Erdogan é reeleito presidente da Turquia e ampliará período de 20 anos no poder

Publicado em 29/05/2023 07:36 e atualizado em 29/05/2023 08:37

Por Daren Butler e Ezgi Erkoyun

 

 

ISTAMBUL (Reuters) - O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, e seus partidários comemoraram nesta segunda-feira a vitória eleitoral que prolongou seu governo para uma terceira década, enquanto a oposição, que antes contava com a vitória, se preparava para "dias difíceis" contra um governo cada vez mais autocrático.

O rival de Erdogan no segundo turno da eleição, Kemal Kilicdaroglu, disse que foi "a eleição mais injusta dos últimos anos", mas não contestou o resultado, que deu a Erdogan um mandato para manter políticas que polarizaram a Turquia e fortaleceram sua posição como uma potência militar regional.

A eleição foi vista como o maior desafio político de Erdogan, com a oposição confiante em derrotá-lo e reverter suas políticas depois que as pesquisas mostraram que uma crise de custo de vida o deixou vulnerável.

Mas ele venceu com 52,2% dos votos, contra 47,8% de Kilicdaroglu. Isso reforçou a imagem de invencibilidade de Erdogan no país membro da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), profundamente dividido, cuja política externa, econômica e de segurança foi redesenhada por ele.

Jornais pró-governo, parte de um cenário de mídia predominantemente favorável a Erdogan que impulsionou sua campanha eleitoral no país de 85 milhões de pessoas, comemoraram sua vitória.

"É um bom resultado porque Tayyip Erdogan é um bom líder, ele sabe o que as pessoas querem. Se as pessoas estão votando nele há 20 anos, ele deve ser um líder bem-sucedido", disse Altay Sahin, um trabalhador da construção civil em Istambul.

Dirigindo-se aos apoiadores em um discurso de vitória, Erdogan declarou a democracia como vencedora. "Agora é o momento de deixar de lado as disputas e os conflitos do período eleitoral e nos unirmos em torno de nossos objetivos nacionais", disse ele.

Mas a perspectiva de mais cinco anos de governo de Erdogan foi um duro golpe para a oposição, que o acusou de minar a democracia ao acumular cada vez mais poder -- uma acusação que ele nega. Kilicdaroglu havia prometido uma nova "primavera" se ganhasse.

"Olho para as pessoas ao meu redor, que estavam apoiando a oposição, e todas elas estão ressentidas", disse Hulya Yildirim, um advogado. "Nós nos esquecemos da primavera neste país, temos que fazer nossa própria primavera porque as pessoas parecem estar felizes com o inverno."

A lira turca caiu para uma baixa recorde de 20,08 em relação ao dólar. Ela perdeu 90% de seu valor na última década, afetada pela crise cambial e pela inflação galopante.

As perdas mais recentes foram motivadas pela incerteza sobre o que uma vitória de Erdogan significaria para a política econômica. Os críticos culparam seu plano econômico pouco ortodoxo e com baixas taxas de juros, que a oposição prometeu reverter, pelos problemas com a moeda.

Erdogan disse que a inflação, que atingiu o pico de 85% em 24 anos no ano passado, antes de diminuir, é a questão mais urgente da Turquia.

"DIAS DIFÍCEIS"

Embora tenha pedido unidade, Erdogan manteve um dos principais temas de sua campanha ao acusar Kilicdaroglu e a oposição de se aliarem a terroristas, sem apresentar provas.

O principal partido pró-curdo da Turquia, o terceiro maior do Parlamento, estava entre os partidos de oposição a Erdogan e é acusado de ligações com militantes curdos, o que a sigla nega.

"Para a oposição, dias muito difíceis estão por vir", disse Atilla Yesilada, analista da GlobalSource Partners, prevendo mais medidas judiciais contra o partido curdo e dizendo que não estava claro se a aliança da oposição permaneceria intacta.

A derrota de Kilicdaroglu provavelmente será motivo de preocupação entre os aliados da Turquia na Otan, que ficaram alarmados com as relações amigáveis de Erdogan com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que parabenizou seu "querido amigo" pela vitória.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, escreveu no Twitter: "Estou ansioso para continuar trabalhando juntos como aliados da Otan em questões bilaterais e desafios globais compartilhados". Ele e Erdogan falariam por telefone ainda na segunda-feira, informou o gabinete de Erdogan.

As relações dos EUA com a Turquia têm sido prejudicadas pela objeção de Erdogan à entrada da Suécia na Otan, bem como pelo estreito relacionamento de Ancara com Moscou, mesmo quando as forças russas realizam uma invasão de 15 meses na Ucrânia, e pelas diferenças em relação à Síria.

(Reportagem adicional de Ayhan Uyanik, Can Sezer, Burcu Karakas e Jonathan Spicer em Istambul e Nevzat Devranoglu em Ancara)

Fonte: Reuters

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