Exportadores tentam driblar cinzas. Fruta do Brasil afetada

Publicado em 20/04/2010 08:13
Comerciantes que trabalham com produtos transportados por via aérea, um nicho que inclui mangas, microchips e rosas, estão lutando para reorganizar suas cadeias de suprimento por causa da proibição de voos na Europa. Eles estão alugando caminhões, trens e barcas entre o norte da Europa e os aeroportos no sul, que continuam abertos, um passo a mais que vai atrasar as remessas e pode aumentar os preços de produtos que vão do salmão às flores.

Produtores rurais africanos, importadores europeus de hortifrutigranjeiros e distribuidores de flores do Quênia à Holanda são os mais prejudicados pela paralisação do tráfego aéreo iniciada na quinta-feira. A maioria das empresas farmacêuticas e de tecnologia afirmam contar com estoques suficientemente grandes para não ter que se preocupar agora. E, mais importante, seus produtos não são perecíveis, então podem ser estocados durante longos períodos sem sofrer danos.

A incerteza mostra a fragilidade do transporte aéreo de carga e daqueles que dependem dele. O volume de carga aérea aumentou nos últimos anos, à medida que as companhias aéreas aumentaram o espaço disponível nos aviões de passageiros. Não há números recentes, mas a tonelagem total da carga aérea que entra e sai dos 16 países da zona do euro aumentou de 3,1 milhões em 2000 para 9,8 milhões em 2008, segundo a Eurostat, a agência oficial de estatísticas da UE. Em comparação, o comércio envolvendo caminhões transportou mais de 500 milhões de toneladas em 2008.

Menos de 3% do valor de todas as mercadorias comercializadas entre continentes é transportada por via aérea. A maioria do peixe e das frutas e legumes, como bananas e laranjas, ainda viaja em contêineres refrigerados em navios. A tonelagem dos produtos que passam pelo Porto de Roterdã num único dia é maior do que a do Aeroporto de Schiphol, em Amsterdã, num ano inteiro.

" Menos de 1% de nossos produtos são transportados por via aérea " , disse um porta-voz da gigante britânica dos supermercados Tesco PLC, situação que é parecida em outras redes britânicas.

" Entre esses produtos estão coisas como orquídeas, pimentas e algumas frutas exóticas."

Para as empresas cujos produtos não são perecíveis, como as farmacêuticas e as firmas de tecnologia, a proibição de voar não é uma preocupação imediata. A Sanofi-Aventis SA, importante farmacêutica francesa, informou que usa principalmente navios e caminhões para transportar seus medicamentos. Menos de 1% do volume mundial de remédios é transportado por via aérea, disse ao Wall Street Journal, por telefone, Bernard Amoury, vice-presidente de cadeia de suprimento da Sanofi. Os armazéns da empresa no mundo todo geralmente têm um estoque de um ou dois meses de cada remédio, disse ele.

A maioria dos produtos eletrônicos da Ásia é transportada pelo mar, mas celulares e microchips viajam pelo ar.

A Samsung Electronics Co., a maior fabricante de chips de memória do mundo e segunda maior fabricante de celular em volume, depois da Nokia Corp., afirmou que a empresa só pode operar até amanhã com os estoques que já tem. " Mas como uma fatia maior de celulares e semicondutores é transportada de avião para a Europa, se esse problema com o vulcão durar mais do que o esperado, terá um impacto direto nas exportações de celulares e chips da Samsung " , disse o porta-voz James Chung.

A nascente agricultura africana de exportação pode sofrer bastante.

A queniana Vegpro Ltd., uma produtora de flores e legumes de Nairóbi que transporta quase toda a produção para a Europa de avião, informou que parou de operar desde quinta-feira. " Geralmente transportamos 50 toneladas por dia, mas desde quinta-feira tem sido colher e jogar fora, colher e jogar fora " , diz seu gerente- geral, Angus Douglas-Hamilton.

Vários dos 7.000 empregados da empresa foram avisados para ficar em casa, diz ele.

Douglas-Hamilton tem se ocupado em organizar voos para o sul da Europa e, a partir de lá, caminhões da Espanha e da Itália para clientes no Reino Unido, França e outros lugares. " Nunca vimos nada parecido " , diz ele.

O Quênia exporta 82% das flores e hortifrutigranjeiros que produz para a UE, disse Stephen Mbithi, diretor-presidente da Associação de Exportadores de Produtos Frescos do Quênia. Desde quinta-feira que as flores e legumes ficam empilhados, a um ritmo de cerca de 1.000 toneladas por dia, ou US$ 3 milhões, disse Mbithi. Os produtores dispensaram no fim de semana 5.000 trabalhadores temporários que tinham sido chamados para ajudar a colher a safra.

Dois voos de carga conseguiram pousar ontem no sul da Espanha, de onde Mbithi disse que as flores e legumes seriam transportados para o norte da Europa. Outro voo pousou em Amsterdã, permitindo que as empresas quenianas vendessem pelo menos parte de seus produtos, eliminando um pouco do prejuízo.

A britânica Blue Skies Holdings Ltd., que importa para supermercados britânicos frutas da África e do Brasil, informou sábado que tinha fechado temporariamente suas fábricas em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, e também na África do Sul, no Egito e em Gana devido à nuvem de cinza vulcânica. Ontem ela anunciou a possibilidade de reiniciar as operações em 24 horas. O presidente do conselho e fundador da empresa, Anthony Pile, calcula que enquanto houver paralisação a empresa vai incorrer prejuízo de 100.000 libras esterlinas (US$ 153.544) por dia. " Essa situação está colocando uma pressão imensa nas pessoas que empregamos e nos produtores de quem compramos " , disse Pile.

Os exportadores europeus também foram afetados. Sediada em Oslo, a Marine Harvest, maior produtora de salmão do mundo, com receita anual de US$ 2,4 bilhões, exporta 13% da produção com aviões. Desde quinta-feira ela tem sido obrigada a transportar o salmão de caminhão para Frankfurt, de onde segue por avião para os EUA e a Ásia.

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Fonte:
Valor Econômico

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