G7 acorda sobre ajuda à Amazônia "o mais rápido possível"; Bolsonaro será avisado

Publicado em 25/08/2019 10:40
Apoio a países afetados por incêndios é consenso entre líderes

Chefes de Estado e governo do G7 que participam de sua 45ª conferência de cúpula acordaram sobre o envio de ajuda aos países afetados pelos incêndios na Região Amazônica "o mais rápido possível", declarou neste domingo (25/08) o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron.

Ele acrescentou que os líderes das maiores potências econômicas avançadas estão se aproximando de um consenso sobre como ajudar a extinguir o fogo e reparar os danos resultantes. Trata-se de encontrar os mecanismos apropriados, tanto técnicos quanto financeiros, acrescentou, e "tudo depende dos países da Amazônia", que compreensivelmente defendem sua soberania.

"Mas o que está em jogo na Amazônia, para esses países e para a comunidade internacional, em termos de biodiversidade, oxigênio, a luta contra o aquecimento global, é de tal ordem, que esse reflorestamento tem que ser feito", advertiu.

Embora 60% da Região Amazônica se situe no Brasil, a maior floresta do mundo também se estende por oito outros países: Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela, e até mesmo o departamento ultramarino da França, Guiana Francesa.

Na qualidade de atual presidente do G7, Macron colocara os incêndios amazônicos no topo da agenda da cúpula, após declará-los emergência global. Numa iniciativa controversa, ele também ameaçou não ratificar o acordo de livre-comércio assinado entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), devido às "mentiras" do presidente Jair Bolsonaro quanto a seu real comprometimento climático e ambiental.

Um vídeo gravado pelas câmeras oficiais da cúpula mostrou uma reunião em que líderes europeus discutem justamente a crise na Amazônia. Nas imagens, divulgadas no sábado pela agência Bloomberg, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, aparece afirmando aos colegas que pretende discutir a situação das queimadas diretamente com o presidente Jair Bolsonaro.

Além de Merkel e Macron, também estavam à mesa o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o premiê italiano, Giuseppe Conte.

A chefe de governo alemã afirma que ligará para o brasileiro na próxima semana "para que ele não tenha a impressão de que estamos trabalhando contra ele". Johnson diz em seguida que acha isso "importante". Até Macron, que primeiro pergunta de quem eles estão falando, para confirmar se se trata de Bolsonaro, expressa seu apoio à ligação. "Eu vou ligar", confirma Merkel.

O vídeo não parece ter sido gravado intencionalmente para ir a público. Em certo momento da conversa, uma mão cobre as lentes da câmera, e a imagem é cortada.

Reuters/Direitos Reservados

Nações do G7 estão perto de acordo para ajudar a combater incêndios na Amazônia (Reuters)

BIARRITZ, França (Reuters) - O presidente da França, Emmanuel Macron, disse neste domingo que os líderes dos principais países industrializados do mundo estavam próximos de um acordo sobre como ajudar a combater os incêndios na floresta amazônica e tentar reparar a devastação.

    "Existe uma convergência real a dizer: 'vamos todos concordar em ajudar os países atingidos por esses incêndios'", disse ele a repórteres em Biarritz, que está sediando a cúpula anual de líderes do G7.

    Ele disse que os países do G7, incluindo Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Canadá, estão finalizando um possível acordo sobre "ajuda técnica e financeira".

    Macron colocou os incêndios na Amazônia no topo da agenda da cúpula, depois de declará-los uma emergência global, e iniciou discussões sobre o desastre em um jantar de boas-vindas para colegas líderes no sábado.

    Uma autoridade da UE, que não quis ser identificada, disse que os líderes do G7 concordaram em fazer todo o possível para ajudar a combater os incêndios, dando a Macron um mandato para entrar em contato com todos os países da região amazônica para ver o que era necessário.

    "Foi a parte mais fácil das negociações", disse a autoridade.

    Um número recorde de incêndios está devastando a floresta tropical, muitos deles no Brasil, atraindo preocupação internacional devido à importância da Amazônia para o meio ambiente global.

    Macron na semana passada acusou o governo do presidente brasileiro Jair Bolsonaro de não fazer o suficiente para proteger a área e de mentir sobre seus compromissos ambientais.

    Macron disse no domingo que as potências mundiais precisam estar prontas para ajudar no reflorestamento, mas reconheceu que há opiniões diferentes sobre esse aspecto, sem entrar em detalhes.

