Risco de crise no campo

Publicado em 20/01/2009 16:32

Comida barata e inflação baixa foram importantes para a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006. Comida cara e aperto cambial poderão atrapalhar seus planos eleitorais para 2010. Para afastar esse risco, ele deveria preocupar-se imediatamente com a situação econômica do agronegócio na temporada 2008-2009. Se a renda cair muito e faltar dinheiro para sustentar a atividade, o plantio da safra 2009-2010 será comprometido. O efeito aparecerá na redução do volume produzido, na elevação dos preços internos e na redução do valor exportado. Há, pois, razões mais que suficientes para preocupação.

As projeções da safra 2008-2009 de grãos e oleaginosas pioraram nas últimas semanas. Em sua última estimativa, divulgada no dia 8, a COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB) indicou uma provável redução de 4,9% no volume produzido, de 144,1 milhões de toneladas na última colheita para 137 milhões. Apesar dessa redução, a safra ainda seria suficiente, com os estoques disponíveis, para garantir, neste ano, um abastecimento sem sustos e sem grandes pressões sobre o custo de vida. Não há, por enquanto, nenhuma catástrofe à vista, mas o balanço das perdas causadas pela seca no Rio Grande do Sul e pelas chuvas em excesso noutros Estados mostra um quadro de oferta bem menos favorável. Além disso, a evolução das cotações internacionais e dos preços internos aponta para uma redução significativa dos ganhos dos produtores. A renda dos produtores de arroz, feijão, milho, soja, trigo e outros grãos poderá cair de R$ 89,8 bilhões no ano passado para R$ 79,4 bilhões neste ano, segundo estimativa da RC Consultores, divulgada em reportagem do Estado de ontem. A queda de receita é apenas parte dos problemas enfrentados pelos agricultores nesta temporada. Os preços agrícolas permanecem acima das médias de 2007, mas caíram bem mais do que os custos de produção no segundo semestre do ano passado, quando foi plantada a nova safra. Pode-se prever, portanto, diminuição não só da renda, mas também da lucratividade dos produtores.

As perspectivas do comércio internacional também não são animadoras para o agronegócio neste momento. No cenário considerado mais provável, o Ministério da Agricultura projeta para o setor uma receita de exportações de US$ 56,4 bilhões em 2009, 21,6% menor que a estimada para o ano passado. Na hipótese mais otimista, os produtos embarcados poderão render US$ 67,1 bilhões, mas ainda o faturamento será menor - 6,8% - que o de 2008.

Se o câmbio evoluir favoravelmente, a receita em reais poderá ser menos prejudicada, mas, de toda forma, haverá um dano considerável para o balanço de pagamentos do País. O agronegócio tem sido a fonte mais importante do superávit comercial brasileiro.

Os preços externos e o volume embarcado dependerão, naturalmente, da evolução da crise internacional e, de modo particular, do desempenho econômico da China e de outros emergentes. Os números divulgados nas últimas semanas mostraram piora marcante da economia chinesa e as previsões para o país tornaram-se bem mais preocupantes.

O enfraquecimento do agronegócio em 2009 poderá afetar a economia nacional de várias maneiras, neste e no próximo ano. A combinação de menor produção com preços menos favoráveis deverá, nos próximos meses, afetar as vendas de bens de consumo duráveis no interior. Também deverá prejudicar a indústria produtora de máquinas e equipamentos agrícolas, além do setor de insumos químicos para o campo. Tudo isso contribuirá para frear o crescimento econômico neste ano e para dificultar a recuperação no próximo. O efeito sobre o custo de vida poderá ser limitado, a curto prazo, mas será mais sensível em 2010, se o plantio da próxima safra for afetado pela escassez de dinheiro e pelo reduzido uso de insumos.

O tempo desfavorável, com a infeliz combinação de seca em alguns Estados e excesso de chuva em outros, agravou uma situação já complicada pela escassez internacional de crédito e pela recessão no mundo rico. O governo deveria acompanhar com especial atenção o cenário econômico do campo e preparar-se para intervir com rapidez, se necessário, para impedir uma grave crise num setor de enorme importância estratégica.


Fonte: O Estado de SP

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Fonte:
O Estado de SP

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