Déficit em conta corrente deixa Brasil mais vulnerável

Publicado em 24/01/2010 09:16
Rombo na conta corrente não preocupa no curto prazo, mas pode atrapalhar crescimento a partir de 201





Em dezembro, o saldo negativo alcançou US$ 5,9 bilhões, um recorde mensal desde que a estatística começou a ser feita, em 1947. No ano passado todo, o buraco chegou a US$ 24,3 bilhões, o equivalente a 1,55% do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2010, a expectativa do Banco Central (BC) é de que o déficit seja de US$ 40 bilhões. No mercado, porém, há projeções de até US$ 60 bilhões, mais de 3% do PIB. 

A conta corrente sintetiza as relações de uma nação com o exterior. Inclui a balança comercial (exportações menos importações), a balança de serviços (como royalties que multinacionais mandam para suas matrizes) e as transferências unilaterais (dinheiro que estrangeiros que vivem aqui remetem para seus países e brasileiros que moram lá fora mandam para cá). Quando a conta corrente é deficitária, o país precisa financiá-la. 

Hoje, não há problemas, pois o Brasil é o queridinho do mercado financeiro global. Só de Investimento Estrangeiro Direto (IED) o BC espera US$ 45 bilhões em 2010, o que não está muito distante da média do mercado. Há, ainda, outras fontes potenciais de atração de dinheiro, como aplicações em títulos públicos e ações brasileiras. A essas atenuantes devem-se acrescentar as reservas do País, de US$ 241 bilhões.

"O que assistimos hoje é uma expansão de liquidez que proporciona uma oportunidade, infelizmente temporária, para que vários países emergentes tenham um crescimento mais acelerado do que o permitido pelos seus próprios meios", sintetizou o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore. 

O raciocínio do economista toma por base a conjuntura global. Com os países desenvolvidos em crise, com perspectivas de baixo crescimento por vários anos, os emergentes se tornaram os consumidores de última instância do mundo. Significa que, ao menos por ora, não terão problemas para financiar rombos na conta corrente. 

"Como vejo uma conta financeira forte em 2010, acredito que novamente haverá sobra de dólares, o que implicará num aumento das reservas internacionais em cerca de US$ 20 bilhões", afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. "Ninguém está discutindo solvência, mas pode haver volatilidade. Por quê? Com três meses seguidos de enfraquecimento da entrada de capitais, haveria pressão no mercado de câmbio", diz o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados (leia mais na pág. B6). 

O professor da PUC de São Paulo Antonio Corrêa de Lacerda é outro que não vê grande risco no curto prazo. Mas também faz um alerta. "Deveríamos evitar essa trajetória porque pode não ser problema em 2010, 2011, mas à frente poderá ser."

O risco é o de que uma mudança nos humores do mercado global reduza o fluxo de capitais. Isso faria o dólar se valorizar, o que provavelmente impactaria a inflação. Para evitar a escalada dos preços, o BC teria de elevar a taxa de juros, o que esfriaria a atividade econômica. 

EFEITO NO CÂMBIO

Segundo o economista Sidnei Nehme, sócio da NGO Corretora, a expectativa de volatilidade já se reflete na movimentação dos investidores. Ele dá como exemplo a posição de estrangeiros no mercado futuro de câmbio na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). No fim do ano passado, esses agentes tinham posição líquida comprada em real no valor de US$ 3,25 bilhões. Hoje, são US$ 2 bilhões. Em português, significa que a aposta na valorização do real caiu em quase 40%. 

"(O déficit) põe o dólar em rota ascendente, apesar das reservas altas", disse. "É sempre um sinal preocupante." O vaivém do mercado de câmbio mundial é um indício de que Nehme pode ter razão. Em uma lista de 35 moedas, o real é a que tem a maior queda ante o dólar neste início de ano, 3,53%.
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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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