BNDES briga para sair do capital do Independência

Publicado em 19/05/2010 11:55

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) recorreu à Câmara Arbitral do Mercado de Capitais da Bovespa para tentar recuperar R$ 250 milhões que investiu na compra de participação no frigorífico Independência em novembro de 2008, pouco antes de a empresa de carnes entrar com pedido de recuperação judicial na Justiça, no fim de fevereiro de 2009.<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Desde o ano passado, a área jurídica da instituição de fomento move processo para tentar convencer os controladores do Independência a fazer uma recompra das ações do frigorífico em poder do banco e que representam entre 11% e 13% do capital da empresa.

Procurado, o banco não se manifestou, mas uma fonte do setor de carne bovina informou que o objetivo do BNDES, com o processo, é sair do capital do frigorífico. Por isso, disse, os controladores do Independência buscam um investidor para comprar a fatia do banco no frigorífico, o que indica que há disposição para um acordo entre as partes na câmara arbitral.

A iniciativa do BNDES de dar entrada com o processo em uma corte especializada, o que ocorreu há 40 dias, apoia-se em cláusula do acordo de acionistas do Independência, que permite às partes exercer o "direito de regresso (recompra)" das ações. A discussão gira em torno de participações acionárias do frigorífico. As partes já foram intimadas pela Câmara Arbitral da Bovespa, que procurada manteve sigilo sobre o processo.

A cláusula de "regresso de ações" do acordo de acionistas é acionada quando um dos sócios não cumpre condições acertadas para assegurar o sucesso da sociedade, como foi o caso do pedido de recuperação judicial do frigorífico, que surpreendeu o banco. Na ocasião, o BNDES se preparava, através da BNDESPar, para fazer um segundo aporte de capital de R$ 200 milhões no frigorífico, o que totalizaria uma subscrição de ações na empresa de R$ 450 milhões ou 30% do capital.

Em comunicado, datado de 2 de março de 2009, o BNDES informou sobre a suspensão da segunda operação de subscrição de ações da empresa, que de acordo com a nota "estava condicionada ao cumprimento de determinadas condições, as quais não se verificaram". Também esclareceu no texto que o primeiro aporte de capital para o Independência ocorreu quando o frigorífico apresentava "confortável posição de caixa".

Mesmo antes de a recuperação judicial do Independência ser aprovada pelos credores, em novembro de 2009, o BNDES já indicava o desejo de sair do capital do frigorífico. Segundo a mesma fonte do setor de carne, o banco tem interesse em que seja encontrada uma solução para o Independência, que tem nove unidades de abate de bovinos no Brasil e chegou a faturar R$ 1,5 bilhão entre janeiro e setembro de 2008. "O BNDES tem conhecimento de que existe um potencial comprador", disse.

De acordo com essa fonte, os controladores do Independência já negociam a venda da participação do BNDES com terceiros e até mesmo uma fatia maior, dos próprios controladores, poderia entrar no negócio. Depois de uma forte crise em 2008, diz, o setor de carne bovina está melhorando, com crescimento do mercado interno e aumento de preços no exterior. Portanto, um bom momento para buscar a recuperação.

Procurado, o presidente do Independência, Tobias Bremer, disse que não comentaria o processo do BNDES.

Em recuperação judicial desde novembro, a empresa vem tentando obter recursos para pagar os credores. Em março, conseguiu emitir um eurobônus de US$ 165 milhões no mercado internacional, e com ele pagou dívidas com pecuaristas e outros fornecedores que venciam em 31 de março, conforme previsto no plano de recuperação. O recurso também foi usado para capital de giro.

No total, as dívidas do Independência com credores chegavam a R$ 3 bilhões. No plano de recuperação, os credores financeiros (com créditos de R$ 2 bilhões) perdoaram 50% das dívidas. Mas ficou definido que se houver venda do controle, estes terão direito a um bônus de subscrição, uma espécie de ação do frigorífico. Nesse caso, 50% do valor da operação será dividido entre os credores financeiros.

 

Fonte: Valor Econômico

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Wall St salta com dados de empregos nos EUA reforçando hipótese de cortes nos juros
Dólar cai ao menor valor em quase um mês com dados fracos de emprego nos EUA
Ibovespa fecha em alta com melhora em perspectivas sobre juros nos EUA
Taxas futuras de juros têm nova queda firme no Brasil após dados de emprego nos EUA
Brasil e Japão assinam acordos em agricultura e segurança cibernética