Dólar fecha acima de R$ 4,12, na máxima em quase um ano, e mercado aguarda BC

Publicado em 23/08/2019 15:46

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Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar voltou a subir forte ante o real nesta sexta-feira, fechando no maior patamar em quase um ano, acima de 4,12 reais, com o mercado doméstico sob intensa pressão decorrente do arisco ambiente externo e de reveses do lado da agenda de reformas do governo.

O dólar à vista fechou em alta de 1,15%, a 4,1244 reais na venda.

É o maior patamar para um encerramento desde 18 de setembro de 2018 (4,1422 reais na venda). O dólar terminou a sessão a 1,73% do recorde de fechamento do Plano Real (4,1957 reais, de 13 de setembro de 2018).

No pico intradia, a moeda bateu 4,1330 reais na venda. Na compra, a cotação máxima deste pregão foi de 4,1318 reais, patamar mais elevado desde 25 de setembro do ano passado (4,1413 reais na compra).

O mercado já acordou com a China tendo anunciado tarifas retaliatórias contra bens norte-americanos. Posteriormente, declarações do chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, ajudaram a acalmar os mercados e a levar o dólar à mínima do dia (de 4,0510 reais, queda de 0,65% no dia).

Mas, na sequência, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse, em tom de ameaça, que até o fim da tarde anunciaria resposta às tarifas chinesas, reavivando temores de uma intensificação do embate comercial entre as duas maiores economias do mundo, que tem prejudicado a demanda por ativos de risco e elevado receios de recessão.

Como resultado, o dólar acelerou os ganhos frente a moedas emergentes e aprofundou as quedas contra divisas consideradas refúgio, sobretudo iene e franco suíço.

Aqui, o salto da cotação do dólar, que fez a moeda rapidamente deixar para trás níveis de resistência técnica, começa a levantar no mercado discussões sobre se o Banco Central deveria ser mais agressivo a fim de conter distorções no mercado, uma vez que o real mais uma vez esteve entre as divisas de pior desempenho na sessão.

Entre as distorções, a taxa do casado (cupom cambial de curtíssimo prazo) disparou para 6%, contra patamares mais usuais em torno de 2,5%. É justamente para aliviar essa taxa --vista como juro em dólar e termômetro da percepção de liquidez no mercado à vista-- que o BC começou a fazer leilões de venda direta de dólares no mercado à vista, depois de uma década sem recorrer a esse instrumento.

"Não me surpreenderia se no fim da sessão de hoje o BC anunciasse um reforço desses volumes", disse Thiago Silencio, operador de câmbio da CM Capital Markets, acrescentando que o mercado também reagia ao risco de eventuais barreiras comerciais aos produtos agrícolas brasileiros na esteira da repercussão das queimadas na Amazônia.

Silencio lembrou, contudo, que o mercado já se encontra na última semana do mês, geralmente marcada por mais volatilidade e distorções nas taxas de cupom cambial.

"O real tem sido a pior moeda quase todos os dias. O mercado de câmbio está claramente desequilibrado", disse um gestor em São Paulo. "Se ele (BC) não entrar hoje (com reforço nas atuações), acho que tudo piora", completou, acrescentando que o mercado está "testando" a disposição do BC em intervir.

Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 550 milhões de dólares ofertados no mercado à vista.

Receios de atraso na tramitação da reforma da Previdência no Senado também preocupavam o mercado. Na véspera, o relator da reforma da Previdência na Casa, Tasso Jereissati (PSDB-CE), informou que não apresentaria seu parecer sobre a proposta nesta sexta-feira, como previsto, o que pode atrasar a tramitação em quatro ou cinco dias.

Em agosto, o real acumula desvalorização de 7,45%, o que deixa a moeda brasileira na vice-liderança das maiores perdas no mês nos mercados de câmbio, atrás apenas do tombo de 20,6% do peso argentino.

Mas alguns analistas veem esse movimento como exagerado.

"Após desvalorizar 7,5% no mês, vemos o real muito defasado dos pares e ainda cremos que o Brasil tem bons fundamentos para outperformar (ter performance melhor que seus pares)", disse Vicente Matheus Zuffo, diretor de investimentos da SRM Asset.

"Mantemos nossa visão pessimista com short (posição vendida em) S&P 500, mas entendemos que a carteira fica equilibrada com o short de dólar nesses níveis", finalizou.

BC aumentará uso de reservas internacionais para intervir no câmbio

Banco Central venderá mais US$ 11,6 bi no mercado à vista (Agencia Brasil)

Depois de começar a usar os dólares das reservas internacionais para intervir no câmbio, o Banco Central (BC) anunciou hoje (23) à noite que ampliará a estratégia. Ao longo de setembro, a autoridade monetária vai trocar US$ 11,6 bilhões de contratos de swap(venda de dólares no mercado futuro) em circulação no mercado por recursos das reservas externas.

Desde quarta-feira (21), o BC está vendendo até US$ 550 milhões por dia das reservas internacionais para segurar o câmbio. As operações são feitas de forma conjugada com swaps cambiais reversos (compra de dólares no mercado futuro) no mesmo valor, para manter a posição cambial (confronto entre os contratos cambiais e os dólares comprados e vendidos) da autoridade monetária.

Até o início desta semana, o Brasil possuía US$ 388 bilhões em reservas internacionais, que funcionam como um seguro para o país em momentos de choques externos. O BC usava exclusivamente os contratos de swap cambial para atuar no mercado futuro e segurar o dólar em momentos de volatilidade. Esse tipo de operação não altera as reservas internacionais, mas pressiona os juros da dívida pública, aumentando o endividamento do governo.

A autoridade monetária, no entanto, começou a mudar a estratégia. Entre os dias 21 e 29 deste mês, o BC venderá até US$ 3,845 bilhões das reservas. Com os US$ 11,6 bilhões a serem vendidos, as reservas serão reduzidas para US$ 372,56 bilhões até o fim de setembro. A venda direta de moeda norte-americana reduz o seguro externo contra crises, mas diminui os juros da dívida pública num momento de dificuldades fiscais.

Nesta sexta-feira, o dólar fechou em R$ 4,124, na maior cotação em quase um ano, em meio ao acirramento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China.

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Fonte:
Reuters/Agencia Brasil

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