O PENSAMENTO DO PROFESSOR EUGÊNIO GUDIN -"Os problemas"

Publicado em 21/03/2010 21:42
Artigo publicado no jornal "O Globo" do Rio de Janeiro, edição de 25/05/7


 

Quais são os setores mais vulneráveis da civilização ocidental, perguntamos agora, que os desafiantes escolheram para sobre eles fazer convergir suas atividades? Em outras palavras, quais as mazelas, fraquezas ou enfermidades mais vulneráveis às tentativas de solapamento do conjunto?

 

É interessante observar que os problemas mais graves com que se defronta a civilização são todos de eclosão ou pelo menos de focalização recente.

 

Não me recordo, por exemplo, de ter ouvido falar, antes da II Guerra, da poluição do ar e das águas, que agora tais proporções assume, que há quem levante dúvida sobre a capacidade da biosfera para proporcionar à humanidade, por muito tempo, um ambiente habitável.

 

A Unesco organizou, recentemente, uma conferência intergovernamental sobre as condições da manutenção da vida, sob todas as suas formas, na superfície da Terra. A NATO cria um comitê para tratar dos desafios à sociedade moderna. Por fim as Nações Unidas anunciam, para 1972, uma conferência mundial sobre o mesmo tema.

 

A principal contribuição para esta poluição progressiva e ameaçadora é a do crescimento demográfico, em proporções nunca antes imaginadas. Em 10 mil anos, para sermos modestíssimos no algarismo, a humanidade atingiu um efetivo de 3,5 bilhões de indivíduos. Em 30 anos, a saber, de 1970 a 2000, estima-se que este número duplicará. E não é possível pensar em resultados das providências que se adotarem contra essa ameaça, antes do ano 2000, mesmo se as medidas de redução voluntária fossem tomadas desde já em escala mundial.

 

Não é o fator demográfico único responsável pela poluição, os resíduos provenientes da expansão industrial, sempre crescente, infestam a atmosfera de bióxido de enxofre, hidrocarbonados, acrilatos, etc; de outro lado, os veículos automóveis aos milhões, cujos gases de descarga são o mais grave fator de poluição do ar das cidades. Nos países em que predominar a produção de energia nucleotérmica, o aquecimento das águas dos rios constituirá outro grave fator de desoxigenação e degradação dos rios.

 

A humanidade está se dando conta, pela primeira vez, de que a capacidade dessa tênue película terrestre de ar e de água, designada biosfera, que permitiu a vida humana no planeta (guiçá, no único deles), não é ilimitada. Ninguém duvida que a inteligência e o engenho humanos, quando não o próprio instinto de sobrevivência, acabarão por controlar essas ameaças de morticínio em massa. Mas daqui até lá, especialmente nos próximos 30 anos?

 

Dificilmente achariam os desafiantes que vimos enumerando, melhor tema para desmoralizar a civilização que querem destruir, sem, aliás, sugerir o que pretendem criar no seu lugar.

 

Outra grande interrogação com que a Esfinge resolveu nos interpelar depois da II Guerra é a da hipertrofia demográfica, não só por sua contribuição, que assinalamos, à poluição da biosfera, mas por suas próprias conseqüências quantitativas. Se nenhuma providência for tomada, a superfície terrestre utilizável já não será suficiente nos próximos 100 anos para suportar o formigueiro humano.

 

Isto não quer dizer que o problema da excessiva natalidade afeta a curto prazo e, uniformemente, todas as nações. Admite-se, por exemplo, que a França, como o país de menor densidade demográfica dentre as nações da Europa Ocidental, procure equipar-se às demais, de vez que tem para isso os recursos necessários; como se admite que a Rússia, que se apropriou de imensas extensões de terras na Sibéria, estude os meios de ocupá-las "à medida que para isso venha a dispor de recursos".

 

Este mesmo argumento é aqui aplicado, leviana e impensadamente, ao caso do Brasil e de sua Amazônia semideserta, sem indagar do capital (estradas, comunicações, habitação, alimentação, educação e saúde) "de que não dispomos" para a tarefa. É que o combate à miséria forçosamente deve preceder à expansão demográfica, sob pena de provocarmos uma proliferação da miséria só comparável à da Índia.

 

O fato de ser enorme nossa extensão territorial, nem sempre, aliás, composta de terras dadivosas, e serem muito limitadas nossas disponibilidades de capital, obriga-nos a ter paciência e a nos conformarmos em escalar sucessivamente as etapas de nosso povoamento.

 

Mas o problema que ora ventilamos não é brasileiro; é universal. O controle da natalidade é um imperativo categórico, não só no sentido moral que lhe dava Kant mas para o próprio objetivo de preservação humana.

 

Ainda outro problema ao qual só se deu grande ênfase depois da II Guerra foi o do desenvolvimento econômico, ou melhor, da disparidade de riqueza e de padrão de vida entre os povos dos países que já atingiram um alto grau de progresso econômico, e os chamados subdesenvolvidos, ou, por eufemismo, "países em via de desenvolvimento". Não é que o problema já não existisse antes da II Guerra, mas que só nos últimos 25 anos tem sido focalizado em termos quantitativos de produto nacional e de produto per capita. É que as estatísticas econômicas desse gênero são relativamente recentes.

