Planos para o campo: Agricultura é destaque nos programas de governo dos candidatos
Além de garantir os mecanismos de sustentação de preços, Serra fala em controlar a valorização do Real - uma das principais queixas da agropecuária. "A agricultura não é como a indústria, que pode contrair sua produção para segurar preços. Depende de clima, de concorrência", disse Serra, em sabatina na Confederação Nacional da Indústria (CNA). Procurada pela reportagem, sua assessoria não indicou ninguém para detalhar suas propostas.
O setor é tido como um dos mais resistentes ao governo Lula. A CNA, por exemplo, é presidida pela senadora Kátia Abreu (DEMTO). Já Dilma recebeu o apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e da Confederação de Trabalhadores na Agricultura (Contag). Sem oferecer metas ou prazos, ela diz que sua prioridade será o Programa Nacional de Agricultura Familiar e fala em apoiar o agronegócio e em uma "política agressiva" de exportação, mas não menciona planos específicos.
Após ter chefiado o Ministério do Meio Ambiente, Marina não faz esforços para agradar aos grandes produtores agrícolas. "Fazer propostas que agradem de forma momentânea é desonesto com o próprio setor. Não podemos permitir o crescimento baseado no desmatamento", afirma Tasso de Azevedo, um dos coordenadores do programa de governo verde. Entre as propostas de Marina estão o fortalecimento de institutos de pesquisa, como a Embrapa, e o aumento da produtividade na criação de gado.
Seguro
Há consenso entre especialistas que o agronegócio precisa de um sistema de seguros para evitar a excessiva variação na lucratividade. "Isso é absolutamente fundamental", afirma José Vicente Ferraz, consultor da Agra-FNP. Ele diz que a iniciativa só pode ser financiada pelo Tesouro Nacional e esclarece que esse incentivo não é considerado subsídio pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Ferraz se diz favorável à sugestão de José Serra de quebrar a patente de defensivos agrícolas. Ele admite ser tema de difícil abordagem, mas argumenta que os preços pagos pelos agricultores tornam o produto nacional menos competitivo. "Os Estados Unidos, por exem plo, poderiam adotar sanções contra o Brasil, mas do ponto de vista da produção seria muito bom."
Paulo Molinari, consultor da Safras & Mercado, discorda: "Não vejo com bons olhos. Poderia prejudicar mais que ajudar". Para ele, a quebra de patentes poderia levar a uma queda nos investimentos externos.
Ferraz critica a proposta de Marina Silva de impedir a expansão da fronteira agrícola. "Se a candidata soubesse fazer conta, veria que isso é inviável". Ele defende desmatamento de todas as regiões aptas para a agropecuária. Já Molinari apoia a criação de áreas de preservação, mas diz que a legislação ambiental precisa ser flexibilizada.