É lamentável Dilma depender de apadrinhamento de Lula, diz 'Economist'

Publicado em 01/10/2010 14:15 e atualizado em 01/10/2010 15:04
Revista acredita que Dilma não tem o magnetismo de Lula. Em editorial na sua edição desta semana, a Economist diz lamentar a dependência da candidata presidencial do PT, Dilma Rousseff, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O fato de Dilma depender tanto do apadrinhamento de Lula é lamentável, pois o Brasil precisa de um líder forte e independente", diz a principal revista de economia e política da Grã-Bretanha. Segundo a Economist, caso seja eleita, Rousseff precisará sair da sombra de Lula "para conseguir a autoridade necessária" ao cargo. A revista diz ainda que Lula "precisa deixá-la se afastar", uma atitude que seria "seu último presente a país".

Intitulado A Passagem, o texto afirma que Lula deu ao Brasil continuidade e estabilidade e que agora ele precisa "dar independência" a sua sucessora.

Três graves problemas...

 Se eleita, Dilma terá de lidar com ao menos três graves problemas, segundo a Economist, e a corrupção seria o primeiro. A revista afirma que o PT tem uma "tendência de inchar os órgãos federais com indicados políticos".


A segunda preocupação seria com o papel do Estado na economia - que cresceu no segundo mandato de Lula. O terceiro "teste" é a política externa, por causa da aproximação do presidente com "autocratas" como os presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Para a revista, ainda não está claro se Dilma tem "a força e vontade para lidar com esses problemas".

Em outra matéria, a Economist detalha o legado do governo Lula e explica como Dilma se beneficiou dele, apesar de especialistas acreditarem, há um ano, que era impossível transferir sua popularidade. No entanto, a matéria afirma que a presidenciável não tem o "magnetismo" de Lula nem sua "habilidade de negociar". Por fim, ela especula sobre como seria o novo governo, apostando em nomes como Antonio Palocci e José Dirceu para integrar seu gabinete. 

Lula diz à 'Economist' que não interferirá no próximo governo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista ao site da revista britânica "The Economist", publicada na quinta-feira, que não pretende interferir no governo do seu sucessor. 

"Um ex-presidente deve se recolher para algum lugar confortável e tranquilo, e não ficar dando palpite sobre política nacional, deixando seja lá quem for eleito governar o país, cometer erros e acertar, mas deixando eles governarem o país", disse Lula. O presidente prometeu que continuará ativo na política, mas disse que ainda não pensou no que pretende fazer após o dia 1º de janeiro. Ele afirmou que não quer tomar nenhuma decisão precipitada sobre seu futuro.

Lula disse que como ex-presidente trabalhará para tentar aprovar a reforma política. "Agora eu estou me comprometendo, quando eu não for mais presidente, a começar a convencer o meu próprio partido, porque eu acho que esta é a principal reforma que temos que fazer no Brasil, para que possamos [depois] fazer as demais reformas", disse Lula ao site da revista britânica.
Lula diz que depois de convencer o PT sobre a importância das reformas, ele poderá trabalhar junto com os demais partidos na aprovação da reforma.

O presidente considera que só uma reforma política poderá gerar "partidos fortes e um Congresso forte, para que quem sente nesta cadeira [de presidente] possa firmar acordos importantes com os partidos políticos e os líderes dos partidos". Sem a reforma, Lula diz que o fator decisivo na política brasileira é "a força individual de cada cidadão, de cada região".

FRUSTRAÇÃO
O presidente disse à revista que se sente "frustrado" por não ter visto a reforma política aprovada no seu governo, e atribui isso ao fato de "as pessoas não gostarem de mudança".

"Eu aprendi muito e acho que isso vai permitir que, uma vez que eu não seja mais presidente e tenha mais liberdade, eu discuta temas que, como presidente, eu não queria discutir, porque eles não estavam sob a minha competência", diz Lula à revista.

Lula também sugere que como ex-presidente poderá ser mais influente na discussão sobre a reforma das leis trabalhistas, ajudando empregadores e trabalhadores a chegar a um consenso.
Lula revela que "a sua maior surpresa" ao chegar ao governo foi se deparar com "as dificuldades que o próprio Brasil cria para si, com legislações excessivas" que atrasam as decisões do Executivo.

PETROBRAS E ORIENTE MÉDIO
Na longa entrevista ao site da "Economist", o presidente brasileiro aborda diversos temas, como o maior controle do Estado sobre a Petrobras, as negociações de paz no Oriente Médio e sugestões para o seu sucessor.

Sobre a Petrobras, o presidente defende que o "petróleo pertence ao governo" e afirma que a receita das descobertas do pré-sal precisa beneficiar a população brasileira. O novo marco regulatório do setor, para Lula, é melhor do que a estrutura anterior, que "funciona bem apenas para as empresas petrolíferas".

Lula criticou o processo de negociação de um acordo de paz no Oriente Médio. Segundo o presidente brasileiro, as discussões não incluem todas as vozes necessárias para se chegar à paz.
"Cada vez que eles sentam para conversar, eles ganham um Prêmio Nobel. Eles deram dez Prêmios Nobel pela paz em Israel e Oriente Médio, e a paz não aconteceu. Essas pessoas deveriam devolver seus Prêmios Nobel, já que não há paz."

Sobre o próximo presidente brasileiro, Lula diz que o seu sucessor deve "fazer política com o coração, cuidar dos mais pobres e praticar a democracia até o fim absoluto". O presidente diz acreditar na vitória de sua candidata, Dilma Rousseff, que "surpreenderá o mundo" quando chegar ao poder.

"A Dilma é tão democrática quanto eu, tão socialista quanto eu e tão responsável quanto eu. Talvez por ser mulher ela possa fazer mais, porque precisamos dar mais poder às mulheres na política", diz Lula. Lula diz que seu sonho é ver o próximo presidente ajudar mais pessoas pobres a chegarem à classe média pobre. Ele disse que não pensa, no momento, em se candidatar à Presidência em 2014. "Terei 68 anos. Aos 68, os anos pesam. Se eu eleger a Dilma e ela for boa, ela terá que ser candidata à reeleição."

BBC Brasil


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