Desequilíbrio entre moedas afeta economias de norte a sul

Publicado em 12/11/2010 09:33
O desequilíbrio na precificação das moedas mundiais foi o ponto nevrálgico das discussões na reunião do G20, que ocorreu nesta quinta e sexta-feira, em Seul. O foco desta discussão, apontam economistas, gerou polêmica por conta do câmbio do maior exportador do mundo, a China, que mantém sua moeda artificilamente com baixo valor. "Esse desequilíbrio já está sendo sentido nas economias de norte a sul", afirma Felipe Tâmega, economista-chefe do Modal

Incomodado e pressionado pelos baixos índices de aprovação nos Estados Unidos e pelos indicadores de que a economia do país não vai bem, o presidente americano, Barack Obama, afirmou nesta quarta-feira (10) que a força do dólar e a economia mundial dependem da recuperação econômica dos Estados Unidos, em uma carta enviada aos demais membros do G20 antes da reunião de cúpula de Seul.

"Uma recuperação forte cria postos de trabalho: renda e consumo é a contribuição mais importante que os Estados Unidos podem fazer para a recuperação global. A força do dólar continua sendo uma das bases da economia dos Estados Unidos", diz a carta. A maior economia do mundo tem 15 milhões de desempregados (9,6% da população) e a renda e consumo permanecem baixos.

Os EUA têm criticado à política chinesa de manter o yuan depreciado para não perder competitividade nas exportações e recebido apoio de outros países. No entanto, após o anúncio do Fed de injetar US$ 600 bilhões na economia norte-americana até meados de 2011, o país passou a receber uma série de acusações dos países do G20, especialmente os emergentes.

Com um deficit de 3% (em relação ao PIB) em sua conta corrente, que inclui um forte deficit comercial com os chineses, os Estados Unidos culpam Pequim por prática de "comércio injusto'" ao manter o yuan desvalorizado.

Para países como China, Brasil e a União Europeia essas iniciativas da China e dos EUA alimentam o ciclo de desequilíbrios e impedem um consenso.

Segundo os economistas, por ser o maior exportador do mundo, o controle sobre a moeda chinesa é um dos principiais responsáveis por deficit nas balanças comerciais de diversos países.

Para Celso Grisi, economista da FIA (Fundação Instituto de Administração) e da USP (Universidade de São Paulo), o maior controle sobre gastos públicos pelos países ricos poderia atenuar esse cenário negativo. "Além disso, se a China estivesse disposta a aceitar uma maior de valorização de sua moeda também seria razoável."

O iene (japão) também se desvalorizou muito neste ano devido a falta de confiança mundial na economias do país. Os Estados Unidos fizeram pressão no governo japonês para valorizar sua moeda e, assim, diminuir o deficit comercial com o país nipônico. No último dia 15 de setembro as autoridades japonesas intervieram no mercado de câmbio para enfraquecer o iene pela primeira vez em seis anos e meio.

Já o euro (16 países da zona do euro) sofreu forte desvalorização por conta da recessão na Europa. No entanto, o bloco promoveu discussões entre os Estados-membros e traçou um plano de salvação para a Grécia e discute a regulamentação da especulação nos mercados financeiros. Essa movimentação- aliada às medidas impopulares, mas estruturais, de corte de gastos do governo, de salários e reformas na aposentadoria dos países mais ricos -- afastou o temor de aprofundamento da crise na Europa, que tem se recuperado gradativamente.

BRASIL

O governo brasileiro -- que também se posiciona contra a política cambial chinesa --, tem apresentado uma série de medidas para conter a alta do real, porém, elas não têm surtido o efeito esperado.

Em outubro, o governo Federal anunciou o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para investimento estrangeiro em renda fixa para 6%. O tributo já havia subido de 2% para 4% no começo do mês. O governo também aumentou o IOF (de 0,38% para 6%) sobre a margem de garantia para investimentos no mercado futuro para estrangeiros.

A ideia é desestimular esse tipo de investimento --que oferece alta rentabilidade devido às altas taxas de juros praticadas no Brasil-- para tentar conter a forte entrada de dólares no país. "O Brasil tem uma das maiores taxas de juros do mundo, que acabam sendo mantidas nesse patamar para sustentar a dívida pública. Ou seja, o problema não é só pela moeda chinesa está depreciada", diz Grisi, para quem a discussão sobre como equilibrar as diferenças cambiais entre os países é um problema "sem uma solução única".

O ingresso de capital externo leva à valorização do real, o que, entre outras consequências, reduz a competitividade das exportações brasileiras. Nos últimos meses, o Brasil tem registrado entradas recordes de recursos externos, puxando a cotação da moeda dos EUA para baixo.

Especialistas descartam a volta de um regime internacional de câmbio fixo, que impõe uma série de desvantagens.

Economistas são unânimes ao apontar uma negociação mundial, onde todos as potências teriam de ceder. "Todo mundo sabe o que tem de ser feito, mas isso não deve ocorrer. O resultado do G20 deve ser, mais uma vez, um tratado de intenções", avalia Tâmega, do Modal.

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Fonte:
Folha de São Paulo

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