Crise favorece livrecomércio entre União Europeia e Mercosul
Em uma rápida visita ao Rio de Janeiro para participar da Aliança de Civilizações na semana passada, Cravinho transmitiu sua mensagem, de que o pior da crise "já passou", em palestra a estudantes da Universidade Estácio de Sá. Há cinco anos no governo português, hoje ele avalia que a retomada das negociações em busca de um acordo de livre comércio ainda enfrenta fortes obstáculos, liderados pela França, mas destaca que a República Portuguesa apoia a retirada de subsídios agrícolas. "Temos que aceitar que alguns agricultores terão de mudar de atividade", disse.
A crise ameaça um acordo entre União Europeia e Mercosul?
Não acredito que seja uma ameaça. Em primeiro lugar, é uma crise internacional, não é produto das políticas desenvolvidas em um só pais. Governos gregos contribuíram para o grau de severidade por lá, mas é uma crise que vem de fora. Tem origem, de um lado nos problemas do setor financeiro internacional e de outro lado, na constituição de uma moeda comum. A solução também tem de ser internacional. Medidas antidéficit vão reduzir o poder de compra em muitos países europeus nos próximos dois ou três anos e isso dificulta a recuperação econômica, mas ao mesmo tempo torna mais importante a busca por soluções. Daí a achar que um acordo comercial agora tem mais possibilidade de sucesso. É uma oportunidade.
A França é o maior obstáculo? A venda dos caças Rafale facilita um acordo?
A venda dos caças faz com que França tenha hoje uma disposição mais favorável do que se esse negócio não existisse. Mas mesmo assim é um país que tem uma enorme relutância à alteração da política agrícola comum. É sim um dos principais obstáculos dentro da União Europeia, mas não está sozinha. Tem a Irlanda, a Espanha...
Que contrapartidas esperam?
Não podemos antecipar o conteúdo exato das negociações. Sabemos que tem de haver uma maior abertura a produtos industriais para importação e envolvimento de empresas europeias.
Qual o interesse de Portugal?
No passado, a agricultura teve maior importância em Portugal, mas estamos dispostos a aceitar algumas perdas no campo agrícola em troca de maior liberalização no Mercosul em produtos manufaturados. Temos de dar passos ousados para criar uma dinâmica positiva, que há vários anos não existe. Estamos bloqueados nas mesmas posições há anos.
Que perdas estão dispostos a aceitar?
Temos agricultores em Portugal cuja subsistência depende da política agrícola comum, mas o mundo é feito de mudanças, como Luís de Camões já dizia. Não podemos garantir pra sempre uma forma de vida que não é economicamente viável. Temos de aceitar que alguns agricultores terão de mudar de atividade, como aqueles ligados à criação de gado de corte e de leite.