Brasil tem potencial para expandir consumo de etanol em 21 estados

Publicado em 15/08/2025 11:18

Embora o Brasil possua a maior frota de automóveis flex do mundo, o consumo nacional de etanol hidratado ainda apresenta forte concentração geográfica. Atualmente, 80% do volume comercializado no país se restringe apenas a seis estados – São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que juntos somam 55% do total de veículos flex. Na prática, significa que 45% de veículos bicombustíveis que circulam nos demais 21 estados e no Distrito Federal consomem somente 20% do etanol produzido.

Para o CEO da SCA Brasil, Martinho Seiiti Ono, esse desequilíbrio na distribuição e venda revela tanto um desafio logístico quanto uma oportunidade de expansão para o setor. “Fatores como a infraestrutura de postos, a competitividade de preços em relação à gasolina e políticas tributárias regionais explicam parte desta disparidade. Com a reforma tributária prevista para 2027 e a expansão da produção de etanol de milho, a expectativa é que o acesso ao combustível possa se tornar mais amplo em todo o território nacional”, observa.

O executivo participou do painel “Expansão global do etanol”, realizado nesta quarta-feira (13/08), durante o primeiro dia da FenaBio, evento integrado à 31ª Fenasucro & Agrocana, realizado em Sertãozinho (SP). Além de Ono, o encontro, que teve a curadoria da MediaLink Corporate Communications, reuniu importantes lideranças da indústria de biocombustíveis para discutir o futuro do etanol no Brasil e externamente.

O debate, mediado pelo diretor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), Luciano Rodrigues, reuniu o presidente da Associação dos Produtores de Açúcar Etanol e Bioenergia (NovaBio), Renato Cunha, o CEO da Evolua Etanol, Pedro Paranhos, o diretor de Assuntos Governamentais da Toyota do Brasil, Rafael Luiz Ceconello, e o diretor comercial da FS Fueling Sustainability, Paulo A. Trucco da Cunha.

Além das oportunidades globais, como o uso do etanol para navegação marítima, a fabricação de combustíveis sustentáveis para aviação (SAFs, na sigla em inglês) e novas políticas de mistura de combustíveis renováveis aos fósseis no mercado internacional, Martinho Ono reforçou que o Brasil continua sendo a maior fronteira de expansão para o etanol. O crescimento da produção do biocombustível a partir do milho e o aumento do consumo interno seriam, segundo ele, fundamentais para absorver o volume crescente de produção nos próximos anos.

Potencial de mercado e obstáculos

Segundo o CEO da SCA Brasil, com 78% da frota automotiva composta por modelos flex, apenas 24% abastecem com etanol. “Ou seja, há uma diferença de 54 pontos percentuais, o que representa clara oportunidade de crescimento no consumo de hidratado. Cada ponto percentual de avanço na participação do ciclo Otto significa 850 mil metros cúbicos adicionais. Se a participação subisse de 24% para 30%, o aumento seria de cerca de 5 milhões de litros”, ressalta Ono.

O executivo pontua ainda que o desempenho do consumo do biocombustível em estados como São Paulo, onde a participação no ciclo Otto está acima de 42%, e no Mato Grosso, com mais de 50%, prova que o aumento no uso do hidratado é viável no restante do país: “Em diversas unidades da federação, o renovável não chega a 8% de participação, e muitos postos sequer possuem bombas de etanol”.

Medidas para impulsionar o consumo

Considerada a Reforma Tributária como solução essencial de curto prazo para aumentar a competitividade do biocombustível frente à gasolina, outra aposta é a expansão da produção de etanol de milho, que já começa a chegar a estados não produtores de cana-de-açúcar, reduzindo custos logísticos e ampliando o acesso ao produto. Ono lembra que a produção de cana está estagnada há mais de dez anos, em 600 milhões de toneladas no Centro-Sul e 60 milhões de toneladas no Norte e Nordeste, enquanto o milho apresenta forte crescimento.

Dados da SCA Brasil indicam que na safra sucroenergética 2024-2025, encerrada em março, a produção de etanol de cana caiu 2% (para 26,76 bilhões de litros) em comparação com o ciclo agrícola anterior, mas a de milho garantiu recorde histórico, saltando 31% e atingindo 8,19 bilhões de litros. No período 2025-2026, a expectativa é chegar a 10 bilhões de litros anuais, segundo informações da União Nacional do Etanol de Milho (UNEM).

Comunicação com o consumidor

Durante sua participação no painel de debates, o CEO da SCA Brasil defendeu uma comunicação mais ampla e assertiva com os consumidores. Segundo Ono, medidas recentes adotadas pelo governo, como a elevação de 30% na mistura de anidro na gasolina (E30) e a adoção da monofasia no imposto federal, trouxeram vantagens competitivas para o biocombustível, mas não foram devidamente compreendidas pelo público em geral por falhas na divulgação destes avanços regulatórios. 

“Falamos muito dos benefícios dos biocombustíveis, mas o segmento comunica mal. Precisamos mostrar ao consumidor todas as externalidades positivas do etanol”, enfatiza o executivo.

Fonte: SCA Brasil

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Preços mundiais dos alimentos caem pelo terceiro mês em novembro, diz FAO
Minério de ferro encerra semana em baixa devido à melhora na oferta e demanda fraca da China
Comércio dos EUA com a China provavelmente precisa ser menor, diz Greer
Ações da China interrompem três dias de quedas com otimismo sobre chips domésticos
Índices de Wall Street fecham quase estáveis com impulso de apostas de corte do Fed, mas pressionados pela Amazon
Amcham: novembro registra 4ª queda seguida nas exportações aos EUA e reforça necessidade de acordo bilateral