'Brasil x EUA: existem vitórias que são verdadeiras derrotas'

Publicado em 10/03/2010 13:41

Existem vitórias que são verdadeiras derrotas. O caso recente onde a Organização Mundial do Comércio (OMC) autoriza o Brasil a retaliar comercialmente os Estados Unidos é prova disso. Os EUA dão um subsídio aos produtores de algodão que a OMC considerou incorreto, autorizando assim o Brasil a retaliar as importações dos EUA em um valor aproximado de U$ 800 milhões.

A racionalidade dos retaliadores brasileiros é a seguinte: punindo as exportações americanas, o lucro de determinadas empresas americanas irá cair. Sendo assim, essas empresas pressionarão o governo americano para que este reduza o subsídio dos produtores de algodão.

No papel a ideia faz algum sentido. Mas esse sentido logo desaparece quando lembramos que o governo americano não tem autorização para retirar o subsídio dos produtores de algodão. Essa autorização só pode ser dada pelo Congresso (ao contrário do Brasil, lá o presidente não tem direito a editar Medidas Provisórias).

Também devemos lembrar que as exportações americanas para o Brasil representam menos de 3% das exportações totais dos EUA, ou seja, o impacto da retaliação brasileira tem boa chance de fazer mais barulho do que estrago. Além disso, acredito que os americanos ainda dispõem de um certo orgulho e também fazem considerações dos impactos de longo prazo de suas negociações. Isto é, se eles cederem a uma ameaça tão pequena como essa do Brasil, como seus diplomatas poderão ter credibilidade para sustentar posições que são, determinadas vezes, bem mais controvertidas?

Mesmo que a ideia do governo brasileiro funcione, mesmo que amanhã o governo americano volte atrás e suspenda o subsídio do algodão, a lição que fica desse episódio é o total desrespeito do governo brasileiro com seus cidadãos. Por curiosidade, será que o governo lembrou que ao se aumentar as alíquotas de importação o preço dos produtos iria subir? Será que ele levou em conta que aumentar o imposto de importação de remédios torna a vida do doente mais difícil? Será que alguém se lembrou de que o aumento do imposto de importação sobre gêneros alimentícios torna a vida do pobre mais difícil?

Claro que todos no governo sabiam disso. Eles apenas agiram como sempre agem: desrespeitando os pobres e doentes de nosso pais em prol de um grupo específico de interesse. Afinal, são os fabricantes nacionais que irão se beneficiar de mais essa barreira à competição. Com menos concorrentes, os fabricantes nacionais irão vender mais. Mas se irão vender mais, isso só aconteceu porque o governo brasileiro deu um jeito de tirar da competição os produtos importados. Com menos competição o preço sobe, e os consumidores brasileiros pagam a conta de mais essa política irresponsável do governo brasileiro.

Outro detalhe: como o governo brasileiro aumentou também o custo de importação de diversos insumos da economia, devemos esperar uma queda na produtividade de nossa economia. Por exemplo, ao se aumentar o imposto de importação do sêmen, importa-se menos sêmen e prejudica-se a competitividade brasileira no longo prazo, fazendo com que exportemos menos carne e que paguemos mais para ter carne na mesa.

Quando te falarem que o mercado concentra renda, lembre-se que são as medidas de políticas públicas implementadas por governos populares os maiores instrumentos de transferência de renda dos pobres para os ricos. Essa medida de restringir a importação de determinados produtos americanos é apenas mais uma política pública que irá favorecer um grupo seleto de empresários à custa de toda a sociedade. Desnecessário dizer que a Fiesp apóia a medida...

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Fonte:
O Globo

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1 comentário

  • Marcos de Souza Dias Maringá - PR

    Além disso tudo, o governo arrecadará mais dinheiro, como sempre para gastar consigo mesmo. Se subsidiam o produtor lá, correto seria subsidiar o produtor aqui, nem que seja por via indireta, construindo e melhorando estradas da produção, reduzindo impostos nos insumos e etc. Medidas como estas são inflacionárias. São o "tiro no pé"!

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