BC eleva Selic em 0,50 ponto, a 11,25%, e defende que governo adote medidas fiscais estruturais
Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) -O Banco Central decidiu nesta quarta-feira acelerar o ritmo de aperto nos juros ao elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, a 11,25% ao ano, em decisão unânime de sua diretoria que não indicou os próximos passos da política monetária, defendendo ainda que o governo adote medidas fiscais estruturais que gerem impactos para a política monetária.
Em meio à espera pelo anúncio do pacote de contenção de despesas pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, a autoridade monetária afirmou que a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado "de forma relevante" os preços de ativos e as expectativas, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio.
"O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária", afirmou o Comitê de Política Monetária (Copom) em comunicado.
Membros da diretoria do BC têm destacado o efeito negativo de incertezas fiscais no mercado, com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, afirmando em mais de uma ocasião que o país precisa passar por um choque fiscal positivo se quiser conviver com juros mais baixos.
No comunicado, o BC afirmou que o ritmo de ajustes futuros nos juros básicos e a magnitude total do ciclo de aperto monetário serão ditados pelo "firme compromisso de convergência da inflação à meta" e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, do nível de ociosidade da economia e das projeções, expectativas e balanço de riscos para os preços à frente.
A decisão desta quarta veio em linha com a expectativa de mercado captada em pesquisa da Reuters, na qual 30 de 34 economistas entrevistados projetavam que o BC elevaria a Selic em 0,50 ponto nesta quarta.
Desde a última reunião do Copom, as expectativas de mercado para os preços à frente seguiram desancoradas, fator tratado enfaticamente com preocupação pela autarquia, com a previsão para o IPCA de 2025 no boletim Focus passando de 3,95% para 4,03% entre setembro e esta semana.
O próprio BC piorou nesta quarta suas projeções de inflação em relação a setembro, com estimativas passando de 4,3% para 4,6% em 2024 e de 3,7% para 3,9% em 2025 e de 3,5% para 3,6% no primeiro trimestre de 2026, considerando o cenário de referência, que segue as projeções de mercado para a trajetória dos juros.
O centro da meta contínua para a inflação neste e nos próximos anos é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Para o BC, a atividade econômica e o mercado de trabalho no país seguem apresentando dinamismo, com dados da inflação cheia e subjacente se situando acima da meta para a inflação.
(Por Bernardo Caram, edição de Isabel Versiani)
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