Globo tenta envolver Bolsonaro no caso Marielle, mas esquece "furo" de Toffoli

Publicado em 30/10/2019 03:34 e atualizado em 30/10/2019 04:06
em O Antagonista/Eagle View

Jornal Nacional (Globo) diz que, antes da morte de Marielle, suspeito foi ao condomínio onde mora Bolsonaro (em O Antagonista)

Matéria está baseada em relato de porteiro do prédio

Em 14 de março de 2018, dia da morte de Marielle Franco, um dos suspeitos de participar do assassinato esteve no condomínio de Jair Bolsonaro no Rio, segundo depoimento do porteiro que estava na guarita, revelou matéria do Jornal Nacional (edição da noite desta terça-feira).

A mesma reportagem diz no entanto (e sem ênfase) que Bolsonaro (deputado federal à época), estava em Brasília, segundo registros da Câmara.

O caderno de visitas da portaria do Vivendas da Barra registrou que Élcio Queiroz, que dirigia o carro de onde teriam partido os tiros que mataram Marielle, iria à casa de número 58, que pertence a Bolsonaro.

Em dois depoimentos, o porteiro disse que ligou para a casa 58 para perguntar se Élcio tinha autorização para entrar. Ele identificou a voz de quem atendeu como a de “seu Jair”.

O carro de Élcio, porém, se dirigiu para outra casa, a 66, de Ronnie Lessa, acusado de atirar em Marielle horas depois, naquele mesmo dia.

O porteiro contou que ligou novamente para a casa 58 e que o homem identificado por ele como “seu Jair” disse que sabia para onde ia Élcio Queiroz.

Naquela noite, Élcio Queiroz deixou o condomínio no carro de Ronnie Lessa — ambos teriam depois usado outro carro para matar Marielle e Anderson Gomes.

MENTIRA, FRAUDE, FARSA

Os registros da Câmara mostram, na verdade, que Jair Bolsonaro registrou presença em votações no plenário às 14h e às 20h35 do dia 14 de março do ano passado — ele também postou vídeos do lado de fora e de dentro de seu gabinete nesse mesmo dia.

Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, disse ao JN que o depoimento do porteiro é “uma mentira, uma fraude, uma farsa para atacar a imagem e a reputação do presidente da República”.

“É o caso de uma investigação por esse falso testemunho, em que qualquer pessoa tenha afirmado que essa pessoa foi procurar Jair Bolsonaro. Talvez esse indivíduo tenha ido na casa de outra pessoa e alguém, com o intuito de incriminar o presidente da República, conseguiu depoimento falso onde essa pessoa afirma que falou com Jair Bolsonaro. O presidente não conhece a pessoa de Élcio e essa pessoa não conhece o presidente”, disse.

Segundo o JN, representantes do MP questionaram Dias Toffoli no último dia 17 se poderiam continuar as investigações. O ministro ainda não respondeu.

O "FURO" ESTÁ MAIS EM BAIXO

Antonio Fernando Pinheiro Pedro, advogado e vice-presidente da Associação Paulista de Imprensa, chama atenção para a abordagem feita pelo também jornalista Helder Caldeira, colunista do Jornal da Cidade, de Curitiba:
 
Diz Pinheiro Pedro:  "Interessante informação do jornalista Helder Caldeira, leiam:
 
 
"Gente, a matéria exibida na noite desta terça-feira (29) no Jornal Nacional, da Rede Globo, sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco foi extremamente correta.
 
Os repórteres Paulo Renato Soares e Lília Teles e suas equipes foram justos e éticos na condução das informações: apresentaram os dois depoimentos do porteiro e fizeram questão de destinar boa parte da matéria para contradizer tais oitivas com provas irrefutáveis de que Jair Messias Bolsonaro não estava no Rio de Janeiro naquele fatídico dia do assassinato, data quando o porteito afirma ter falado pelo interfone do condomínio com o "Seu Jair".
 
E mais: notem bem que a reportagem faz questão de esclarecer que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - MPRJ, sem comunicar ao juiz natural do caso, foi parar em Brasília, no gabinete do ministro José Antônio Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, para saber o que deveriam fazer diante do foro por prerrogativa de função de Bolsonaro ao tornar-se titular da Presidência da República.
 
A informação acima é a mais importante de toda matéria e, justo por isso, mereceu especial destaque.
 
Raciocinemos..."
 
Dias Toffoli até hoje não respondeu ao MPRJ. Noutras palavras, guardou como trunfo essa preciosa informação proveniente do inquérito sobre o assassinato brutal da vereadora carioca.
 
É "trunfo" sim! Pode implicar uma ação efetiva do presidente da Suprema Corte em face do presidente do Brasil.
 
Já imaginaram quanto essa informação privilegiada — nem o juiz do caso sabia! — pode valer no mercado imundo das negociatas palacianas através das passagens secretas na Praça dos Três Poderes?
 
No fundo, o desenrolar dessa reportagem pode ser amplamente favorável ao presidente da República e seu grupo político, pois tende a colocar em xeque a atuação às sombras do Ministério Público e do presidente do STF. Aliás, ajuda a explicar muitas bizarrices que estamos vendo nos últimos dias.
 
Portanto, é preciso ter um olhar mais apurado e minucioso com o conteúdo da matéria veiculada pelo JN.
 
É o que diz o meu olhar. É como penso. Posso estar fartamente equivocado, mas permito-me contar até dez, respirar, colocar o hipotálamo para funcionar e olhar com mais esmero para as informações que nos chegam diariamente pela imprensa.
 
