Dólar tem a maior queda desde junho de 2018 e fecha em R$ 5,20

Publicado em 02/06/2020 17:11 e atualizado em 02/06/2020 19:58

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O dólar teve um dia de forte queda, ajudado pelo cenário externo mais positivo, diante da retomada das economias e certo alívio na política doméstica, com profissionais das mesas de câmbio relatando que a busca pelo presidente Jair Bolsonaro de alianças no Congresso traz otimismo sobre sua governabilidade e chance de aprovar reformas. Nesse ambiente, o real teve o melhor desempenho nesta terça-feira, 2, ante o dólar no mercado internacional, considerando uma cesta de 34 moedas, dia em que o risco-País, medido pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos caiu para 245 pontos, o menor valor desde 26 de março e o Ibovespa superou os 90 mil pontos.

No mercado à vista, o dólar fechou com queda de 3,34%, a maior desde 8 de junho de 2018. O dólar terminou a sessão de hoje cotado em R$ 5,2086, o patamar mais baixo desde 14 de abril. No mercado futuro, o dólar para julho era negociado em baixa de 3%, a R$ 5,2130, às 17h, em dia marcado por maior volume de negócios

O chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, destaca que há otimismo no mercado externo com a reabertura das economia e a retomada de operações de alguns setores, o que tem ajudado os ativos de risco. A China, por exemplo, começou a demandar mais commodities, o que é positivo para o Brasil, não só para as exportações, mas também para a entrada de mais dólares no País, ressalta ela. Uma das evidências hoje do maior apetite por risco é que o ouro e a prata, que costumam ser vistos como um porto seguro caíram. O dólar também recuou ante emergentes.

No mercado doméstico, Velloni destaca que o governo começou a fazer algumas alianças no Congresso, o que sinaliza que o Planalto pode avançar com algumas medidas. "Em abril e maio, visão era de que governo não ia passar nada, mas agora o governo começa a construir alguma base para conseguir passar alguma reforma." Apesar da melhora hoje, o executivo destaca que não é possível falar de tendência para o câmbio neste momento e a volatilidade deve prosseguir em nível elevado. "Há ainda muito incerteza sobre a pandemia do coronavírus, uma incógnita muito grande."

O economista-chefe do ING para América Latina, Gustavo Rangel, observa que o real parece ter encontrado um piso após o Banco Central mostrar maior disposição para intervir no mercado. Foram não só intervenções na prática, mas também declarações dos dirigentes do BC sinalizando mais atenção ao câmbio. Ao mesmo tempo, Rangel ressalta em relatório que a perspectiva de mais cortes de juros limita a melhora da moeda brasileira. O ING prevê corte de 0,75 ponto na taxa básica, a Selic, este mês.

Além do juro baixo, o economista do ING alerta que os investidores ainda estão preocupados com danos persistentes nas contas fiscais brasileiras em meio ao aumento do ruído político nas últimas semanas. Para o dólar, Rangel prevê a divisa dos EUA em R$ 5,25 nos próximos 30 dias e R$ 5,10 em 3 meses. (Estadão).

Exterior e preço atrativo ajudam R$ a ter melhor dia em 2 anos; juros longos recuam

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Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar sofreu massivas vendas no mercado brasileiro nesta terça-feira, caindo mais de 3% e descendo à casa de 5,21 reais, em meio a um pregão de queda generalizada da divisa norte-americana diante de otimismo quanto à recuperação da economia mundial pós-pandemia.

O dólar à vista fechou em queda de 3,23%, a 5,2104 reais na venda. É a mais forte desvalorização percentual diária desde 8 de junho de 2018 (-5,59%) e o menor patamar de encerramento desde 14 de abril de 2020 (5,1906 reais).

A cotação operou em queda ao longo de toda esta terça-feira. Na mínima, tocou 5,2046 reais (-3,34%) e, na máxima, marcou 5,3404 reais (-0,82%).

Na B3, o dólar futuro cedia 2,86%, a 5,2215 reais, às 17h09.

O real teve, de longe, o melhor desempenho entre os principais pares nesta sessão. Analistas afirmaram que essa "outperformance" decorreu ainda de fatores técnicos, com operadores correndo para desfazer de posições "bearish" (negativas) no câmbio brasileiro, construídas praticamente desde o início do ano.

"O real estava atrasado ante seus pares. E ainda está. Então não me surpreenderia de ver (o dólar) testar os 5 reais", disse Bernardo Zerbini, um dos responsáveis pela estratégia da gestão macro da gestora AZ Quest.

Recente estudo do Goldman Sachs apontou o real como a terceira moeda com mais excesso de desvalorização no universo emergente dentre mais de 20 rivais, à frente apenas de lira turca e rand sul-africano.

