Jair Bolsonaro posta foto ao lado de cão e diz: 'vacina obrigatória só no Faísca'

Publicado em 25/10/2020 05:52 e atualizado em 25/10/2020 09:20

Em meio à polêmica sobre a vacinação contra a covid-19 ser obrigatória ou não, o presidente Jair Bolsonaro divulgou no sábado à noite uma foto em suas redes sociais ao lado de um cachorro com a mensagem "vacina obrigatória aqui só no Faísca".

A publicação vem no desfecho de uma semana marcada por embates em torno da posição do governo federal sobre a política de imunização contra a doença, que já matou quase 157 mil brasileiros, quando houver uma vacina completamente testada e aprovada por autoridades sanitárias. O presidente tem pregado a não obrigatoriedade da vacinação.

Uma lei sancionada por Bolsonaro em fevereiro deste ano, porém, estabelece a possibilidade de autoridades determinarem a realização compulsória de vacinação "para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional" decorrente do novo coronavírus.

O texto teve como origem um projeto de lei enviado pelo próprio governo, quando o ministro da Saúde ainda era Luiz Henrique Mandetta - que acabou deixando o cargo após divergir publicamente sobre a condução das medidas de saúde para combate à crise.

A deputada Bia Kicis (PSL-DF) enviou, em setembro deste ano, um projeto de lei para retirar a vacinação compulsória da lista de medidas possíveis de serem adotadas.

Kicis faz parte do grupo de parlamentares mais ligado à ala ideológica do governo.

A vacinação obrigatória também se tornou o centro de uma batalha judicial no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao menos sete partidos recorreram à Corte para questionar temas relacionados à imunização. O relator, ministro Ricardo Lewandowski, pediu explicações ao Planalto e já adiantou que não irá decidir sozinho sobre os pedidos de liminar, o que deve caber ao plenário.

Duas ações miram justamente a questão da obrigatoriedade da vacinação. O Partido Democrático Trabalhista (PDT), que integra a oposição do governo, pede que o STF reconheça a competência de Estados e municípios para determinar ou não a imunização compulsória.

Já o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), da base aliada do presidente, solicita que essa possibilidade seja declarada inconstitucional.

Há ainda uma ação em que PCdoB, PSOL, PT, PSB e Cidadania pedem que o Supremo impeça Bolsonaro e o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, de praticarem quaisquer atos que dificultem a continuação das pesquisas sobre vacina.

Já a Rede Sustentabilidade, em outra ação, também requer que o governo federal apresente um plano de vacinação.

Além do debate sobre a obrigatoriedade da imunização, Bolsonaro também entrou em rota de colisão nesta semana com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por causa da Coronavac, vacina produzida em parceria pelo laboratório chinês Sinovac e pelo Instituto Butantan, de São Paulo.

Na terça-feira, 20, Pazuello chegou a anunciar que o governo federal compraria 46 milhões de doses da vacina chinesa. Um dia depois, ele foi desautorizado por Bolsonaro, que ficou inconformado com o palanque dado a Doria diante do anúncio do acordo.

A nacionalidade e o domicílio eleitoral da vacina acabaram ressuscitando a ala ideológica do governo, que atacou a iniciativa tomada com aval dos generais. "Presidente, a China é uma ditadura, não compre essa vacina, por favor. Só tenho 17 anos e quero ter um futuro, mas sem interferência da Ditadura chinesa", comentou um usuário no Twitter.

Na ocasião, o presidente reagiu em letras maiúsculas: "NÃO SERÁ COMPRADA". No mesmo dia, em publicação no Facebook oficial, com o título "A vacina chinesa de João Doria", ele afirmou que "qualquer vacina, antes de ser oferecida, deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa" e que "o povo brasileiro não será cobaia de ninguém".

O tom é diferente do discurso de Bolsonaro sobre o uso da cloroquina contra a covid-19, cuja falta de comprovação de eficácia científica sempre foi minimizada.

A Coronavac está na fase 3 dos testes clínicos, os mais avançados em humanos. Segundo os dados mais recentes, o imunizante teve os melhores resultados de segurança entre todos que estão em teste. Os dados de eficácia devem sair até dezembro.

 

Coronavac será a vacina do Brasil, diz Doria, agradecendo à Anvisa

O governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), publicou, na tarde deste sábado, 24, no Twitter um agradecimento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pela liberação de importação da Coronavac. "A Coronavac será a vacina do Brasil", escreveu o governador tucano.

A discussão sobre o imunizante chinês esquentou o embate entre o governo de São Paulo e o Palácio do Planalto nesta semana e provocou uma "saia justa" entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e um de seus ministros.

Na quarta-feira, Bolsonaro desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a importar a vacina chinesa, decisão anunciada um dia antes.

No fim da tarde de sexta-feira, 23, a importação de seis milhões de doses do imunizante produzida pelo laboratório chinês Sinovac, a pedido do Instituto Butantan em caráter excepcional, foi autorizada pela Anvisa.

O Butantan deve receber a tecnologia chinesa para produção da vacina em larga escala no País.

No Twitter, o governador paulista escreveu neste sábado: "Agradeço a postura coerente e autônoma da Anvisa, ao liberar compra inicial de 6 milhões de doses da Coronavac. Reforçamos a importância da liberação de insumos para a produção das outras 40 milhões de doses. A Coronavac será produzida em SP, no Butantan. Será a vacina do Brasil."

Fonte: Estadão Conteúdo

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Wall St salta com dados de empregos nos EUA reforçando hipótese de cortes nos juros
Dólar cai ao menor valor em quase um mês com dados fracos de emprego nos EUA
Ibovespa fecha em alta com melhora em perspectivas sobre juros nos EUA
Taxas futuras de juros têm nova queda firme no Brasil após dados de emprego nos EUA
Brasil e Japão assinam acordos em agricultura e segurança cibernética