    "Existem várias sensibilidades que foram levantadas em torno da mesa, porque tudo isso também depende dos países amazônicos", disse ele, acrescentando que a maior floresta tropical do mundo é vital para o futuro do planeta.

    "Enquanto respeitamos a soberania, precisamos ter um objetivo de reflorestamento e devemos ajudar cada país a se desenvolver economicamente", afirmou.

(Reportagem de Simon Carraud e Michel Rose)

Guerra comercial com China abre divergências do G7 com Trump

BIARRITZ, França (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, insistiu neste domingo que estava se dando bem com os líderes em uma cúpula do G7 na França, mas divergências com seus aliados ocidentais surgiram em questões que vão desde sua guerra comercial com a China ao Irã, Coreia do Norte e Rússia.

    O encontro do G7 está ocorrendo em um cenário de preocupações com uma crise econômica global e coincide com uma era de desunião internacional em uma série de questões.

    "Antes de eu chegar à França, as notícias falsas e repugnantes diziam que as relações com os outros 6 países do G7 são muito tensas e que os dois dias de reuniões serão um desastre", escreveu Trump no Twitter pouco antes de se reunir com o novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

    "Bem, estamos tendo ótimas reuniões, os líderes estão se dando muito bem e nosso país, economicamente, está indo muito bem - o assunto do mundo!"

    As tensões começaram a aparecer rapidamente, no entanto, quando o primeiro dia inteiro de negociações entre os líderes de Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e EUA começou em Biarritz, no sudoeste da França.

    Antes de sair de Washington, Trump intensificou sua guerra tarifária com Pequim em uma batalha entre as duas maiores economias do mundo que assustou os mercados financeiros e pediu às empresas norte-americanas que se afastassem da China.

    Johnson, do Reino Unido, manifestou preocupação no sábado com o crescente protecionismo e disse que aqueles que apóiam as tarifas "correm o risco de incorrer na culpa pela desaceleração da economia global". Sentado em frente a Trump no domingo, ele disse: "Somos a favor da paz comercial em geral e diminuir o tom, se pudermos".

    Questionado se estava sendo pressionado por aliados a ceder em seu impasse com a China, Trump disse: "Acho que eles respeitam a guerra comercial".

  • Giuseppe Conte, premiê da Itália; Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu; Shinzo Abe, premiê do Japão; Donald Trump, presidente dos EUA; Boris Johnson, premiê do Reino Unido; Emmanuel Macron, presidente da França; Angela Merkel, chancelere da Alemanha; e Justin Trudeau, premiê do Canadá, participam de cúpula do G7 em Biarritz, França 25/08/2019.

Macron usa Amazonia para defender agricultores franceses contra Brasil (em O Globo)

A França está preocupada com o impacto em sua vasta indústria agrícola das importações da América do Sul, que não teriam que respeitar os rígidos regulamentos ambientais da UE, diz reportagem da Blomberg.

Segundo a agencia, o presidente da França, Emmanuel Macron, assumiu publicamente um desafio na abertura do encontro do grupo de países ricos do G7 (Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Japão, Itália e Canadá): prometeu “medidas concretas” sobre as queimadas na Amazônia, tema introduzido de última hora no cardápio da cúpula do G7.

Mas a  aposta de Macron enfrenta, no entanto, um G7 dividido, em uma reunião conhecida por não tomar ações decisivas. 

O presidente americano, Donald Trump, é reconhecido por seu pouco apreço à causa ecológica. Berlim e Londres já se manifestaram contra colocar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE) na disputa ambiental com o governo brasileiro, discurso também partilhado por Madri.

Impasse sobre mercosul

Como instrumento de pressão, Macron recorreu ao pacto comercial entre o Mercosul e a UE, assinado em junho após duas décadas de negociações: se o governo brasileiro não respeitar as exigências do Acordo de Paris sobre clima, a França não ratificará o acordo. A iniciativa francesa recebeu o apoio de países de menor peso político, como a Irlanda e a Finlândia, mas foi acolhida com reservas pela Alemanha, de Angela Merkel e o Reino Unido, de Boris Johnson.

Berlim criticou a atitude do governo brasileiro em relação à Amazônia e ao meio ambiente, mas afirmou que impedir o acordo UE-Mercosul “não é a resposta apropriada ao que se passa atualmente no Brasil”, segundo um porta-voz. Com uma queda de 0,1% da economia no segundo trimestre, e dependentes de suas exportações, os alemães defendem o acordo como “um sinal forte a favor de um comércio fundado sobre regras e contra o protecionismo”, com “normas ambientais e sociais elevadas”, e consideram que um eventual fracasso “não contribuiria a reduzir o desmatamento da floresta tropical no Brasil”.

