disse ele. "Isso levará outras agências de classificação a reavaliar a classificação."

Enquanto a Fitch disse que espera que o crescimento da Argentina seja estável em 2020, a S&P viu o crescimento em 0,5%, ante projeção anterior de 2,2%, destacando incertezas sobre as políticas de Fernández.

A Fitch disse que as chances de Fernández vencer a eleição aumentaram, levantando dúvidas sobre o futuro do plano de austeridade de Macri apoiado pelo FMI. O fato da companheira de chapa de Fernández ser a ex-presidente de esquerda Cristina Fernández de Kirchner, cética há tempos sobre o programa do FMI, apenas aumentou essas dúvidas, disse a Fitch.

"Nós podemos rebaixar a nota ao longo dos próximos 12 a 18 meses se o estresse econômico e financeiro continuar a crescer", disse a S&P, acrescentando que viu uma "chance maior do que um em três de um novo corte ao longo do próximo ano."

Peso argentino cai 17,6% na semana em meio à crise financeira

BUENOS AIRES (Reuters) - O peso argentino continuou sua recuperação nesta sexta-feira, embora tenha fechado a semana com forte depreciação, em meio a preocupações de investidores sobre o impacto de novas medidas econômicas tomadas pelo governo, disseram operadores.

A moeda encerrou o dia com um avanço de 4,36%, para 54,60/55,00 pesos por dólar, fechando a semana com uma depreciação de 17,58%. No acumulado do ano, o peso acumula queda de 31,45%.

O peso caiu para uma mínima recorde nesta semana, após o resultado das eleições primárias de domingo, onde a oposição foi vencedora por uma diferença esmagadora.

Em meio à crise financeira desencadeada pela derrota nas urnas, o presidente Mauricio Macri buscou reduzir o impacto social da forte depreciação da moeda local com a eliminação temporária de imposto sobre o consumo de alimentos básicos. A medida é válida até dezembro, quando começa um novo mandato presidencial.

Bolsonaro avaliza declaração de Guedes sobre saída do Mercosul se Argentina fechar economia

(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira que avaliza a declaração dada na véspera pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o Brasil deixará o Mercosul caso a oposição vença a eleição presidencial na Argentina e decida fechar a economia do país.

Em entrevista a jornalistas ao deixar o Palácio da Alvorada em Brasília, Bolsonaro disse não acreditar que o candidato da oposição no país vizinho, Alberto Fernández, queira seguir um caminho de liberdade e democracia, que para ele vem sendo trilhado pelo atual presidente argentino, Mauricio Macri, seu aliado.

"O atual candidato que está na frente na Argentina, que tem na vice a Cristina Kirchner, já esteve visitando o Lula, já falou que é uma injustiça o Lula estar preso, já falou que quer rever o Mercosul. Então o Paulo Guedes --perfeitamente afinado comigo, por telepatia-- já falou: 'se criar problema, o Brasil sai do Mercosul'. Está avalizado, sem problema nenhum", disse Bolsonaro.

"Eu não acredito que ele (Fernández) queira seguir nessa linha de liberdade e democracia. Esse pessoal quando se apodera do poder, não quer sair mais. E sempre vivendo às custas da coisa pública", disse.

O presidente disse, no entanto, que está disposto a conversar com Fernández se ele vencer a eleição, mas avisou que o gesto terá de partir de Fernández, que tem como candidata a vice a ex-presidente Cristina Kirchner.

"Eu converso até com a Folha de S.Paulo, quem dirá com o futuro presidente da Argentina", disse o presidente. Ao ser indagado sobre se procuraria Fernández caso ele vença a eleição presidencial argentina de outubro, negou.

"Não, não. Ele é que vai ter que dar o sinal. Quando eu tomei posse eu falei que ia manter a democracia, a liberdade, abrir o mercado, respeitar as religiões, e é isso que eu estou fazendo."

Bolsonaro voltou a citar a reação dos mercados financeiros à vitória da coalizão encabeçada por Fernández nas primárias da eleição presidencial argentina no último domingo e reiterou que, se o oposicionista vencer, o Rio Grande do Sul pode ter de lidar com a mesma onda de imigração enfrentada por Roraima por causa da crise na Venezuela.

"Olha a Argentina aqui, o que aconteceu com a bolsa, com o dólar, com a taxa de juros deles. O mercado deu um sinal de que não vai perdoar a esquerda na Argentina novamente, o pessoal vai tirar de lá. Os empresários não vão investir na Argentina enquanto não resolver a situação política", disse.

Mais tarde, no Palácio do Planalto, Bolsonaro voltou a antever problemas em caso de vitória da chapa Fernández-Cristina na Argentina, inclusive para o acordo Mercosul-União Europeia.

"Depende do futuro presidente da Argentina. Se tiver uma linha semelhante a do Maduro ou da própria Cristina Kirchner, a gente vai ter dificuldade", disse o presidente a jornalistas. "O que nós construirmos agora com a União Europeia vai fazer água."

A eleição presidencial na Argentina acontece em outubro, mas a ampla vantagem obtida pela oposição nas primárias a deixa com amplo favoritismo para vencer o pleito.

O presidente voltou a dizer que ainda não definiu quem nomeará para chefiar a Procuradoria-Geral da República, mas afirmou que o subprocurador Augusto Aras segue no páreo.

Ele defendeu que o chefe do Ministério Público Federal não pode estar focado apenas no combate à corrupção, mas também estar preocupado em não travar a economia e não ser "um xiita" em questões ambientais, indígenas e ligadas a minorias.

Mercados argentinos têm recuperação moderada em meio a crise

BUENOS AIRES (Reuters) - O peso argentino estava em alta e o risco-país caía nesta sexta-feira, após o colapso dos mercados financeiros locais no início desta semana devido à derrota esmagadora sofrida pelo atual presidente, Mauricio Macri, nas eleições primárias no domingo.

A recuperação começou na quinta-feira, depois que um diálogo entre o presidente neoliberal Mauricio Macri e o líder da oposição de centro-esquerda, Alberto Fernández, acalmou os mercados, que temem problemas de governabilidade até dezembro, quando o novo mandato presidencial começa.

Macri também anunciou nesta semana uma série de medidas para aliviar a situação de muitos argentinos, que já estão começando a sentir o impacto inflacionário da forte depreciação do peso.

Em contrapartida, as medidas poderiam atingir os cofres do Estado, cujo déficit Macri tenta reverter desde que assumiu o poder em 2015.

Depois de cair 21% esta semana, apesar da intervenção do banco central, o peso argentino subia 1,4% na sexta-feira, enquanto o risco país caiu 116 unidades, para 1,622 pontos base.

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Fonte:
Reuters

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