Bolsonaro demite Castello Branco e anuncia general para comando da Petrobras
O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta 6ª feira (19.fev.2021) que substituirá o atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, pelo general Joaquim Silva e Luna. O anúncio foi feito pelo chefe do Executivo em seu perfil no Facebook.
“O governo decidiu indicar o senhor Joaquim Silva e Luna para cumprir uma nova missão, como conselheiro de administração e presidente da Petrobras, após o encerramento do ciclo, superior a dois anos, do atual presidente, senhor Roberto Castello Branco”, afirma a postagem de Bolsonaro, com cabeçalho atribuído ao Ministério de Minas e Energia.
Bolsonaro postou o comunicado do Ministério das Minas e Energia em seu perfil no Facebook no início da noite desta 6ª feira
Bolsonaro acha que a estatal tem sido conduzida de maneira errática por causa dos sucessivos aumentos no preço dos combustíveis. O litro do diesel nas refinarias acumula alta 27,72% em 2021 e tem irritado os caminhoneiros, que tradicionalmente apoiam o presidente.
Para o entorno de Bolsonaro, Castello Branco teria cometido improbidade administrativa por ter “desenhado” da categoria, que reclamavam de aumento do preço do diesel em janeiro, ainda sob a pressão da ameaça de greve.
A gota d’água para a troca foi o reajuste da Petrobras na 5ª feira, de 14,7% no diesel e de 10% na gasolina. Foi o 4º aumento do ano.
Mais cedo, Bolsonaro havia sinalizado mudanças na Petrobras. Sem especificar quais seriam, disse que “jamais” iria interferir na estatal e em “sua política de preço”, mas pediu transparência.
O mercado financeiro interpretou com receio as declarações do presidente. As ações da estatal tiveram forte queda ao longo do dia. As ordinárias caíram 7,92%, e as preferenciais, 6,63%. O valor de mercado da empresa caiu R$ 28,2 bilhões de 5ª feira (18.fev) para 6ª feira (19.fev).
Castello Branco foi indicado pelo ministro da Economia. Seguiu estritamente as orientações de Paulo Guedes e a política de preços da Petrobras. Bolsonaro não gostou, Guedes sofreu uma derrota.
No fechamento de 5ª, a Petrobras tinha valor de mercado de R$ 382,99 bilhões. Com a desvalorização desta 6ª, passou a R$ 354,79 bilhões
QUEM É SILVA E LUNA
Joaquim Silva e Luna tem 71 anos. Estava desde fevereiro de 2019 no comando da usina de Itaipu
Antes, o general foi ministro da Defesa no governo de Michel Temer. Foi o 1º militar a ocupar a pasta desde a redemocratização.
O general tem pós-graduação em Política, Estratégia e Alta Administração do Exército pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Também é pós-graduado, pela Universidade de Brasília, em Projetos e Análise de Sistemas.
Durante a carreira no Exército, Silva e Luna comandou o 6º Batalhão de Engenharia de Construção (1996-1998), em Boa Vista (RR), e a 16ª Brigada de Infantaria de Selva (2002-2004), em Tefé (AM).
Em Brasília, foi diretor de patrimônio (2004-2006), chefe do gabinete do comandante do Exército (2007-2011) e chefe do Estado-Maior do Exército (2011-2014).
Também participou da Missão Militar Brasileira de Instrução no Paraguai e atuou como adido em Israel de 1999 a 2001.
QUEM É CASTELLO BRANCO
Roberto da Cunha Castello Branco estava na chefia da Petrobras desde o início do governo Bolsonaro. O engenheiro integrou o Conselho de Administração e o Comitê de Auditoria da estatal nos anos de 2015 e 2016. À época, Graça Foster presidia a empresa, no governo de Dilma Rousseff (PT).
Segundo seu currículo na Plataforma Lattes, do CNPq, Castello Branco tem doutorado em economia pela FGV (1977) e pós-doutorado pela Universidade de Chicago (1977-78). A instituição norte-americana é uma referência na vertente liberal –o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi aluno da escola de Chicago.
Uma das primeiras ocupações profissionais de Castello Branco foi a de professor de pós-graduação em economia na própria Fundação Getúlio Vargas.
Em 1985, ocupou o cargo de diretor de Normas e Mercado de Capitais do BC (Banco Central), no governo de José Sarney (MDB).
Roberto da Cunha Castello Branco está na chefia da Petrobras desde o início do governo Bolsonaro
Reuters: Bolsonaro diz que governo indicou general Silva e Luna para presidir Petrobras
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta sexta-feira que o governo decidiu indicar o general Joaquim Silva e Luna para assumir os cargos de conselheiro e presidente da Petrobras após o encerramento do ciclo do atual CEO da companhia, Roberto Castello Branco.
Em publicação no Facebook, Bolsonaro compartilhou nota assinada pelo Ministério de Minas e Energia sobre a mudança.
Silva e Luna, atual presidente de Itaipu, assumiria "após o encerramento do ciclo, superior a dois anos, do atual presidente" da petroleira estatal, de acordo com o comunicado.
Não foi possível falar imediatamente com a Petrobras.
Castello Branco assumiu o comando da petroleira em janeiro de 2019, logo após a posse de Bolsonaro. Ele vinha defendendo a independência da companhia para reajustar preços dos combustíveis, mas acabou desagradando o presidente após um comentário sobre caminhoneiros, que têm ameaçado greves devido aos valores do diesel.
O CEO da Petrobras disse no final de janeiro que a questão dos caminhoneiros não era um problema da companhia. O mandato do Castello Branco se encerra em 20 de março.
Na noite de quinta-feira, após um reajuste da companhia nos valores dos combustíveis, Bolsonaro reclamou e disse que o comentário teria "consequências", prometendo mudanças na estatal, sem detalhar.
As ações da Petrobras tiveram forte queda nesta sexta-feira em meio às discordâncias entre Bolsonaro e Castello Branco, que não chegou a se manifestar em público sobre o assunto. Não foi possível contato com o executivo.
Os papéis preferenciais da Petrobras encerraram com perda de 6,63% nesta sexta-feira.
O novo indicado para chefiar a petroleira, por sua vez, tem recebido elogios frequentes de Bolsonaro em suas tradicionais transmissões semanais e manifestações públicas por seu trabalho em Itaipu.
Ainda no ano passado, por exemplo, o presidente disse que a gestão de Silva e Luna tem se comprometido com o uso de recursos públicos e permitido a realocação de recursos para obras estruturantes no Paraná.
Silva e Luna é general de Exército da reserva e foi ministro da Defesa do governo Michel Temer. Ele foi o primeiro militar a ocupar o Ministério da Defesa desde a sua criação em 1999 e, agora, também coroa a volta de um ex-ocupante das Forças Armadas na Petrobras.
(Com reportagem adicional de Ricardo Brito, em Brasília)