Bovespa fecha em alta de 4,11% com entusiasmo global por pacote europeu
A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) acompanhou a onda de euforia mundial com o pacote europeu bilionário para defender o euro e evitar uma crise ainda maior no velho continente. Em uma avaliação preliminar, analistas elogiaram os termos do plano, mas advertiram que esse pacote, por melhor que seja, não deve resolver os problemas fundamentais de países como Grécia e Espanha, como os altos deficits públicos.
O Ibovespa, o principal termômetro dos negócios da Bolsa paulista, avançou 4,11% no fechamento, aos 65.452 pontos. O giro financeiro foi de R$ 6,54 bilhões, pouco abaixo da média (R$ 7 bilhões/dia). Nos EUA, o índice Dow Jones (da Bolsa de Nova York) subiu 3,90% na conclusão dos negócios.
"O mercado já esperava há muito tempo por isso, e que queria ver a própria região [a zona do euro] defendendo a sua moeda. Os mercados reagiram positivamente a algo que é realmente positivo, mas que já deveria ter ocorrido", comenta Kelly Trentin, analista-chefe da corretora Spinelli, ressalvando: "esse pacote não exclui a possibilidade de que as Bolsas voltem a ficar estressadas lá na frente".
Profissionais de mercado têm recomendado aos clientes que saíram da Bolsa na semana passada que permaneçam de fora, aguardando os próximos desdobramentos. Para os que ficaram, o conselho é não mexer na carteira, pelo menos no curto prazo. "As Bolsas podem sofrer ajustes nos próximos dias. Assim como foi um exagero as quedas de 5% [na semana passada], foi um exagero essa alta de 4%", afirma Pedro Braz, da mesa de operações da TOV Corretora.
O dólar comercial foi vendido por R$ 1,777, em um decréscimo de 3,99%, a queda mais acentuada em 17 meses. A taxa de risco-país marca 211 pontos, número 12,08% abaixo da pontuação anterior.
"Há grandes possibilidades do dólar continuar rodando abaixo de R$ 1,80 pelo restante da semana, pelo menos", comenta Carlos Alberto Postigo, gerente da Casa Paulista (Banco Paulista). "Nós provavelmente vamos ver nos próximos dias uma recuperação do euro, que hoje oscilou entre US$ 1,31 e US$ 1,27, mas terminou o dia perto das mínimas. As Bolsas [de Valores] oscilaram muito mais", acrescenta.
Entre outras notícias importantes do dia, o boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, revela que a maioria dos economistas do setor financeiro reajustou para sua cima para suas previsões para a inflação deste ano: o IPCA projetado para 2010 passou de 5,42% para 5,50%. Trata-se da 16ª semana consecutiva que a mediana dessas estimativas é revista para cima.
A FGV detectou inflação de 0,47% para o mês de maio, conforme a leitura do IGP-M, ainda em sua primeira estimativa. Um mês antes, a inflação foi calculada em 0,27%.
O Ministério do Desenvolvimento informou que a balança comercial teve superavit de US$ 517 milhões na primeira semana de maio. No ano, a balança acumula saldo comercial de US$ 2,692 bilhões.
Entenda o pacote
A União Europeia anunciou um pacote orçado em 750 bilhões de euros (quase US$ 1 trilhão) para defender a moeda europeia e impedir a criação de uma crise sistêmica na região. Desse montante, uma parcela de 250 bilhões de euros virá do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Parte dos 750 bilhões de euros vão servir para uma ação fundamental: a compra pelo BCE (Banco Central Europeu) de títulos de dívida privada e pública das economias mais problemáticas, como Grécia e Portugal.
Às voltas com sérios problemas fiscais, quando esses países tentam levantar recursos no mercado internacional, oferecendo títulos com promessas de juros para grandes investidores globais, são forçados a pagar taxas muito altas para encontrar compradores.
Endividando-se a juros muitos altos, e a prazos muito curtos, os países caem ainda mais na desconfiança dos mercados e agências de "rating" (nota de risco de crédito) como S&P e Moody's rebaixam suas classificações.
O BCE já avisou que essas compras de títulos públicos começaram já nesta segunda-feira, de modo a estimular a queda dos juros pagos nesses papéis.
Outra parcela dos 750 bilhões de euros será utilizada para empréstimos de emergência para as economias mais problemáticas da região, como a Espanha e Irlanda, além das já citadas Grécia e Portugal.
Pelo menos 60 bilhões de euros foram orçados especificamente para esse objetivo, sendo que outros 440 bilhões foram reservados para um sistema de garantias, de modo a constituir o que já se intitula um "mecanismo de estabilização europeu".
O pacote europeu também prevê que os países envolvidos assumam planos de redução dos deficits nacionais e de reformas estruturais em ritmo acelerado. Lisboa e Madri já se comprometeram com reduções do deficit público para 2010 e 2011, prometendo anunciar maiores detalhes no próximo dia 18.
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