Brasil pode seguir EUA e mover ação antidumping contra China

Publicado em 01/11/2010 08:05
Cresce no número de países que estão fechando o cerco ao papel revestido de origem asiática, cujas vendas têm avançado de maneira significativa também no Brasil e acenderam a luz de alerta nas companhias que têm produção nacional. Depois de a União Europeia abrir investigação de dumping contra o papel cuchê chinês, os Estados Unidos anunciaram recentemente medidas compensatórias, que incluem tarifas antidumping e antissubsídio que, quando combinadas, chegam a até 314%. Na Argentina, medidas similares foram adotadas no começo do ano.

Por aqui, a indústria papeleira analisa os números da balança comercial do setor e pode adotar postura semelhante à de companhias americanas e europeias, sobretudo em razão do risco de maior direcionamento do excedente da produção de China e Indonésia para o mercado brasileiro, na esteira das ações restritivas movidas no exterior. "Diante do cenário de câmbio, de desvio de papel imune e de medidas em outros países, a situação brasileira torna-se gravíssima", afirma a presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Elizabeth de Carvalhaes.

Conforme fonte da indústria, o papel cuchê asiático estaria chegando ao mercado brasileiro com preços 20% menores que o produto nacional, reflexo dos elevados benefícios concedidos à indústria chinesa, mão de obra mais barata naquele país e custos elevados no Brasil. Nos casos em que há desvio de finalidade do papel imune, outro problema enfrentado pelas papeleiras nacionais, a diferença de preços chegaria a 30%.

"Neste momento, o câmbio potencializa ainda mais as importações", ressalta Elizabeth. De janeiro a setembro, segundo dados da Bracelpa, as importações brasileiras de papel de imprimir e escrever, categoria na qual está incluído o cuchê, cresceram 56,5%, para 540 mil toneladas. No mesmo intervalo, as vendas domésticas subiram 2,3% e somaram 1,166 milhão de toneladas. A produção nacional, por sua vez, cresceu 4,6% (1,993 milhão de toneladas). "O Brasil já perdeu mais de 55% do mercado e Europa, China e Estados Unidos aparecem entre os maiores vendendores", destaca a executiva, lembrando que cabe à indústria o pedido de ação antiduming ao governo.

Nos Estados Unidos, a ação contra papel cuchê oriundo da China e Indonésia foi movida pelo Departamento de Comércio após pedido da Appleton Coated LLC, NewPage Corporation e Sappi Fine Paper North America, que tiveram apoio do combativo sindicato United Steelworkers (USW). Juntas, as três companhias empregam cerca de 6 mil pessoas na área de produção, distribuídos em 20 fábricas localizadas em sete Estados americanos. A expectativa, segundo fonte da indústria papeleira, é a de que a União Europeia acompanhe a decisão dos Estados Unidos.

As queixas contra o papel asiático levam em conta, principalmente, os elevados subsídios concedidos à indústria. Conforme estudo do instituto de pesquisas americano sem fins lucrativos EPI (Economic Policy Institute), entre 2002 e 2009, os subsídios do governo chinês às papeleiras locais somaram US$ 33,1 bilhões, parte significativa (US$ 16,2 bilhões) em apenas dois anos, entre 2007 e 2008. O levantamento indica que os subsídios para eletricidade totalizaram US$ 778 milhões, entre 2002 e 2009. Para aço, ficaram em US$ 3 bilhões no mesmo intervalo. E nada menos que US$ 25 bilhões relativos à compra de celulose foram subsidiados desde 2004.

Na esteira dos benefícios concedidos pelo governo, a China viu sua indústria de papel triplicar a capacidade produtiva e, em 2008, finalmente desbancar os Estados Unidos da posição de líderes mundiais. No ano passado, mostra o estudo, o país asiático respondeu por 17% da produção mundial do insumo. O setor, contudo, é extremamente pulverizado e geograficamente fragmentado: 88% das companhias são de pequeno porte e 12%, de médio porte. As 10 maiores indústrias, conforme o estudo, controlam cerca de 20% do mercado chinês e, a despeito da sobreoferta mundial de papel, a China tem adicionado em média 26% de capacidade adicional por ano.

Em entrevista recente sobre o balanço da Suzano Papel e Celulose, o presidente da companhia, Antonio Maciel Neto, afirmou que a situação é preocupante neste momento. Mas ressaltou que, no longo prazo, o próprio mercado chinês deverá absorver a maior parte da produção local de papel, que hoje acaba exportada para diferentes regiões.

Outro tipo de papel cuchê, o LWC (com menor gramatura, usado em revistas) vindo da China tem incomodado especialmente a sueco-finlandesa Stora Enso, única fabricante instalada no país. No fim de 2009, a companhia informou que estava acompanhando o movimento da indústria nacional, mas ainda não havia decidido participar de um eventual pedido de ação antidumping. Até agora, não há nenhum processo dessa natureza declarado no Brasil.

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Fonte:
Valor Online

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