Ao chegar em Biarritz, o premier britânico Boris Johnson adotou um tom similar, alfinetando o líder francês:

— Há todo tipo de pessoas que utilizará qualquer desculpa para interferir no comércio e frustrar os acordos comerciais, e não quero ver isso.

O governo espanhol também aderiu ao grupo dos contrários ao rejeitar a obstrução do acordo UE-Mercosul. “Consideramos que é justamente aplicando as cláusulas ambientais do acordo que se poderá mais avançar, e não propondo um bloqueio de sua ratificação que isolaria os países do Mercosul”, disse Madri por meio de um comunicado.

JOGANDO PARA SEUS AGRICULTORES

No tabuleiro político francês, Macron, com sua estratégia, faz um gesto à oposição de agricultores do país que temem a concorrência que será aberta com o pacto UE-Mercosul. E também contempla um crescente eleitorado adepto à pauta ambiental, e que é igualmente contra o acordo.

Se o presidente francês vencerá sua aposta pela adoção de medidas concretas no G7, só se saberá nesta segunda-feira, ao final do encontro. Na dúvida, abriu uma porta de saída, resumindo, de uma certa forma, o espírito da cúpula:

— Nós não alcançaremos êxito, sem dúvida, em tudo, e não me queiram mal se, por vezes, não conseguirmos. A França deve fazer o máximo, mas nós não podemos com tudo sozinhos. (Bloomberg/O Globo).

Reino Unido se une à Alemanha em críticas a ameaças de Macron a acordo da UE com Mercosul

BIARRITZ, França (Reuters) - O Reino Unido uniu-se à Alemanha neste sábado ao criticar a decisão do presidente francês, Emmanuel Macron, de obstruir um acordo comercial entre a União Europeia e o grupo Mercosul dos países sul-americanos para pressionar o Brasil contra incêndios florestais na Amazônia.

Em uma declaração surpresa na sexta-feira, Macron disse que havia decidido se opor ao acordo UE-Mercosul e acusou o presidente brasileiro Jair Bolsonaro de mentir quando minimizou as preocupações com as mudanças climáticas.

Depois de desembarcar no balneário francês de Biarritz, acontece uma cúpula de países do G7, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, criticou a decisão, um dia depois que o escritório da chanceler alemã Angela Merkel fez o mesmo em Berlim.

"Há todo tipo de pessoa que usará qualquer desculpa para interferir no comércio e frustrar os acordos comerciais, e eu não quero ver isso", disse Johnson a repórteres.

Na sexta-feira, um porta-voz de Merkel disse que não concluir o acordo comercial com os países Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai do Mercosul "não é a resposta apropriada para o que está acontecendo no Brasil agora".

"A não conclusão do acordo do Mercosul não ajudaria a reduzir a destruição das florestas no Brasil", acrescentou o porta-voz.

Uma autoridade do escritório de Macron disse que o líder francês mais tarde explicou sua posição a Merkel. "É algo que o presidente explicou para a chanceler para que ela entenda a posição que ele assumiu ontem e é algo que ela entendeu muito bem", disse.

Na quinta-feira, Macron e o secretário-geral da ONU, António Guterres, expressaram preocupação com os incêndios que assolam a Amazônia, mas Bolsonaro respondeu irritado ao que ele considerava intromissão.

O escritório de Macron disse na sexta-feira que as decisões de Bolsonaro nas últimas semanas mostraram que ele decidiu não respeitar os compromissos climáticos que assumiu com a França na última cúpula do G20 em Osaka, Japão. "O presidente só pode concluir que o presidente Bolsonaro mentiu para ele durante a cúpula de Osaka", acrescentou o Palácio do Eliseu.

Bolsonaro rejeitou o que chama de interferência estrangeira nos assuntos internos do Brasil, onde vastas extensões da floresta amazônica estão em chamas. Ele disse que o exército poderia ser enviado para ajudar a combater os incêndios.

Os ambientalistas culparam o desmatamento pelo aumento de incêndios e acusam o presidente de direita de relaxar a proteção de uma vasta armadilha de carbono e fator climático crucial para combater a mudança climática global.

A França há muito expressa reservas sobre o acordo com o Mercosul, com Macron alertando em junho que ele não assinaria se Bolsonaro desistisse do acordo climático de Paris.

Fonte: Reuters/O Globo

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