Permita-se também. É saudável.
 
Sigamos em frente!
 
Helder Caldeira.
 
 
O advogado Pinheiro Pedro conclui dizendo: "A  Mídia... jogou a matéria no ar ciente da sua improcedência. Quisesse agir com correção, focaria na prevaricação dos promotores e do Tóffoli. 
Na verdade, estão todos envolvidos.
 

Após Globo envolver Bolsonaro, Randolfe (líder da oposição) pede que PGR entre no caso Marielle

Após o Jornal Nacional noticiar, com base no depoimento do porteiro que estava na guarita, que um dos suspeitos de participar do assassinato de Marielle Franco esteve no condomínio de Jair Bolsonaro, no Rio, no dia 14 de março de 2018, o senador Randolfe Rodrigues pediu uma “apuração rigorosa” do caso.

“São gravíssimas as denúncias que envolvem o nome do presidente Jair Bolsonaro ao caso Marielle, apresentada [sic] há pouco pelo JN. É necessária uma apuração rigorosa para saber se há essa relação entre os suspeitos e Bolsonaro”, postou o senador da Rede no Twitter.

“É necessário que a PGR entre imediatamente no caso Marielle depois da suspeita apresentada pelo JN que associa o nome de Bolsonaro à execução da vereadora carioca”, completou Randolfe.

DEPUTADOS DO PSOL EXIGEM...

Deputados do PSOL defenderam há pouco que Jair Bolsonaro seja incluído entre os investigados no caso que envolve o assassinato de Marielle Franco.

“Vamos exigir do [Dias] Toffoli que não bloqueie a investigação. As investigações chegaram a um indício que existe. [Um dos suspeitos] vai na casa, foi uma hora antes da morte da Marielle. Então, é preciso investigar. Ninguém que tem cargo público está acima de qualquer investigação, nem o presidente. O presidente deveria ser o primeiro a dizer que precisa ser investigado. O presidente deveria dar o exemplo”, afirmou o deputado Marcelo Freixo a O Globo.

“Os dados são muito fortes. Não tenho dúvida de que o Bolsonaro não estava lá. Não sei se o Carlos não estava. Alguém estava. A gente não pode dizer neste momento que alguém é culpado, mas também não pode dizer que não tem que ter investigação. O que se pede ao STF é que se permita a investigação. Até porque a investigação pode inocentar ou não. Mas tem que investigar”, completou Freixo.

O líder da bancada do partido na Câmara, Ivan Valente, afirmou:

“O porteiro, um simples cidadão, não ia inventar uma história como o advogado [de Bolsonaro] está falando. Alguém na casa do Bolsonaro respondeu que era o Bolsonaro. Precisa ver quem era. Tinha alguém na casa do Bolsonaro que falou. Então, o porteiro não inventou a placa do carro, o carro entrou, há um registro de câmeras. Tudo isso vai vir à tona. Não dá para fazer acusação formal, tem esse registro do Bolsonaro em Brasília, mas pode ser que uma pessoa em seu nome.”

“Gostaria muito de ser ouvido”, diz Bolsonaro sobre caso Marielle

Pouco depois de o Jornal Nacional noticiar, com base no depoimento do porteiro que estava na guarita, que um dos suspeitos de participar do assassinato de Marielle Franco esteve no condomínio de Jair Bolsonaro, no Rio, no dia 14 de março de 2018, o presidente — que já havia feito uma live para tratar do caso — concedeu uma entrevista ao Jornal da Record.

Bolsonaro disse que está à disposição das autoridades, voltou a negar qualquer envolvimento no caso Marielle e acusou o governador do Rio, Wilson Witzel, de estar por trás dessa acusação.

“Posso ser ouvido. Estou disposto a colaborar nesse processo. [O processo] Está mal conduzido e eles querem jogar uma cortina de fumaça e jogar para cima de mim a responsabilidade dessa execução”, disse. “Gostaria muito de ser ouvido nesse inquérito, não tem problema.”

Repetindo o que já havia dito  na live, Bolsonaro destacou que estava em Brasília, na Câmara dos Deputados, naquela data.

“Estava em Brasília. Logicamente, vou querer saber do porteiro se ele ligou para lá de verdade, para o meu apartamento. Pelo que me consta, nenhum homem mais estava em casa nesse horário”, afirmou Bolsonaro. “Nesse mesmo dia, eu não estava no Rio de Janeiro.”

Sobre Witzel, Bolsonaro disse:

“Quem vazou para a TV [Globo] foi o senhor governador Witzel. (…) O governador se elegeu graças ao meu filho Flávio Bolsonaro. Ao assumir o governo do Rio de Janeiro, imediatamente ele tornou-se inimigo do Flávio e da minha família.”

Na live pelo Facebook, Jair Bolsonaro também disse que, no dia 14 de março de 2018, data da morte de Marielle Franco, ele registrou presença na Câmara às 17h41 e às 19h36.

“Tenho também registrado no dia anterior e no dia posterior minhas digitais no painel de votação”, afirmou o presidente.

“O que cheira isso aqui, não quero bater o martelo, mas o que parece: ou o porteiro mentiu, ou o induziram a cometer falso testemunho, ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu e assinou embaixo em confiança ao delegado ou ao que foi o ouvir na portaria”.

Segue live de Bolsonaro, ontem à noite:

https://youtu.be/_vLMDr1JgBI

Fonte: NA/O ANTAGONISTA

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