EUA pressionam para manter subsídios

Publicado em 17/03/2010 08:33
Produtores de algodão e senadores dizem que cenário mudou e fazem campanha para manter incentivos condenados na OMC. Retaliação seria um "gol contra", afirma a Câmara de Comércio dos EUA, e abalaria os interesses do Brasil "de forma profunda e duradoura".
Na falta de uma proposta concreta da Casa Branca para suspender a retaliação do Brasil a produtos americanos por conta da disputa comercial sobre o algodão, o setor do agronegócio e senadores dos EUA elevaram a pressão na defesa dos subsídios governamentais ao produto, apesar de a prática ter sido condenada pela Organização Mundial do Comércio.

O Conselho Nacional do Algodão dos EUA, que representa sete setores algodoeiros de 17 Estados, criticou à Folha ontem a retaliação brasileira e afirmou que o cenário atual é diferente de quando a OMC decidiu em favor do Brasil.

"O Brasil está adotando meditas retaliatórias apesar de os preços mundiais do algodão se encontrarem mais de 50% acima dos de 2005, [ano] que serviu de base para a decisão original [da OMC]. A área produtiva dos EUA caiu mais de 40%, enquanto as produções de Brasil, China e Índia se expandiram", disse o conselho em nota.

"Qualquer resolução deve reconhecer as realidades do mercado atual de algodão e as mudanças feitas nos programas dos EUA."

A posição do órgão tem o apoio de membros da Comissão de Agricultura do Senado americano. Os senadores Blanche Lincoln (democrata, de Arkansas) e Saxby Chambliss (republicano, da Geórgia) afirmaram, após o primeiro anúncio de retaliações por parte do Brasil, que é preciso reconhecer "os papéis relativos dos programas [de subsídios] e a situação do mercado mundial".

A argumentação dos senadores e do conselho é a mesma -de que os EUA eliminaram em 2006 o programa Step 2, considerado de subsídio à exportação, e que a parte da retaliação permitida pela OMC relativa aos programas do governo é relativamente pequena, fixada em US$ 147 milhões.

O empresariado brasileiro contrário aos subsídios do algodão, porém, rejeita essa posição, afirmando que três programas de subsídios seguem em vigor e que um similar ao Step 2, ainda mais potencialmente distorcivo, foi recriado na lei de agricultura de 2008.

A Câmara de Comércio americana aumentou ontem o tom da crítica à retaliação cruzada prevista pelo Brasil, que deverá atingir itens de propriedade intelectual. "Suspender a proteção ao direito à propriedade intelectual de empresas americanas seria um "gol contra", afastando investimentos e prejudicando interesses brasileiros de forma profunda e duradoura", disse à Folha John Murphy, vice-presidente para assuntos internacionais.

A retaliação cruzada se soma à lista de 102 produtos americanos cujas tarifas de importação devem subir a partir de 7 de abril. O total das sanções deve atingir US$ 830 milhões.

Timothy Reif, assessor geral do representante americano para o Comércio, Ron Kirk, afirmou ontem que as negociações com o Brasil continuam em curso e que o governo americano está empenhado em conseguir um acordo para evitar as retaliações.

Kirk afirmou neste mês que a intenção é oferecer compensações ao Brasil. Apenas se isso fracassar o governo tentará persuadir o Congresso a mudar o programa do algodão para satisfazer as exigências do Brasil.

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Fonte:
Folha de São Paulo

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1 comentário

  • Francisco Antonio Monti Primavera do Leste - MT

    O governo brasileiro deve, e tem por obrigação, a defesa dos interesses dos brasileiros, neste caso os agricultores/cotonicultores.

    Retaliação é uma palavra que gera defesa ao interesses da agricultura estadosunidenses, em detrimento ao direito brasileiro, e não se trata de retaliação, mas cobrar o que ja foi perdido, pelas atitudes contrarias a politica da OMC. O governo brasileiro deve e precisa

    tomar atitude de uma nação soberana que defenda os interesses domesticos acima de qualquer interesse internacional, não só no que diz respeito aos subsidios do algodão, mas tbm como defender o triticultura porque se o governo quiser,e dar condições reais, o Brasil passa

    a ser autosuficiente em trigo de um ano para outro.

    É só estabelecer um preço minimo condizente com o custo de produção e honrar a palavra, de que vai comprar a produção porque produzir??? nós sabemos.

    Lutar até contra a politica agricola o produtor precisa para a sua sobrevivencia.

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