Ascensão da China no comércio exterior traz problemas e benefícios aos gaúchos

Publicado em 22/02/2010 09:21
Brasil deve sofrer com a concorrência e ganhar com exportação de alimentos e etanol
Enquanto o resto das economias mais desenvolvidas teve, em 2009, um ano perdido em recessão profunda, a China emergiu da turbulência como a principal exportadora do planeta, encostou na segunda maior economia do mundo e se firmou como a maior parceira comercial do Brasil, desbancando os Estados Unidos.

Andar de mãos dadas com um gigante que, avaliam muitos, terá de fazer força para não crescer demais em 2010, deve trazer ao Brasil tanto problemas quanto benefícios. De um lado, sofrerá com a concorrência no setor de manufaturados industriais, fabricados em massa e a custos mínimos pela China. De outro, poderá oferecer alimentos, petróleo, etanol e outras commodities para um mercado de 1,5 bilhão de pessoas.

— Até agora, a ascensão da China repercutiu muito mais positiva do que negativamente. Além de um mercado enorme para as commodities brasileiras, a importação de produtos chineses a preço baixo ajuda a conter a inflação — diz Rafael Paschoarelli, da Fundação Instituto de Administração.

Assim como em relação ao Brasil, a China desbancou os Estados Unidos como o principal destino das exportações gaúchas em 2009. As vendas para os chineses somaram, no ano passado, US$ 2,383 bilhões, crescimento de 24% sobre 2008, enquanto os embarques para os EUA minguaram 49%, caindo para US$ 1,246 bilhão, recuando para terceira posição, atrás também da Argentina.

A corrente de comércio entre o Rio Grande do Sul e a China também mostra que, enquanto o Estado embarca quase somente produtos básicos, principalmente soja, importa itens de maior valor agregado como máquinas, equipamentos, químicos e têxteis.

— Embora tenhamos um superávit de US$ 1,95 bilhão, os produtos chineses têm valor agregado e geram mais empregos lá — compara o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, Paulo Tigre.

Mas a ocidentalização dos hábitos de consumo da elite chinesa e o poder aquisitivo crescente da população abre oportunidade de melhorar o perfil das exportações gaúchas para a China, explorando nichos que escapam da concorrência pelos custos e do câmbio desfavorável.

— Nas churrascarias chinesas há vinhos de todo o mundo, menos do Brasil. A China importa móveis finos de madeira e couro da Itália, país que não tem couro nem madeira. As chinesas compram sapatos italianos caríssimos. Falta agressividade ao Brasil — diz o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), Charles Tang.

A percepção é compartilhada pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), representante de um setor que, nos últimos anos, teve na China uma pedra no sapato. A entidade enviou uma missão no início do ano para estudar cidades como Hong Kong, Pequim e Xangai e traçar uma estratégia comercial para entrar no mercado local. As melhores oportunidades, aposta o consultor da Abicalçados Enio Klein, estão nos calçados femininos com o design como diferencial, especialidade do polo do Vale do Sinos.

Com cada vez mais bocas para alimentar, também deve crescer a demanda por comida. Para o presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) no Rio Grande do Sul, Antônio Wünsch, a China abrirá em breve o apetite para carnes suína e de frango e leite em pó.

— Quando aquele povo começar a comer um pouco mais, teremos de produzir muito mais soja e outros alimentos para sustentar a demanda — avalia Wünsch.
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Fonte:
Zero Hora

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