Como um todo, as moedas emergentes perdem 5,13% neste ano, segundo dados mais recentes disponíveis até a segunda-feira. O real, no mesmo período, caiu 25,47% ante o dólar, pior desempenho mundial.

Nesta sessão, várias divisas de risco se apreciavam de forma expressiva, com destaque para peso colombiano (+2,3%), peso chileno (+1,8%) e lira turca (+1,6%).

O índice do dólar contra uma cesta de moedas fortes caiu ao menor patamar desde meados de março. Os mercados globais de ações saltaram a picos também desde março, e os preços do petróleo fecharam em mais uma forte alta, indicando confiança na retomada da demanda conforme as economias voltam a abrir.

Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos, afirmou que as moedas emergentes, grupo do qual o real faz parte, parecem a mais recente classe de ativos a se recuperar, depois de alguma retomada nos mercados acionários e de crédito.

Ele cita riscos à essa melhora, sobretudo vindos da relações EUA-China e de escalada de protestos nos EUA, mas ressalva que esse não é seu cenário básico. "Acredito que o mercado vai precisar de uma mudança substancial de cenário para inverter essa tendência de recuperação. A liquidez é muito colossal. Nos atuais níveis, estou mais cauteloso pela piora do risco/retorno", disse.

Zerbini, da AZ Quest, vê chances de o dólar cair mais e eventualmente perder o suporte de 5 reais no curto prazo, mas pondera que no médio prazo o viés para a moeda brasileira ainda é negativo.

"Oitenta por cento do movimento recente (de apreciação do real) é externo. Mas o Brasil é um país que tem dificuldade em atrair investimentos e terá de se provar à frente e recuperar o crescimento depois da queda brutal na atividade neste ano", afirmou.

"O Brasil tem performado bem recentemente por questão de valuation (preço), não por percepção de que as coisas vão andar e que o país vai crescer", finalizou.

Taxas longas fecham em queda com sinais externos e alívio das tensões políticas (Estadão)

O aumento do apetite pelo risco vindo do exterior trouxe redução da inclinação da curva de juros, tendo os contratos de longo prazo chegado a cair em torno de 20 pontos-base nas mínimas na tarde desta terça-feira, 2. A percepção de que o processo de reabertura das economias lá fora se dá de forma tranquila, a perspectiva de uma vacina contra a covid-19 num prazo mais rápido do que o esperado e a de mais pacotes de estímulos foram os principais catalisadores para o bom desempenho dos mercados, a despeito da onda de protestos violentos nos Estados Unidos.

Internamente, o mercado vê trégua no noticiário negativo envolvendo a tensão entre presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF) e, mais do que isso, vê alívio com o arquivamento do pedido de apreensão dos celulares do presidente. A ponta curta fechou com viés de baixa, com um quadro de apostas mostrando leve vantagem para a possibilidade de queda da Selic em 0,75 ponto porcentual no Copom de junho.

Na ponta curta, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) mais líquido hoje foi o julho de 2020 (473.380 contratos), o primeiro a vencer após a próxima reunião do Copom. A taxa fechou a 2,591%, de 2,606% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 3,06%, de 3,141% ontem, e a taxa do DI para janeiro caiu de 5,943% para 5,75%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 6,73%, ante 6,912% ontem.

Ao contrário desta segunda, 1º, quando as taxas pouco oscilaram, hoje já engataram firme trajetória descendente logo pela manhã, em linha com o bom humor que predominava nos demais ativos. "Há otimismo com os processos de reabertura lá fora, que até o momento ocorrem sem grandes sustos e risco menor de segunda onda de contágio do coronavírus", afirmou o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

Segundo ele, um tuíte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizando que "as vacinas" e "terapias (contra a covid-19) avançam mais rápido do que o antecipado" reforçou a busca por risco. Ainda, os governos norte-americanos e na Europa prometeram mais programas de estímulos contra os efeitos da covid-19, o que também ajuda na montagem de posições mais arriscadas.

Esse contexto favoreceu especialmente os juros longos, mais sensíveis aos eventos externos mas que também reagem ao risco político. As preocupações com a governabilidade e chance de impeachment de Bolsonaro vêm arrefecendo nos últimos dias, basicamente desde que o mercado não viu no vídeo da reunião ministerial de 22 de abril fatores que pudessem endossar as acusações do ex-ministro Sérgio Moro de tentativas de interferência por parte de Bolsonaro na Polícia Federal.

Os contratos curtos oscilaram com leve baixa, sustentando apostas de queda da Selic no próximo Copom. Segundo Rostagno, a curva precifica 56% de chance de corte de 0,75 ponto e 44% de possibilidade de redução de 0,5 ponto. Para o Copom de agosto, há mais 13 pontos de queda precificados, ou seja, já quase no "meio do caminho" entre estabilidade e queda de 0,25 ponto.

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Fonte:
Reuters/Estadão Conteúdo

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