Coronavírus volta a acelerar e Brasil ultrapassa 6 milhões de casos sob temor de 2ª onda

Publicado em 21/11/2020 08:02

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RIO DE JANEIRO (Reuters) -  São Paulo e Rio de Janeiro registraram nos últimos dias uma disparada nas internações hospitalares devido à Covid-19, com a taxa de ocupação de UTIs na rede municipal da capital fluminense em torno de 90% nesta semana e a secretaria estadual abrindo novos leitos para atender a demanda.

O governo estadual paulista divulgou nesta semana um aumento de 18% nas internações por Covid-19 nas redes pública e privada e interrompeu a desmobilização de leitos voltados à doença.

De acordo com o Imperial College de Londres, a taxa de contágio da Covid-19 no Brasil atingiu 1,1 nesta semana, após permanecer por diversas semanas abaixo da marca de 1. A taxa de 1,1 significa que cada 100 pessoas com o vírus contaminam outras 110, o que representa um aumento da disseminação da doença. Uma taxa abaixo de 1 representa uma desaceleração do contágio.

"Vivemos um expressivo aumento do número de atendimentos de síndrome gripal, casos confirmados e internações por Covid-19 nas últimas semanas", afirmou o assessor especial de Atenção Primária à Saúde do Rio de Janeiro, Leonardo Graever, em documento enviado aos profissionais da área no município, em que pede um reforço das medidas para enfrentar o momento.

Questionado sobre medidas para o enfrentamento ao novo aumento de casos, o Ministério da Saúde disse que "mantém a vigilância contínua da circulação do vírus em todo território nacional e presta apoio aos Estados e municípios para o enfrentamento à Covid-19", e citou as negociações por futuras vacinas.

"NÃO ESTAMOS PREPARADOS"

Depois de atingir um pico no início de agosto, quando chegaram a ser computados mais de 50 mil casos novos e mais de 1 mil óbitos a cada dia, a Covid-19 parecia estar sendo controlada ao cair para o patamar de 20 mil casos e 425 mortes por dia no final de outubro.

O dados oficiais das primeiras semanas de novembro foram afetados por uma instabilidade no sistema do Ministério da Saúde, depois que a pasta foi alvo de suposta tentativa de ataque hacker que a levou a bloquear o acesso, mas dados de síndrome respiratória informados pelos Estados apontaram para uma reversão de tendência.

"O sinal mais importante é ver que a mediana de casos fez um movimento de repique", disse o pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Marcelo Gomes, coordenador do sistema InfoGripe, ferramenta que acompanha os casos de síndromes respiratórias agudas no país, incluindo a Covid-19, citando dados das últimas duas semanas.

"Está com um sinal de provável interrupção da queda. Ainda não está claro se a gente está agora entrando numa nova fase de estabilização ou já com reversão e indo para crescimento, as próximas semanas vão deixar mais claro, mas está bastante sugestiva a interrupção da queda", acrescentou.

De acordo com os números do ministério, foram registrados 26.500 casos novos por dia em média nesta semana epidemiológica até quinta-feira e 480 mortes por dia, mas ainda há inconsistência nos dados, de acordo com a pasta.

A chegada aos 6 milhões de casos marca o período mais longo para se acumular 1 milhão de infecções no Brasil após o primeiro milhão: 44 dias. Em comparação, foram necessários 34 dias para o milhão anterior, enquanto os anteriores foram acumulados sempre em menos de 28 dias.

A demora decorreu principalmente de semanas seguidas de desaceleração antes deste mês. Agora, no entanto, há uma preocupação com uma possível segunda onda, à medida que a população tem retomado as atividades e as ruas estão cada vez mais cheias.

Segundo dados do Google, o transporte público e os locais de trabalho no país estão com frequência de pessoas bem maior do que antes das quarentenas impostas devido à pandemia, com altas de 26% e 22%, respectivamente, enquanto a redução da mobilidade em lugares como restaurantes, cafés e shopping centers está no menor patamar desde o início da crise, com redução de apenas 4%.

"Estamos agora sob risco de uma segunda onda sem sequer termos saído da primeira onda. Não estamos vendo por parte dos governantes ações concretas para o enfrentamento dessa possível segunda onda. Definitivamente não estamos preparados", disse o infectologista Roberto Medronho, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio e Janeiro (UFRJ).

Com as possíveis vacinas ainda em fase final de testes e sem um medicamento com eficácia comprovada contra a Covid-19, especialistas apontam que a melhor solução para se evitar uma segunda onda tão trágica quanto a primeira é manter o isolamento.

A medida também foi defendida esta semana pelo Ministério da Saúde nas redes sociais, mas a publicação, que contraria o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro --que sempre foi crítico ao isolamento devido aos impactos econômicos-- posteriormente foi apagada. Perguntado sobre o tema, o ministério não respondeu.

Além de rejeitar o isolamento, Bolsonaro reclamou nesta semana do que chamou de "conversinha" sobre uma possível segunda onda da Covid-19 no país, dizendo que o Brasil será um país de miseráveis se "quebrar de vez".

Durante o primeiro impacto da Covid-19, o governo federal concedeu um auxílio emergencial aos vulneráveis de 600 reais mensais a um custo de 50 bilhões de reais por mês, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, já estimou que uma segunda onda geraria um gasto equivalente à metade do que foi gasto na primeira.

Enquanto as autoridades públicas temem a eventual necessidade de apertar as medidas para conter a disseminação do vírus, especialistas pedem comprometimento da população e um papel ativo dos governos.

“Nosso momento é muito crítico", disse a pesquisadora em saúde Chrystina Barros, da UFRJ. "Isso acontece pelo comportamento das pessoas e das autoridades, que não sei se terão coragem de decretar lockdown.“

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Fonte:
Reuters

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