Bovespa fecha com perda de 2,27% em dia de nervosismo mundial
Uma onda de nervosismo em relação às economias europeia e americana contribuiu para a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) sofrer seu pior "tombo" em mais de um mês. A principal "vítima" do dia foram as ações da mineradora Vale, muito sensível às variações do preços das matérias-primas. A taxa de câmbio doméstica cravou R$ 1,79, o preço mais alto em quase três meses, refletindo o dia agitado no mercado.
O Ibovespa, índice que reflete os preços das ações mais negociadas, cedeu 2,27% no fechamento, aos 67.067 pontos. O giro financeiro foi de R$ 7,35 bilhões. Ainda operando, a Bolsa de Nova York cai 1,02%. As Bolsas europeias também desvalorizaram, a exemplo de Londres, onde o índice FTSE cedeu 1,92%, e de Frankfurt, em baixa de 0,99% pelo índice Dax.
Respondendo por um quarto dos negócios realizados na Bolsa, a ação preferencial da Vale foi o grande "motor" das perdas do dia. O ativo desvalorizou 3,42%, cotado a R$ 41,45, movimentando R$ 1,58 bilhão.
"Houve influência do pessimismo com relação à economia europeia, com todas essas notícias sobre o rebaixamento da Grécia, e os riscos envolvendo outros países [desse continente], como Espanha ou Portugal. A questão é que, hoje, o mercado vê a Europa como um dos principais motivos para um 'upside' [alta] dessas ações. A China já estava comprando bastante [commodities]", comenta Leonardo Alves, analista da Link Investimentos. "Eu vejo perspectivas muito boas para o preço do minério no ano que vem, baseado principalmente numa recuperação da economia europeia e também, da japonesa. É possível que a China cresça até um pouco menos", acrescenta.
Entre as principais notícias do dia envolvendo a mineradora, a imprensa chinesa reportou que alguns contratos fechados entre a empresa brasileira e companhias chinesas foram fechados com preços de frete 20% a 30% mais baixos do que o normal. A Vale não confirmou a informação.
Em sua estreia na Bolsa, a ação dos Laboratórios Fleury disparou 14,06%, sendo cotada a R$ 18,25, com negócios de R$ 163,25 milhões.
O preço da moeda americana subiu 2,34% e atingiu R$ 1,791, sua maior cotação desde 29 de setembro. A taxa de risco-país marca 216 pontos, número 8% acima da pontuação anterior. Lá fora, o euro bateu sua cotação mais baixa em três meses.
"Nós vimos muitos agentes financeiros, principalmente bancos, correndo para reduzir suas posições vendidas [que apostam na baixa da moeda] e não passar o final de ano expostos. Essa movimentação poderia ter ocorrido antes, mas parece que tudo acumulou hoje. Houve um pouco do famoso 'efeito manada': todo mundo começou a entrar no mercado para não pagar um preço muito alto", comenta Carlos Alberto Postigo, gerente de operações da Casa Paulista Assessoria Bancária (Banco Paulista).
EUA
Entre as principais notícias do dia, o Departamento de Trabalho dos EUA revelou um aumento inesperado da demanda pelos benefícios do auxílio-desemprego, que totalizaram 480 mil solicitações até a semana passada (consenso de mercado: 465 mil).
Na quarta, o comunicado pós-reunião do Federal Reserve (banco central americano) mereceu várias leituras dos economistas. Vários ressaltaram que o teor do texto estava mais otimista na comparação com o relatório divulgado em novembro, mas não ao ponto da autoridade monetária já sinalizar a necessidade de um ajuste dos juros. Pesou, no entanto, a sinalização de que o chamado "Fed" vai retirar, a partir do ano que vem, parte dos estímulos concedidos aos agentes econômicos no âmbito da crise mundial.
Ainda no front externo, operadores comentaram o rebaixamento do "rating" (nota de risco de crédito) da Grécia pela agência Standard & Poor's, devido à situação fiscal daquele país, e com dúvidas a respeito da eficácia das medidas do governo grego para gerir as contas públicas.
Brasil
Hoje, o Banco Central brasileiro mostrou que está preocupado com a recuperação da demanda interna e com uma possível pressão sobre os preços e de risco inflacionário. Economistas já avaliam a perspectiva de que a autoridade monetária comece a subir a taxa básica de juros a partir do segundo trimestre, de modo a devolver a Selic para o patamar de 10,50% até o final do ano que vem.
A ata do Copom (Comitê de Política Monetária) divulgada hoje diz respeito à reunião dos dias 8 e 9 deste mês, quando se manteve a taxa básica de juros brasileiro em 8,75% ao ano.
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