Cresce dúvida sobre rumo da Selic

Publicado em 16/07/2010 09:20
O mercado chega às vésperas da reunião do Copom ainda fechado na aposta de que a taxa Selic será elevada em 0,75 ponto percentual, para 11%, na semana que vem. Mas cheio de dúvidas sobre o que virá a seguir. Todos os 33 analistas consultados pelo Valor sustentam essa projeção. Já em relação aos próximos passos da política monetária, não há consenso. Mais do que isso, mesmo sem ter mudado suas previsões, boa parte dos analistas já trabalha com um cenário alternativo, que contempla um aperto monetário mais brando. E, quem sabe, que o Copom já dê algum sinal nesse sentido na reunião que termina na quarta-feira que vem.

As dúvidas sobre o rumo que a política monetária vai tomar ganharam força nos últimos dias, diante da constatação de que a inflação corrente perdeu ímpeto; e dados de atividade mostraram desaceleração. Esses indicadores vieram a público com informações no exterior de que a recuperação econômica global seria mais lenta do que o esperado. E fortaleceram o argumento de que a atividade doméstica entrou em processo de acomodação, reduzindo assim a necessidade de uma Selic ainda mais alta.

O Bradesco trabalha, por segurança, com Selic de, no máximo, 12% em dezembro de ajuste total. Mas não descarta que o ajuste do juro possa terminar já nesta reunião do Copom ou em setembro, com Selic a 11,50%. Octavio de Barros, diretor do Departamento Econômico do Bradesco, vê a acomodação doméstica e externa como um fato irrefutável. "Não dá para descartar nada. Alta da Selic em outubro está se tornando gradualmente menos provável por razões estritamente técnicas. Se algo vier a ser necessário no ano que vem, o que também não dá para descartar, possivelmente o adicional não será nada muito relevante", avalia.

Barros pondera que o crescimento brasileiro já mudou de patamar e deve estar bem mais próximo do potencial. E existe a possibilidade de algo estar mudando (positivamente) do lado da oferta, em função de forte competição e investimentos. Com base nisso, Barros afirma que não se surpreenderá se o ajuste total de juros for menor do que o esperado, "talvez pelo excesso de ceticismo quanto a possibilidade de operarmos no Brasil com juros reais mais convergentes com o que se pratica em países emergentes qualificados".

O economista-chefe do Banco Safra de Investimento, Cristiano Oliveira, espera que a Selic chegue ao final do ano em 12,25%, o que significaria um aperto total de 3,5 pontos percentuais nos juros. Mas ele diz que há um "viés de baixa" nesse cenário, por causa do rumo da economia externa. "Há dois meses, tínhamos dúvidas sobre qual impacto do contexto internacional sobre a inflação. E, hoje, parece claro que ele é deflacionista", afirma. Oliveira observa que, embora os preços de commodities tenha se recuperado nas últimas semanas, o câmbio apreciado reduz o preço em reais desses produtos. E isso deve beneficiar a inflação no atacado nos próximos meses.

Tatiana Pinheiro, economista do Santander , avalia que os fundamentos que sustentam a atividade seguem fortes. "Não vemos nenhum efeito permanente de desaceleração", afirma. "O mercado de trabalho está forte, temos reajustes salariais importantes no segundo semestre e a concessão de crédito continua sinalizando expansão da ordem de 20% no ano. Essas são forças permanentes de promoção da atividade", pondera a economista, cuja projeção para a Selic ao final do ano está no teto do levantamento, em 12,75%.

Marianna Costa, economista da Link Investimentos, também vê, por trás dos indicadores, efeitos sazonais e estatísticos. "A atividade e a inflação vieram fortes no início do ano. Vemos agora, ao lado de dados voláteis, atividade em acomodação. Mas não dá para afirmar que já estamos em desaceleração. Isso também vale para a inflação".

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
Valor Online

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário