Poder de pressão dos setores afetados é inferior ao agrícola

Publicado em 09/03/2010 08:31
A lista de retaliações comerciais do caso do algodão, divulgada ontem pelo Brasil, deverá estimular alguns setores atingidos, como os de cosméticos e de automóveis, a pressionar o governo e o Congresso americano para encontrarem uma solução negociada. Mas, na avaliação de fontes ouvidas pelo Valor, o poder de pressão desses setores é bem menor do que o poderoso lobby agrícola, que está por trás dos subsídios do algodão.

A aposta é que o setor agrícola encontre um adversário de maior peso no Congresso - a indústria farmacêutica - apenas mais adiante, quando o Brasil anunciar as retaliações na área de propriedade intelectual, que incluem patentes de medicamentos. "Os setores agrícola e farmacêutico têm os maiores lobbies no Congresso", afirma uma fonte que tem acompanhado as negociações.

Alguns setores empresariais já têm atuado junto aos governos americano e brasileiro para achar uma solução negociada. É o caso do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, entidade que reúne grandes empresas com interesses nos dois países, ligada à influente Câmara de Comércio dos Estados Unidos. "Temos uma janela de 30 dias até as medidas entrarem em vigor", afirmou o diretor-executivo da seção americana do Conselho Empresarial, Steven Bipes. "Estamos incentivando os dois países a promover negociações urgentes para evitar as retaliações."

Ontem, o único movimento concreto do governo americano foi uma declaração do USTR, o escritório responsável pelas negociações comerciais, afirmando que continua a negociar com o Brasil para evitar a concretização das retaliações. "Ficamos desapontados ao saber que as autoridades brasileiras decidiram levar adiante medidas contra os EUA", declarou a porta-voz do USTR, Nefeterius McPHerson. "O USTR está trabalhando para chegar a uma solução e continuamos a preferir uma solução negociada."

O USTR indicou que o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Gary Locke, deverá aproveitar visita que faz hoje ao Brasil, onde participa de fórum com líderes empresariais, para negociar uma solução para o caso do algodão. Locke, porém, comanda a área do governo americano responsável pela promoção de comércio exterior, sem ingerência sobre negociações comerciais.

Fonte ouvida pelo Valor lembra que o USTR, sozinho, não será capaz de oferecer uma solução ao Brasil, já que os subsídios à produção do algodão, o centro da disputa com o Brasil, é uma decisão que depende apenas do Congresso. Desde o início da disputa, o setor agrícola tem usado todo o seu poder de pressão para manter os incentivos na área. O USTR, na visão dessa mesma fonte, não tomou a liderança para convencer o Congresso a mudar a legislação e, aparentemente, estaria esperando que, com a divulgação da lista, setores atingidos possam pressionar os parlamentares para achar uma solução para o caso.

As chances de sucesso, porém, são incertas. O México, por exemplo, impôs retaliações aos EUA há um ano, porque os americanos não deixam seus caminhões transportarem cargas dentro do país, numa violação às regras da Nafta. Até agora, porém, os EUA não fizeram nenhum movimento concreto para reverter as retaliações.

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Fonte:
Valor Econômico

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