Reunião do Copom de janeiro deve ter duas das nove diretorias vagas, dizem fontes
Por Marcela Ayres
BRASÍLIA, 5 Dez (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve enviar ao Senado apenas no próximo ano suas próximas duas indicações para a diretoria do Banco Central, disseram à Reuters três fontes com conhecimento do assunto, deixando a esperada reunião de política monetária de janeiro com um quorum inédito de sete dos nove membros do colegiado.
Os mandatos dos últimos dois diretores nomeados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro -- Diogo Guillen, de Política Econômica, e Renato Gomes, de Organização do Sistema Financeiro -- terminam no fim de dezembro e as novas indicações, que precisam passar pela aprovação do Senado, onde as relações com o governo estão tensionadas, ainda não foram formalizadas.
Embora Guillen e Gomes possam legalmente permanecer até a posse de seus substitutos, a expectativa é que deixem os cargos ao fim dos seus mandatos, afirmaram duas das fontes, sob condição de anonimato. Suas atribuições seriam então temporariamente absorvidas por outros integrantes do Copom, todos estes nomeados por Lula.
Atas do Copom publicadas pelo BC desde 1998 mostram que não houve até aqui reunião com duas ausências.
O Banco Central afirmou que não comentaria o assunto. O Ministério da Fazenda e Palácio do Planalto não responderam de imediato.
O mercado está na expectativa para saber se o BC iniciará um aguardado ciclo de cortes na reunião de 27 e 28 de janeiro ou se esperará até março, em meio a sinais crescentes de desaceleração gradual da economia sob juros restritivos, com a Selic mantida inalterada desde junho em 15%, maior nível em quase duas décadas. Para dezembro, a expectativa consensual é de manutenção dos juros, segundo pesquisa da Reuters com economistas.
Após a indicação presidencial, os nomes precisam passar por sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado antes da votação em plenário.
"Ainda não fui procurado sobre indicações para o BC", disse à Reuters o presidente da CAE, senador Renan Calheiros.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner, afirmou que o Executivo "deve estar tratando do tema, mas nada chegou até mim".
Ao apertado calendário legislativo, que se encerra em 22 de dezembro, soma-se o ambiente inóspito ao governo na Casa após Lula ter escolhido -- mas ainda não formalizado -- a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal, irritando o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que apoiava outro nome.
O Congresso retoma os trabalhos em 2 de fevereiro. Sem aprovação ainda este ano, os novos diretores só participariam da segunda reunião de política monetária de 2026, em 17 e 18 de março, caso ganhem o aval dos senadores para que tomem posse antes disso.
NOVOS NOMES
Duas das fontes também pontuaram que o governo não bateu o martelo sobre os próximos diretores.
Uma delas afirmou que uma possibilidade é o diretor de Assuntos Internacionais, Paulo Picchetti, deixar o seu cargo para assumir a Diretoria de Política Econômica -- uma das posições mais estratégicas da autarquia, responsável pela avaliação técnica das condições econômicas que orienta as decisões de juros.
Picchetti é próximo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e é considerado especialista em inflação.
Para a diretoria de Organização do Sistema Financeiro, a mesma fonte afirmou que o governo pode voltar a indicar um quadro de carreira do BC.
Entre os potenciais nomes estão o chefe de gabinete do diretor que deixará o cargo, Angelo Duarte, a chefe do departamento de Organização do Sistema Financeiro, Carolina Boher, e o secretário-executivo do banco, Rogério Lucca, visto como próximo ao presidente do BC, Gabriel Galípolo.
O BC e o governo se negaram a comentar sobre potenciais nomeações.
(Reportagem de Marcela Ayres)