Brasil e Argentina discutem comércio e barreiras informais a alimentos

Publicado em 24/06/2010 09:14
Quatro ministros do Brasil e da Argentina se reúnem hoje, em São Paulo, em meio aos rumores sobre as barreiras impostas informalmente pelo país vizinho à entrada de alimentos importados. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Câmara de Importadores da República Argentina (Cira) se contradizem sobre a vigência das restrições - já desmentidas categoricamente pela presidente Cristina Kirchner.

O fato é que o déficit comercial da Argentina com o Brasil alcançou US$ 919 milhões nos cinco primeiros meses do ano e supera em 24% o saldo negativo registrado em todo o ano passado. As autoridades argentinas se preocupam com o resultado, que acompanha a rápida deterioração do comércio exterior do país. Até maio, há superávit de US$ 6,1 bilhões. Enquanto as exportações cresceram 17% na comparação anual, contudo, as importações subiram 44%.

"O nosso objetivo é trabalhar em medidas que nos permitam reequilibrar o desenvolvimento industrial de ambos os países e equiparar a balança comercial", reconheceu sem muitos pudores, nesta semana, a ministra argentina da Indústria, Débora Giorgi. Ela chegará acompanhada do ministro da Economia, Amado Boudou. Do lado brasileiro, estarão os ministros do Desenvolvimento, Miguel Jorge, e da Fazenda, Guido Mantega.

De acordo com comunicado do Ministério do Desenvolvimento, serão tratados temas como regime automotivo, comércio dentro do Mercosul, financiamento regional e implementação do Banco do Sul. Mas um dos assuntos que ainda despertam grande preocupação no governo brasileiro são as travas a alimentos importados sem similares fabricados na Argentina.

Nunca houve medida formal e o que surgiu foi um vazamento de que o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, havia determinado aos importadores não trazer, a partir do dia 1º de junho, mercadorias que tinham concorrentes nacionais.

A medida provocou mal-estar imediato com o governo brasileiro, que chegou a preparar medidas de represália aos argentinos. A pequena crise comercial fez com que Cristina Kirchner viesse ao Rio, para conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tentando acalmar os ânimos. Na ocasião, ela jurou que as barreiras não existiam.

O diretor de relações institucionais da Cira, Miguel Ponce, disse que as barreiras foram levantadas e acabou a retenção de caminhões brasileiros na fronteira. O destravamento ocorreu, segundo Ponce, após o compromisso dos importadores e das indústrias exportadoras de usar o sistema de pagamento em moedas locais - transações em pesos e em reais - para a compra de alimentos processados. Cerca de 30 empresas, que representam 80% do comércio bilateral no segmento, incluindo grandes companhias como Kellog " s e Bauducco, enviaram à Casa Rosada carta assumindo o compromisso.

Para as autoridades argentinas, isso tem a vantagem de evitar a saída de divisas. "Isso foi muito bem visto pelo governo", relatou Ponce. O problema, acrescentou o executivo da Cira, é que poucos bancos trabalham com esse sistema e há mais dificuldade do que resistência dos importadores em dispensar o uso de dólares. "Ainda não damos o assunto totalmente por resolvido, mas o fato é que a data fatídica de 1º de junho passou sem que tenha havido ruídos."

"Da nossa parte, causa estranhamento esse tipo de declaração", rebateu Ricardo Martins, diretor de relações institucionais da Fiesp. Segundo ele, não foram as barreiras que sumiram, mas o comércio que diminuiu muito. Levantamento da entidade com as empresas do setor indica que elas perderam US$ 2 milhões em cancelamento de pedidos e renovação de vendas.

A Fiesp suspeita que supermercados e atacadistas estão sendo pressionados por Moreno a não fazer mais encomendas e acatam a orientação oficial para evitar problemas. Preparados para massas, enlatados, chocolates e guloseimas têm sido afetados. É algo irrisório para o total das exportações brasileiras, admite Martins, mas "pode causar estragos nas empresas que exportam alimentos para a Argentina".

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Fonte:
Valor Econômico

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