 

Passam então os desafiantes, a que nos referimos nos artigos anteriores, a exigir, em altas vozes, dos países ricos, que promovam, sem mais tardar, o desenvolvimento dos subdesenvolvidos. Ora, em primeiro lugar, o problema dos países subdesenvolvidos depende sobretudo deles próprios, especialmente de seus valores humanos. A contribuição vinda do exterior, ainda quando recebida com simpatia (o que não é sempre o caso), é simplesmente complementar.

 

Empunhando os cartazes demagógicos ou levianos de Myrdal ou de Prebisch, investem nossos desafiantes contra o suposto "círculo vicioso de pobreza (Myrdal) ou de espoliação através das relações de troca (Prebisch)", argumentos que não resistem a uma análise mesmo superficial, bastando ver como o Japão, o Canadá, a Austrália, a Nova Zelandia, sem contar a Alemanha de 1945, se desvencilharam brilhante, e ainda recentemente, do subdesenvolvimento e da pobreza.

 

Da desigualdade econômica entre nações passam os desafiantes a incentivar as disparidades entre pobres e ricos dentro de cada nação, especialmente no caso dos Estados Unidos, problema cuja solução progressiva se demonstra com os algarismos da distribuição da renda e da disseminação da educação, nesse e em outros países. Sem que isso dispense novos esforços nesse sentido.

 

Ao problema da pobreza liga-se nos Estados Unidos o problema racial, apenas do enorme progresso que se tem realizado nesse país em matéria de ascensão e de enriquecimento dos negros.

 

A esses verdadeiros problemas, que são reconhecidos, estudados e por vezes em início de solução em vários países, acrescentam os desafiantes, em sua fúria de destruição, os vários slogans demagógicos ao alcance da pena ou da oratória, como os dos "conglomerados gigantescos", do suposto "domínio do consumidor pelo produtor", etc.

 

Desgraçadamente essa campanha de demolição movida pelos desafiantes está encontrando nos Estados Unidos a colaboração de uma grave agitação interna oriunda de um erro trágico de política militar praticado pelo governo desse país. Em seu papel histórico de principal defensor da civilização ocidental contra a imposição do comunismo pela violência, praticaram os Estados Unidos, primeiro na Coréia e agora no Vietnam, o erro de pensar que a ação catalítica de sua presença e algum auxílio militar seriam suficientes para repelir as hordas invasoras. Em um ou outro caso, forças militares consideráveis de terra, mar e ar foram enviadas mas sem permissão de atacarem as bases donde partia a agressão (vide recentes declarações do almirante americano Sharp, que acaba de deixar o Comando Geral do Pacífico). No caso da Coréia isso custou a demissão do maior soldado que a América produziu na II Guerra, o General MacArthur; no caso do Vietnam uma grande parte do povo americano cansado de suportar durante anos uma guerra em que a vitória militar é proibida, revolta-se contra seu governo, numa quase guerra civil, de que se aproveitaram os desafiantes, especialmente os universitários e guerrilheiros para intensificar a agitação e promover a anarquia.

 

Os desafiantes não merecem a consideração nem o apoio da população sensata dos países em que operam, primeiro porque suas armas são a demagogia e a violência, segundo porque não apresentam qualquer sugestão construtiva.

 

O progresso humano não cessa de engendrar novos perigos, mas ele também cria novos meios para conjurá-los.


Carga Tributária Brasileira – Fonte MF

 

Base: De 1989 até 2008

 

 

Carga Tributária Brasileira - % PIB - Fonte MF

Ano

1989

1992

1994

2002

2008

Federal

16,05

17,00

19,90

22,08

24,92

Estadual

6,71

6,96

6,98

8,90

9,23

Municipal

0,95

1,00

1,02

1,37

1,65

Total

23,71

24,96

27,90

32,35

35,80

 

 

 

1 – Em 1990, o Presidente Collor assumiu o governo com uma carga tributária de 23,71% do PIB, entregando o governo em 1992 com uma carga tributária de 24,96% do PIB. Aumento de 5,27% em relação ao ano de 1989.

 

2 – Em 1992 o Presidente Itamar Franco assumiu o governo com uma carga tributária de 24,96% do PIB, entregando o governo em 1994 com uma carga tributária de 27,90% do PIB. Aumento de 11,78% em relação ao ano de 1992.

 

3- Em 1995 o Presidente FHC assumiu o governo com uma carga tributária de 27.90% do PIB, entregando governo em 2002 com uma carga tributária de 32,35% do PIB. Aumento de 15,95% em relação ao ano de 1994.

 

4 – Em 2003 o Presidente Lula assumiu o governo com uma carga tributária de 32,35% do PIB, em 2008 a carga tributária aumentou para 35,80% do PIB. Aumento de 10,66% em relação ao ano de 2002.

 

5 – Do ano de 1990 até o ano de 2008 a carga tributária brasileira teve um aumento de 50,99%.

 

Arquivos oficiais do governo estão disponíveis aos leitores.

 

Ricardo Bergamini
(48) 4105-0832
(48) 9976-6974
[email protected]
https://www.ricardobergamini.com.br

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Fonte:
Ricardo Bergamini

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